Cap 11

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A barba começa a roçar o pescoço e orelha, acompanhada do "my dear Amy" mais perfeito que já havia saído dos lábios de alguém.

Os pelos arrepiam, do cabelo à ponta do pé.

Eu fecho os olhos... De novo, sonho. Mas estou acordada.

Então, eu vivo isso. É real.

Nem dez segundos sob o ataque da barba mágica, ele me vira e me assola com um beijo de arrancar até o último suspiro de ar dos meus pulmões.

Eu o beijo de volta. Entregue. Sem medo, receio, pudor. Nada. Só o desejo. Bruto. Puro. Absoluto. Onipotente.

Esse homem brinca com o meu juízo e quebra qualquer barreira do recato, do bom senso e da compostura que essa moça de família já teve algum dia.

— Achei que não fosse vir... — em meio ao sorriso desenhado que emerge da barba espessa, sob as luzes intermitentes da pista de dança.

— Jeff...! — berro perto da orelha, por causa da música alta, meio indignada, mordendo os lábios e olhando dentro dos olhos dele... — Não tinha a menor chance de eu não aceitar...

E outro sorriso lindo de moleque levado surge, sobrepondo-se à imagem de bad boy mal encarado que Jeff resolveu adotar... Os olhos escuros brilhando de desejo por mim; o mesmo cabelo preso; a mesma barba máscula, de homem das cavernas, a tatuagem pulando da gola da camiseta de manga curta preta, por cima de outra, de manga comprida, cinza; a calça jeans justa, cinto pesado de metal e couro... Um outro Jeff. Informal, descolado. Mas ainda o mesmo Jeff. O meu Jeff. Que invade meus sonhos e minha intimidade.

Eu quero saber tudo dele. Quem ele é... O que faz... Onde mora...

Mas esse lugar, confesso que é o último em Nova York, talvez no mundo, propício para qualquer conversa ou um mísero indício de um encontro convencional.

Nada parece ser convencional com ele...

— Por que aqui? — tento entender.

— E o lugar importa? — ele me quebra com uma pergunta.

Em que importa mesmo? É ele que eu quero...

— Sinceramente... Não... — e entrego a alma nas mãos dele com essas palavras.

Ele sorri com o rosto inteiro, olhos, lábios, bochechas; passa a mão pela minha nuca e puxa meus lábios para o dele.

Outro beijo de perder a noção tempo-espaço.

***

— Acho que só não acertei na roupa... — me entrego, sem graça.

— Linda, Amy... A mais linda... De qualquer jeito...

Enrubesço com o elogio. Ele percebe, me aperta ainda mais contra o corpo e deixa um beijo na bochecha, não me permitindo mais sair dali.

Fico com ele desse jeito por segundos, minutos, me saciando do desejo de estar junto outra vez. O corpo sarado parece feito de imã. A luz que atrai a libélula...

Alguns alienígenas passam pela gente, indiferentes. Outros param e nos cumprimentam. Tratam Jeff como um deles. Ele parece permear por todos os mundos. E submundos. Tudo parece ter a cara dele. Não consigo defini-lo. Fico frustada. Mas procuro disfarçar. Não é hora de encanar, nem de cobrar nada dele. É o segundo encontro. Não sabemos nada um do outro. Ainda...

De repente, o bate estaca cessa e me traz de volta do devaneio.

Um cantor talentosíssimo assume o palco. O show começa. Um rap melódico, delicioso de ouvir. Outro estilo musical.

Os lobos uivam ainda mais alto e começam a sair da toca ocupando a frente do palco. A dança é muito sensual. Praticamente acasalam-se no meio da pista.

Eu sigo intimidada pela torre de babel, mas presto atenção no cantor. Sem perceber, meu corpo balança de leve ao compasso da música, ainda dentro dos braços deliciosos.

— Dança comigo? — o convite ao pé do ouvido.

Confirmo com um sorriso abobado. Ele dança... Uau!

— E a bolsa?

Jeff segura minha mão me arrasta até o balcão. Aproxima-se do cara que serve a bebida e conversa animado com alguns frequentadores. Um homem negro, traços lindos, cabelo bem cortado, braços gigantescos, tatuagens, alargador de orelha e piercings, o dress code do lugar...

— Hei, bro! — o cara lança um sorriso familiar para o Jeff e o cumprimenta calorosamente com um abraço e tapas fortes, mesmo que do outro lado do balcão.

— Hei, Malcolm! — Jeff devolve.

— Quanto tempo não aparece... — Malcolm reveza o olhar entre eu e meu acompanhante.

— Pois é... Ocupado... — Jeff se justifica, carinha de moleque que aprontou.

— E o brotinho aí? — Malcolm ergue as sobrancelhas para mim.

— Essa é Amy... Amy, esse é Malcolm. Amigo meu desde os tempos de Connecticut.

Hum... Mais uma informação nova por aqui...

Estico a mão para Malcolm que a beija no dorso.

— Agora sim... Faz sentido o cheiro de paixão no ar... — e Malcolm balança a mão perto do nariz.

Jeff sorri sem graça, mas não repreende o amigo.

Hum... Isso é bom...

— A bolsa. — Jeff a pega da minha mão e entrega para Malcolm. — Vamos dançar.

— Beleza... Vão lá! — Malcolm nos libera, ajeitando minha clutch debaixo do balcão. Mas antes de darmos as costas... — E cuida bem dele, Amy... — me adverte. — Nunca vi esses olhinhos brilharem assim... — e tira uma, mandando um beijo debochado para o Jeff, fazendo meu acompanhante enrubescer.

— Pode deixar... — eu abro um sorriso para Malcolm, antes de ser arrastada com pressa pelo meu delicioso par.

No caminho...

— Aqui tem o nome dele... — eu comento sobre o barman.

Jeff sorri.

— Aqui é o clube dele. — devolve sem se prolongar.

— E vocês se conhecem há muito tempo? — pergunto, sem deixar o assunto morrer.

— Dezessete anos. — responde, sucinto.

— Sei... — devolvo, meio desanimada. Mas não posso desistir.

Pensa em algo Amy!

— Tem um studio de tatuagens anexo ao Club... — e insisto em saber mais sobre Malcolm. E quem sabe, sobre Jeff, por tabela...

— Sim...

— É dele?

— Hum, hum... — mas Jeff não parece muito a fim de me deixar penetrar no território nebuloso de sua vida.

— E foi ele quem fez suas tatuagens?

— Todas.

— Uau! E vocês dois são de Connecticut?

— Sim...

— Entendi...

— Vizinhos?

— Não.

— Só amigos?

— Isso aí...

Jeff definitivamente não parece entusiasmado de falar de si. Para piorar, o som alto pouco ajuda na aproximação. Sem respostas conclusivas, frustro-me por não conseguir desvenda-lo, nem quebrar a barreira desse misterioso tatuado.

xoxoxoxoxoxoxoxoxox

E ele, hein? Qual a dele com Amy...? Insegurança? Paixão platônica...? Ou só enrolação mesmo...?

Logo, logo, mais respostas por aqui... 

My Dear AmyOnde histórias criam vida. Descubra agora