Ela
Ele
Ano 2017. Mês Agosto. Local São Paulo. Um dia qualquer.
A noite já caia pela cidade, trazendo consigo o habitual frio que se instalava nessa época do ano. O barulho do trânsito do lado de fora, era quase ensurdecedor, mas a portaria do prédio era silenciosa. Um alívio.
Ela caminha distraída, mexendo em seu celular, tentando lembrar o andar de sua amiga, falha e lhe envia uma mensagem pedindo ajuda. Da boa noite ao porteiro e segue para o elevador. Aperta o botão do elevador e aguarda, segundos se passam até o mesmo se abrir a sua frente. Lá dentro é quentinho e aconchegante, diferente do frio lá fora. Pega o celular para verificar o andar que deve ir. 12º andar.
Ri de uma mensagem de sua amiga, implicando por ela estar ali pela milésima vez e ainda não ter gravado o andar. Aperta o andar e observa a porta lentamente se fechar, mas ela se abre novamente e o lugar que estava aconchegante se torna um tanto sufocante.Impossível, não consigo acreditar, logo em um elevador, tanto lugar nesse mundo, logo em um elevador. Que loucura, depois de tanto tempo e parece que nada mudou. O meu coração bate tão forte que talvez ele possa ouvir dali da porta se não estivesse tão assustado quanto eu. Seus olhos acaramelados me encaram, seu corpo não consegue se mexer e ele continua estatelado ali na porta. Pálido, era como ver um fantasma do passado bem na frente de meus olhos.
Ele corre. Está sempre correndo. E dessa forma rompe a porta de entrada do prédio onde mora. Silêncio. Da boa noite ao porteiro e observa que o elevador está ali, a porta quase se fechando, corre de novo e aperta o botão de chamada, finalmente paz e fugir do frio, a porta se abre, ele dá um primeiro passo, mas não continua. Recupera a voz de algum lugar e cumprimenta educadamente.
-Boa noite. - Cara, que loucura! Tanto lugar no mundo e dou de cara com ela aqui.
- Boa noite!
Casual demais para duas pessoas que um dia se conheceram tanto. Cumprimentos cheios de diálogos silenciosos, olhares que pareciam varrer a alma um do outro, procurando por respostas que nunca foram dadas, procurando pelo outro do passado, os quais um dia tanto se completaram e se desejaram.
- Coincidência, né? - Rio sem graça
- Talvez... Você sabe que sempre preferi acreditar no Cosmo. - Digo, ainda sem saber que tom usar nesta conversa tão inesperada.
- Ah é! Cosmo! Claro! - Socorro, alguém me tira daqui, porque não fiquei calada, melhor ficar calada e parecer idiota do que abrir a boca e dar a certeza que estou sendo.
Ele tentava se lembrar de como fazia para respirar, e quando enfim conseguiu o perfume dela, tão familiar, o invadiu, como tantas outras vezes. Ela o encarava com olhos arregalados, pensando em um meio de sair correndo daquele lugar, mesmo sabendo que não tinha como e muito menos se teria forças para tal ato.
Ele parecia outro, só ela sabia como derrubar o muro que ele insistiu em levantar, só ela conseguia ultrapassar todos os obstáculos que ele colocava. Apenas ela tinha o poder de derrubá-lo.
- Hum... - Tento buscar algum assunto, nada me irrita mais que o silêncio constrangedor de um elevador - Você vai para qual andar?
- Décimo segundo! - Respondo olhando o celular para confirmar. - Isso. Décimo segundo. - Ele tá na minha frente e eu que nem uma idiota. Acorda mulher, você não é assim, cadê sua segurança?
O clima estava pesado, antes o silêncio que era reconforte, agora era doloroso. Ela revezava o olhar entre o chão, celular e aqueles olhos, no último ela se demorava um pouco mais, mesmo sabendo o quão doloroso era.
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Elevar(a)dor
Hayran KurguEla finalmente gritou! Ele finalmente se calou! Ali, olho no olho, como sempre, eles sabiam! Haviam perdido, haviam se perdido um do outro.