Londres, por que eu fui até você? | Visão de Natália

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Por que eu fui para Londres? Para visitar, para relaxar e conhecer a cidade com o guia, fazer meu intercâmbio e não passar por tormentos vindos de qualquer alguém. É óbvio que eu não tinha a intenção de encontrar o Caio, principalmente naquele momento. E ainda por cima eu não queria encontrá-lo duas vezes seguidas no mesmo dia. E com a nova noiva dele. Mas, como minha vida é cheia de desastres, é claro que aconteceu. Eu estava em um dos restaurantes mais famosos da cidade, mesmo que eu estivesse sozinha e o resto das pessoas estivessem com os seus pares. Tocava uma música calma e antiga, do estilo que eu gostava, e as luzes revezavam entre rosa e amarelo. Tinha um grande espaço no meio do restaurante para os casais dançarem. Nos meus planos, não estava planejado eu visitar este restaurante, mas eu havia escutado tão bem dele que acabei indo. E eu deveria ter me lembrado que o Caio e a noiva dele provavelmente iriam no lugar mais romântico de Londres. Eu já estava no prato de sobremesa quando eles chegaram, com um grande donut caseiro com massa de caramelo, recheio de baunilha e cobertura de chocolate, e um café delicioso em uma xícara com detalhes de rosas. E eu também estava apreciando o meu livro favorito para momentos de tristezas, que só me deixava mais triste. Eles se sentaram na mesa e pediram o cardápio, e então o Caio me viu, e eu não consegui evitar : revirei os olhos. Ele sorriu. E então, a noiva dele olhou para trás. Eu me encolhi, e voltei a ler meu livro, tentando disfarçar. Eu realmente não queria brigas, já estava esgotada. Eu não tinha argumentos. Mas, como tudo que eu penso na verdade faz acontecer o contrário, depois de alguns minutos ela veio na minha mesa, o que me espantou tanto que quase derrubei minha xícara de café. Eu respirei fundo, e criei coragem para, ao invés de pegar minhas coisas e sair correndo dali ( me arrependo de não ter feito isso ) ou me esconder debaixo da mesa e chorar, eu fechar o livro e encará-la. Mas, aí ela veio com cinco pedras na mão e as jogou de uma vez só na minha cara :

---  Olha aqui, eu não te conheço, mas MEU namorado, ou melhor, noivo, disse muito sobre você, então trate de não tocar em um fio no cabelo dele ou você perde todos os seus! --- Após ela falar isso, eu pensei que eu iria chorar. Senti meu rosto corar e a vontade de sair correndo bater à minha porta. E então, o Caio falou :

--- Hey, Ruby, por que você fez isso? Ela não merecia. --- Ele disse, mas aí meus punhos cerraram e a primeira coisa que eu pensei foi : eu devo ser louca. Eu me levantei e dei um soco na cara dessa tal de Ruby. Todos do restaurante olharam para mim, e eu pensei em quantas noites eu teria arruinado. Mas, depois disso, eu senti que eu peso que estava sobre mim cessou. Eu me sentia mais leve. 

--- Bem, sinto muito por isso, mas eu precisava. Eu não fiz nada para te machucar antes disso, mas você me machucou. E feio. Só estou cansada de ser julgada. Me deixe na minha, o.k? Ah, Caio, e você por acaso disse a ela que eu era uma vagabunda ladra de namorados? É assim que você me enxergava? Talvez todos os meus namorados me enxergassem assim e eu não sei o porquê. --- Eu falei, e minha vontade de chorar aumentou. Me sentei. Olhei para o Caio, que estava atrás da Ruby, e ele estava em choque, provavelmente decepcionado. Olhei para a Ruby, e ela estava chorando, com a mão onde eu havia a acertado. Eles se sentaram na mesa onde estavam, e o Caio começou a consolá-la, e me encarar a cada 10 segundos. Senti os olhares das outras pessoas me atingirem, como raios-lazer. Aquele dia estava sendo uma continuação quase igual ao dia em que eu conheci o Caio e terminei com o William. Mas desta vez ninguém chegaria ali do nada e tentaria me consolar. Eu definitivamente estava sozinha. Terminei o meu jantar e pedi a conta, e fui direto para o Hotel, a pé. 

Me joguei na cama, e flutuei nos meus pensamentos. Senti como se minha vida fosse um erro, um erro cheio de erros. Cheio de catástrofes emocionais. Cheio de pensamentos obscuros e cheio de companhias indesejadas. E eu estava cheia disso tudo. Sempre que acontecia algo bom, uma avalanche me atacava de coisas ruins, é como uma maldição. Alguns meses de alegria com o William, e descubro que eu na verdade estava com um cara que me traía quase todo dia. Alguns meses de alegria com o Caio, e descubro que ele iria para Londres. Alguns meses de alegria com uma faculdade e com o Barry, e descubro que o Barry não é para mim e a faculdade não me fazia feliz. Alguns meses de alegria ( talvez ) juntando dinheiro e viajando para o intercâmbio, e descubro que o Caio está com outra, que virou sua noiva. E, por fim, algumas horas de tristeza, e a noiva do Caio vem me atormentar, e eu acabo dando um soco na cara dela. Agora, era só me dedicar à arte de desenhar e desfrutar meus conhecimentos sobre literatura para continuar escrevendo. Só que com milhares de pedras no meu caminho, e milhões de caminhos pela minha frente. Ok, talvez eu esteja poetizando demais. Então, depois de chorar um pouco, caí no sono da mesma maneira daquele sombrio dia de outono em que desastres aconteceram. Inclusive o desastre conhecido como : conhecer o Caio.

No dia seguinte...

Quando amanheceu, eu acordei com o sino tocando à uma distância considerável e nuvens carregadas cobrindo o céu azul. As ruas estavam calmas, e percebi que isso provavelmente é típico em todos os domingos, em todos os lugares ao redor do mundo. Me levantei, e apreciei um pouco a vista das casas antigas da região, com o Rio Tâmisa fazendo presença no horizonte. E então me levantei e criei coragem para seguir mais um dia, seja ele com decepções ou não. Mas, quando eu estava pronta para sair, a campainha tocou. Pensei comigo mesma : deve ser o guia, então abri a porta. Mas era o Caio.

De Repente { HISTÓRIA COMPLETA }Onde histórias criam vida. Descubra agora