Bem perto dela | Visão de Caio

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Aquele soco mexeu comigo. Pode ser que ele não tenha me atingido por fora, mas atingiu muito por dentro. Eu sabia o que a Natália estava passando. Ela aturou por muito tempo as pessoas a julgando sem ao menos conhecê-la. Na minha escola antiga, em Ottawa, Canadá, eu era julgado como o nerd viciado em quadrinhos, que só tirava notas boas e era isolado. Só me davam atenção para falar esse tipo de coisa. O grande problema era que eu me importava. Mas agora esse grande problema está na cabeça da Natália. Eu entendo ela. E eu não tinha falado mal dela para a Ruby, porém eu mencionei os problemas que ela lidava com esse tipo de coisa, e o porquê. Deve ter dado uma má impressão, mas não foi minha intenção. Eu precisava explicar isso para a Natália. Eu precisava consola-la, ela precisava de um ombro amigo, nada mais que isso. Ela estava cheia. Mas, como eu a conheço, ela não vai me perdoar tão cedo, nós nem tivemos um término de namoro descente.

No dia seguinte...

Acordei, como quase todos os dias em Vancouver, a tempo do sol nascer. Após desfrutar desse espetáculo matutino, me levantei, tomei um banho e me arrumei da melhor maneira possível. E então, andei pelas ruas de Londres, de hotel em hotel, procurando onde a Natália estava. Até que encontrei um hotel simples, mas elegante, com as paredes brancas entalhadas com desenhos de armas e plantas, provavelmente antigos, e esculturas de madeira com os símbolos de Londres. 

--- Olá, eu queria saber se neste hotel uma garota chamada Natália está hospedada? --- Falei, de frente ao balcão de mármore da pequena portaria.

--- Ah, sim senhor! O que deseja? --- Me respondeu um pequeno homem, com aparência de que já devia ter se aposentado, que até então estava de costas. 

--- Bem, eu queria visitá-la.

--- Pode subir, é a segunda porta na esquerda. É só tocar a campainha ao lado da porta, espero que ela não se incomode. A senhorita já estava esperando visitas. 

E então subi a escada do hotel, até o segundo andar. Fui na segunda porta na esquerda, e toquei a campainha. Ela abriu parecendo animada, mas logo essa expressão saiu de seu rosto quando ela me viu. A Natália tentou fechar a porta, mas eu a segurei. Eu não tinha vindo até ali para desistir. Então ela revirou os olhos e deixou a porta aberta para mim fechar, e bateu os pés a cada passo que dava pelo quarto para se sentar na cama. Eu entrei, fechei a porta e fui em direção à ela.

--- O que é que você quer aqui? --- Ela disse, se endireitando na cama. A Natália estava linda, com um moletom e calça jeans.

--- Bem, eu queria lhe pedir desculpas...

--- Pedir desculpas, Caio? Sinto muito, mas eu não quero saber. Você está prestes a casar com outra sem ao menos terminar comigo direito! --- Ela elevou um pouco o tom de voz.

--- Você diz isso como se não tivesse ficado com ninguém neste meio-tempo.

--- Eu posso até admitir que isso aconteceu, mas eu não te esqueci e muito menos pensei em construir uma vida nova com outra pessoa. Eu pensei que você era fiel. 

--- Mas eu... Por que você decidiu vir para cá?

--- Eu estou em um intercâmbio pela Europa --- Ela me respondeu, se levantando --- E você, por que não voltou para Vancouver, como prometido? Ah é, você encontrou uma nova vida aqui...

--- Isso tá virando um interrogatório, mas enfim...

--- Eu não quero saber.

--- Pensando bem, eu também não. --- Eu disse, e a beijei. Foi um beijo mais duradouro do que eu esperava. Dava para sentir seus batimentos, e eles estavam acelerados. E os meus também. Mas, ela me empurrou de leve. E me empurrou de novo, dessa vez mais forte. E então eu me distanciei. Ela estava vermelha, e lágrimas caíam e navegavam em seu rosto, que realçavam a cor verde dos seus olhos. De repente, eu havia voltado a enxerga-la como antes. Como se ainda estivéssemos no colegial, ansiosos para a faculdade. Eu diria que foi mágico, se não tivesse um porém : eu tinha acabado de trair minha noiva. A Ruby. E se ela soubesse, nunca me perdoaria. Mas, eu não me importava mais. Eu amava somente uma : a Natália. E mais ninguém.

--- Eu... eu não acredito que você fez isso... --- Ela disse, olhando para mim, da mesma maneira do dia em que nos conhecemos : pedindo secretamente para eu ir embora. E nem naquele momento e nem agora eu iria fazer isso. Ela se sentou na cama, e eu me sentei ao lado dela. 

--- Natália... Você sabe que eu te amo. E hoje mesmo vamos dizer isso para a Ruby. 

--- Mas... --- Ela disse, mas interrompeu oque estava dizendo quando eu a abracei --- Você sabe que isso é arriscado. Você vai deixar uma mulher que agora é a sua noiva por mim?

--- Vou. Natália, agora que me caiu a ficha. Eu não posso te perder. De modo algum. Você me ouviu? 

--- ... Você não presta mesmo --- Ela disse, e deu uma risadinha. Já estava melhorando. Mas tínhamos que falar com a Ruby. Me levantei, e ela se levantou logo em seguida. A Natália enxugou as suas lágrimas na manga do seu moletom e abriu a porta para nós sairmos. À medida que andávamos, ela parecia mais alegre, e eu também. Ela me fazia muito melhor que a Ruby, me fazia mergulhar nos meus sentimentos, ao invés de boiar neles. Ou talvez me fazia respirar dentro deles, ao invés de me afogar. O mundo ficava cada vez mais colorido com a Natália, ela prestava atenção em cada detalhe. Os pássaros cantando, o sol cobrindo a cidade e o vento cortante passando por nós com toda calma do mundo. Ela era nova na cidade, então se impressionava com tudo que via. Até chegarmos ao prédio da Ruby, que tinha 5 andares. Fomos no elevador, e quando chegamos à porta, nós tocamos a campainha. Ela atendeu, e se espantou com a presença da Natália, que agora estava bem mais séria do que estava durante o caminho. A Ruby estava com uma camiseta e um short, como se não estivesse planejando sair de casa, e segurando um pano com gelo encima do inchaço do soco da Natália.

--- Oque está acontecendo? Por que essa agressora estúpida está aqui?

De Repente { HISTÓRIA COMPLETA }Onde histórias criam vida. Descubra agora