Capítulo 16

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Donna.

Eu sabia que não seria fácil olhar pra ele todos os dias e lembrar do pouco que vivemos. Pouco, mas com muita intensidade.

Foi a primeira vez que eu me relacionei de verdade com alguém assim. Alguém como ele.

Benjamin estava em meus pensamentos todos os dias, horas, minutos e era difícil tentar recomeçar do zero. Sim, a minha vida zerou quando terminamos e eu tratei de recomeçar. Não havia opção do contrário.

Assim que saí do apartamento dele naquele dia eu já tinha decidido que deixaria a Innova. Eu não ia suportar o dia-a-dia, então cortei tudo pela raíz.

Emily escrevia desesperada bilhetes tentando entender o porquê da minha decisão, enquanto Bruno falava em Libras comigo e traduzia para ela. Foi difícil vê-la tão preocupada comigo, afinal, criamos um laço de amizade intenso. Toda minha passagem por aquela empresa foi intensa, não posso negar.

Coloquei minhas coisas em uma caixa e voltei para casa. Meus pais se assustaram quando me viram e eu não consegui mais segurar as lágrimas. Chorei o dia todo. Expliquei a eles com dificuldade o que estava sentindo e como tinha sido o término com Benjamin. Não contei detalhes, mas o suficiente para eles entenderem o quão eu estava triste. Talvez eles já pressentiam que um relacionamento como o nosso não daria certo, ou talvez tiveram esperança de que desse.

A verdade era que eu tinha esperança. Eu tinha plena certeza de que Benjamin era o homem da minha vida. Aquele homem que você imagina casar e ter filhos. Aquele homem que te ama incondicionalmente do jeito que você é, sem tirar, nem pôr. Eu acreditei nisso pelo simples fato dele ter se apaixonado por mim, mesmo sabendo da minha deficiência. Não duvido que ele tenha mesmo me amado, mas não foi o suficiente.

Uma pessoa como eu precisa de um amor cem porcento. Um amor avassalador que não se importa com as dificuldades que serão enfrentadas e Benjamin, infelizmente, não tinha esse tipo de amor para me oferecer.

Os dias passaram e eu só conseguia fazer o básico. Por diversas vezes me peguei remexendo em alguns bilhetes trocados. A caixa que ele me deu de Dia dos Namorados ainda estava na prateleira, junto aos perfumes. Eu lembrava de cenas que passamos juntos e de coisas que ele escrevia, mas principalmente, lembrava dos nossos olhares. Olhares que falavam mais do que mil palavras. Disso eu sentia falta.

Bom, a verdade era que eu não podia ficar assim, remoendo o passado. Eu precisava seguir em frente e foi exatamente o que eu fiz.

- onde vai tão cedo? - perguntou minha mãe

- visitar uma escola para deficientes. Acho que eles precisam de uma professora de Libras. - gesticulei rápido

- que legal! boa sorte, então!

Sorri e segui a diante. Estava um dia muito frio, mas não me impediu de andar muitas quadras até chegar a escola indicada em um anúncio.

Eu não sabia se a recepcionista se comunicava em Libras, então levei um bilhete preparado.

bom dia! sou Donna Waldorf. Eu me inscrevi para a vaga de professora de Libras

A moça leu o que estava escrito, sorriu e começou a gesticular.

- seja bem-vinda Donna! você falará com a diretora da escola.

Sorri como há dias não sorria. Era muito bom conseguir me comunicar sem dificuldades.

Segui a recepcionista até uma sala pequena e enquanto andávamos passei meus olhos pela escola. Muitas pessoas saiam e entravam de salas de aula. Eram deficientes auditivos, físicos, visuais, todos tinham seu espaço próprio e o melhor, parecíam felizes.

DonnaOnde histórias criam vida. Descubra agora