19. A vista é bonita demais de onde eu estou.

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Aurora Grace.

Lakeview, Barrington Hills. - Illinois.

05:56 p.m, 06/09/2015.

Estou parada na porta do banheiro, encostada no batente esperando Justin lavar a boca. Ele tinha acabado de vomitar. A segunda vez no mesmo dia.

— Vai ser assim toda vez? - ele pergunta.

Seus lábios estão mais chamativos do que o normal, e Justin tinha tirado a camisa há três minutos atrás.

— Eu espero que não. - murmuro. - Você reagiu muito mal apenas com a primeira quimioterapia. - entorto a boca. - Normalmente, as pessoas só se sentem desconfortáveis a partir da terceira.

Ele procura uma toalha de rosto e enxuga seu boca. No final da sessão, eu fiquei preocupada, porque Justin começou a ter dificuldade pra respirar.

— Você está melhor?

— Minha respiração voltou ao normal. - ele diz parado enquanto me olha. - Aurora, pede pro Scooter adiar a minha ida às rádios.

— Certo. - respiro fundo. - Eu aumentei o tempo de intervalo entre as sessões. Será de duas em duas semanas, agora.

— Só daqui há duas semanas, então?

— É.

— Meus cabelos vão cair daqui pra lá?

Essa é uma pergunta que eu não posso responder com muita precisão. Os efeitos colaterais que Bieber estava tendo eram precoces demais, então talvez ele perdesse os cabelos mais rápido do que todo mundo. Não faço ideia do porquê disso.

— Talvez. Olhe, de mês em mês nós iremos fazer tomografias, entendeu? Precisamos saber se a doença estiver avançando.

Seus ombros ficam tensos, e eu noto que Justin fica preocupado.

— E se estiver?

— Não vai. - digo firme. Na verdade, eu não podia ter tanta certeza assim. - Se estiver, eu preciso optar por outros meios, que não vem ao caso agora.

— Por que merda essa doença avançaria se eu estou fazendo o tratamento? - ele pergunta irritado.

— Câncer é uma doença traiçoeira, Justin.

Desencosto do batente e ajeito minha postura. Isso era realmente verídico. Eu já tive pacientes com câncer que mesmo com a quimioterapia tiveram a doença avançada. Isso é muito subjetivo, depende muito do organismo dele. E eu espero que essas sessões façam algum efeito. Eu não tinha dito ao Justin para não causar desespero, mas na tomografia constatou três nódulos malignos, e não um. Sem contar, que o pequena células, tipo de câncer que ele tinha, é o que se espalha de forma mais rápida pelo pulmão. Querendo ou não, tudo acabava me preocupando, principalmente agora que Bieber vem reclamando de dificuldade para respirar constantemente e dores no peito. Até o último exame, sua doença estava no estágio I, e eu pedia mentalmente que daqui para o final do mês, não tivesse ido para o estágio II. No estágio II, o câncer comprometeria seu diafragma, parede do pulmão, parede torácica, seus gânglios linfáticos e até mesmo o parede do coração.

Outra coisa que eu precisava esclarecer para Justin, era o fato de termos descoberto a dilatação da sua traquéia. Isso explicava o fato da rouquidão ter aumentado rápido. Ele poderia perder a voz. É, a voz.

— Eu preciso conversar com você. - digo.

Nós estávamos em silêncio, enquanto Justin se aproximava de mim. Dei as costas e voltei para o quarto, me sentando na beirada da cama. Bato no espaço vago ao meu lado e ele senta, me olhando atento.

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