não tinha motivo para me desesperar tanto, não havia nada de muito valor na carteira, apenas alguns trocados e cópias de documentos.
mas a agenda... tinha valor sentimental, apesar de não escrever há algum tempo, gostava de levá-la sempre comigo. pensar em perder o que havia escrito e as lembranças nela, me deixava triste...
tentei pensar positivo enquanto atravessava a rua de volta para o café.com o corpo meio molhado ainda, cabelos pingando e os chinelos na mão, apressei o passo até a entrada do local; olhei pela janela na direção do balcão e não havia nada além de xícaras, açucareiros, pratos e afins.
"que levassem a carteira, mas pra que iriam querer a agenda?"
entrei sem me importar com meu estado. me aproximei do caixa e perguntei de um atendente, se por acaso, ele teria encontrado meus pertences, mas esse acabara de chegar e não havia visto nada.
suspirei apreensiva e sentei novamente em um dos bancos altos. alguns minutos depois ouvi a voz da garçonete que me ofereceu o bolo mais cedo:
- veio comer outro bolo? - disse ela com um sorriso convencido.
- não... é que acabei esquecendo minhas coisas aqui, uma carteira e agenda - falei desanimada. - você não viu? - perguntei mais tranquila, seus olhos passavam mesmo algo muito bom; embora misterioso.
ela sorriu outra vez e entrou por uma porta vermelha com janela redonda de vidro, pude sentir um "graças a deus" saindo da minha boca.
...- aqui... são esses? - ela disse voltando, do que imaginei ser a cozinha, com minhas coisas em mãos.
- são sim... - sorri, aliviada.
- então você não é do tipo que anda com o celular? ou não tem um? - indagou ela e cogitei que foi quase sem querer, por causa da expressão que surgiu em seu rosto depois da pergunta.
- eu preferi deixar no meu quarto, achei mais seguro não trazer. - disse, tentando não ser muito ríspida (coisa que acontecia involuntariamente) não queria ser desagradável de modo algum com ela, afinal eu estava devendo duas pra ela.
- faz bem, o bairro anda meio perigoso mesmo. - ela deu continuidade ao assunto um pouco mais retraída.
[talvez por ser o ambiente de trabalho dela e não poder conversar muito com clientes.]
- sei bem...
naquele instante me permiti observá-la com um pouco mais de atenção: tinha jeito e corpo charmosos. seu pescoço era a coisa que mais me chamava atenção devido seu cabelo preso em coque, que talvez nem fosse tão comprido e escuro quanto parecia, usava uma camisa de tom cinza claro de botão, com gola pequena, e tinha 'le petit café' bordado em amarelo no bolso. uma calça jeans e imaginei que seu calçado era um tênis simples; era simplesmente linda.
seus olhos pequenos atraíam tanto... especialmente quando ela sorria e eles quase se fechavam por completo.
aliás: que sorriso! cativante demais
(arrisco dizer que seja capaz de melhorar o dia de qualquer um que o veja), só que naquele momento estava séria. seu nariz parecia ter sido feito por encomenda, afilado, formava um belo conjunto com seus lábios e maçãs do rosto, que ora coravam sem motivo aparente. suas orelhas eram lisas, sem furo para brinco, talvez não gostasse muito de acessórios, pensei; e ela nem precisava. não havia nenhum vestígio de maquiagem também...
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céu e mar (romance lésbico)
Romanceessa conexão constrastada entre o céu e o mar, vem ser a metáfora desse romance. quando tudo parece estar fluindo calmamente e se encaixando, vem uma tempestade, ondas fortes e ventos desconhecidos bagunçando tudo. mas tudo bem, o dia sempre raia, p...