reencontro

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o próximo dia teria passado despercebido, se não fosse caio, filho de cecília, chegar de viagem durante a tarde e fazer um escândalo(!) porque alguém havia "arranhado" e deixado sua bicicleta "imunda".

"moleque dramático... tem quantos anos? 5?"

na verdade tinha 19, era loiro, porte atlético e tinha olhos verdes, idênticos aos de cecília. infelizmente, a semelhança entre os dois era apenas física, ele tinha jeito marrento e arrogante; típico hétero, que se acha o tal.

cecília explicou que eu havia precisado muito usar a bicicleta e disse que ele estava sendo bobo.

"eu diria babaca, mas mãe é mãe, né?"

o garoto fez pouco caso e se dirigiu aos seus aposentos reais de filho único e mimado.

eu acabei por ir lavar a bicicleta na área de serviço, perto da piscina. procurava inutilmente o tal arranhado... não tinha nada! depois do lavado parecia até recém saída da loja...

- ele nem deve usar você, aposto! - sim, eu comecei a conversar com a bicicleta. - tudo bem, você não tem culpa de ter um péssimo dono. - dei ênfase no "péssimo".

- ainda conversando com objetos, hein?

me virei espantada com a voz que ecoou na varanda da área de serviço.

hugo veio dirigindo-se a mim, com um sorriso em seus lábios, caçoando da minha mania de falar com "coisas". sorri envergonhada (muito constrangedor quando alguém me pegava nesses meus momentos) e depois por revê-lo.

nos abraçamos forte, fiquei encolhida em seu peito por um bom tempo. senti seus batimentos e fiquei imensamente feliz por ter a certeza que ele estava ali por e para mim, como o bom e velho amigo que sempre havia sido. hugo só se contentou com nosso abraço quando quase me esmagou, me levantando no ar.

[tínhamos uma piada interna de que ele era meu segurança, devido seus quase 1,90m de altura. ele realmente se comportava como um quando estávamos em shoppings e outros lugares públicos; as pessoas olhavam com ar de reprovação e nós nos divertíamos muito.]

"quanta saudade!"

não conversamos muito de início, ele só disse que havia conversado com meu pai novamente e pedido o endereço da pousada para me fazer a surpresa. o apresentei a cecília e os deixei conversando enquanto tomava um banho e colocava uma roupa para sairmos.

depois de pronta, conforme íamos nos aproximando da calçada analisei o quanto meu melhor amigo tinha mudado; e não era só externamente. quanta diferença desde a última vez em que nos  vimos, no velório de minha mãe.

hugo agora usava seu cabelo bem curto, quase todo raspado. sua barba que antes era só penugem, estava bem preenchida, lhe dando um ar mais sério. seu corpo estava mais firme, e ele tinha um ar mais confiante, não parecia mais aquele menino frágil que conheci no começo do ensino médio...

ele também não deixou de me analisar. falou do meu cabelo, que eu vinha deixando crescer, as novas "roupitchas", e meu ar mais maduro.

- como cresceu minha menina... - fez um afago no meu cabelo, tinha um olhar saudoso e emocionado; não pude deixar de sorrir.

céu e mar (romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora