pelos olhos de sofi II

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talvez eu tenha comemorado cedo demais, uma mania antiga minha (péssima por sinal). mas aquele beijo parecia tão certo... se não fosse minha mãe entrar justo na hora e interromper tudo.

aquele momento no sofá não saía da minha cabeça por nada no mundo: seus olhos me assistindo atentamente, seu cheiro adentrando minhas narinas, o quentinho da sua pele, nossas respirações constratadas. cada detalhe daquilo rebobinava automaticamente em meus pensamentos; sempre me pego rindo da parte em que ela levantou em um só pulo como se estivesse cometendo algum crime.

o que mais me instigava era que ela, mesmo visivelmente nervosa, não estava intimidada; efeito que modéstia a parte eu sempre causava. ela me observava e sentia cada segundo daquela sensação junto comigo e eu tinha absoluta certeza que nos queriamos na mesma proporção.

depois de ter a visto chorar daquele jeito então, soube que confiava em mim. eu só queria poder trazer algo bom pra vida daquela garota e sabia que ela me traria o mesmo.

parece loucura, eu não canso de repetir isso. tudo tão repentino assim, mas eu sentia isso com todo meu ser; embora depois daquele dia as coisas tenham ficado um pouco estranhas.

jane se manteve presente de certa forma, trocávamos  mensagens, às vezes ela aparecia no café, sem me avisar mesmo, sabe? e era sempre bom vê-la, mas algo tinha a deixado retraída e eu não queria ser 'invasiva' de novo assim tão cedo...

mentira eu queria sim, só precisava de uma nova oportunidade, que obviamente tinha de ser longe da minha mãe, digo, tínhamos que estar verdadeiramente a sós.

foi quando veio uma luz, vinda da própria jane.

jane [19/07 21h47]; (mensagem de voz): oi. eu sei que você tem estado ocupada com a sua mãe, os ensaios, e tudo o mais, mas queria te convidar pra festa do hugo, seria legal se você fosse...

"seria legal se você fosse." repeti mentalmente, sorrindo.

eu [19/07 21h50]; (mensagem de voz):  o quão legal seria?

jane [19/07 21h52]; (mensagem de voz): legal pra caralho...

eu não pude deixar de enviar um áudio rindo e respondendo com "me convenceu".  conversamos mais um pouco e jane me informou melhor a respeito do dia, horário e local exato da tal festa, agradeci tanto aos céus por naquele dia não ter nenhum evento que precisasse comparecer e no dia seguinte ser minha folga no café, estava quase tudo perfeito.

só tinha um probleminha, dona safira não podia ficar sozinha por tanto tempo. especialmente a noite, quando ela precisava tomar os medicamentos e eu sempre verificava se estava tudo certo, daí pensei seriamente em desistir...

[...]

- mãe... - soltei depois de muito pensativa enquanto jantávamos.

- pensei que não ia falar nunca... - disse como quem já conhece aquele comportamento. - nem tocou na comida ainda, o que houve?

- tem uma festa...

- sei... - me fitou e tomou um gole do seu suco.

- posso ir? - pedi.

- minha filha você já ta bem grandinha, né?! - brincou.

céu e mar (romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora