Capitulo - Dois

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Mas isso parecia loucura, porque era apenas Um garoto  num sonho

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Mas isso parecia loucura, porque era apenas Um garoto  num sonho. Eu nem sabia como ele
era. Eu vinha tendo o sonho há meses, mas em todo esse tempo jamais vira o rosto dele, ou
pelo menos não conseguia lembrar. Eu só sabia que tinha a mesma sensação horrível toda vez
que o perdia. Ele escorregava da minha mão e meu estômago parecia afundar, como nos
sentimos durante a queda em uma montanha-russa.
Frio na barriga. Essa era uma porcaria de metáfora. Era mais como uma bala de um tiro.
Talvez eu estivesse enlouquecendo, ou talvez só precisasse de um banho.
Os fones ainda estavam em volta do meu pescoço, e quando olhei para o visor do meu iPod, vi
uma música que não reconheci.
"Maldição De Anjos e humanos"

O que era aquilo? Cliquei nela. A melodia era assustadora. Eu não conseguia identificar a voz,
mas tinha a sensação de que já ouvira aquilo.
Um Anjo, Um Humano
Dezesseis Anos dos seus mais profundos medos
Dezesseis vezes você sonhou com minhas lágrimas
Caindo, caindo ao longo dos anos...
Era deprimente, assustadora... Quase hipnótica.
— Morgana Campbell — Consegui ouvir Amma gritando mesmo com a música.
Desliguei o iPod e sentei na cama, afastando as cobertas. Os lençóis pareciam estar cheios de
areia, mas eu sabia que não era isso.
Era terra. E minhas unhas estavam pretas de lama, da mesma forma que ficaram na última vez
em que eu tivera o sonho.
Enrolei o lençol e o enfiei no cesto de roupa suja embaixo do uniforme do treino do dia
anterior. Entrei no chuveiro e tentei esquecer tudo enquanto esfregava as mãos e os últimos
pedaços pretos do meu sonho desapareciam pelo ralo. Se eu não pensasse naquilo, não estaria
acontecendo. Era assim que eu lidava com a maioria das coisas nos últimos meses.
Mas não quando se tratava dele. Não dava para evitar. Eu sempre pensava nela. Sempre
voltava a ter o mesmo sonho, mesmo não conseguindo explicá-lo. Então, era esse meu
segredo, tudo que queria contar. Eu tinha 15
anos, estava me apaixonando por uma garoto que não existia e estava ficando louco.
Não importava o quanto eu esfregasse, eu não conseguia fazer meu coração parar de bater
forte. E mesmo com o cheiro de sabonete Ivory e do xampu, eu ainda conseguia sentir aquela
aroma. Bem de leve, mas eu sabia que estava lá.
Limão e Camomila.

Desci as escadas para a segurança da mesmice de sempre. Na mesa de café da manhã, Amma
colocou na minha frente o mesmo prato de porcelana azul e branco (Porcelana-Preto)
como minha mãe chamava) com ovos fritos, bacon, torrada com manteiga e café morno. Amma era
nossa governanta, mas era mais como minha avô, apesar de ser mais inteligente e mais mal-
humorada do que minha verdadeira avó. Amma tinha praticamente me criado, e ela achava que
era a missão dela me fazer crescer mais uns 30 centímetros, apesar de eu já ter 1,59 metro de
altura. Esta manhã eu estava estranhamente faminta, como se não comesse há uma semana.
Comi um ovo e dois pedaços de bacon e já me senti melhor. Sorri para ela com a boca cheia.
— Não pegue tanto em mim,Amma. É o primeiro dia de aula. — Ela colocou com força na minha
frente um gigantesco copo de suco de morango  e outro maior ainda de leite (integral, o único
tipo que bebemos aqui).
— Acabou o achocolatado? — Eu bebia achocolatado do mesmo jeito que algumas pessoas
bebem Refrigerante  ou café. Mesmo de manhã, eu estava sempre atrás da minha dose de açúcar.
— A-C-L-I-M-A-T-E-S-E. — Amma usava palavras cruzadas para tudo.
Quanto maior, melhor, e ela gostava de usá-las. O modo como ela soletrava as palavras letra
por letra fazia parecer que ela estava dando um tapa na cabeça da gente a cada letra. — Quero
dizer, acostume-se. E não pense em botar um pé pra fora daquela porta antes de beber o leite
que dei pra você.
— Sim, senhora.
— Vejo que você se arrumou. — Eu não tinha me arrumado. Estava de jeans e uma camiseta preta, e um simples all star com meus cabelos negros e lisos soltos.

— Pensei que você fosse cortar o cabelo — falou como se fosse uma bronca, mas eu percebi
o que era realmente: puro e simples amor.
— Quando falei isso?
— Você não sabe que os olhos são a janela da alma?
— Talvez eu não queira que ninguém use uma janela pra ver a minha alma, alias eu amo meus cabelos grandes que vão até a cintura e não trocaria por nada além de cabelos curtos em meu ombro - digo sorrindo.

— Bem, não pense que você vai sair nesse tempo com o cabelo molhado.
Diz Emma

- Não gosto da sensação que essa tempestade está me dando. Como se uma coisa ruim tivesse
sido chutada no vento, e nada consegue impedir um dia como esse. Ele tem vontade própria.
Revirei os olhos. -
Amma tinha uma maneira própria de ver as coisas.
Quando ela estava com o humor assim, minha mãe costumava dizer que ela estava
escurecendo: religião e superstição misturadas, como só acontece no sul. Quando Amma
escurecia, era melhor ficar fora do caminho dela. Assim como era melhor deixar os amuletos
dela nos peitoris das janelas e as bonecas que ela fazia nas gavetas onde ela as colocava.

Apenas Um Minuto - Anjos e humanosOnde histórias criam vida. Descubra agora