de mim. Isso dava uma sensação libertadora, mesmo se eu tivesse que analisar o
relacionamento de Jem e Scout por cinquenta minutos sem ter lido o capítulo.
Quando o sinal tocou, me virei para Tyler. Não sei o que eu pensava que podia dizer. Talvez
estivesse esperando que ele me agradecesse. Mas ele não disse nada enquanto enfiava os
livros de volta na bolsa.
156. Não era uma palavra que estava escrita em sua mão.
Era um número.
Tyler Duchannes não falou comigo de novo, nem naquele dia, nem naquela semana. Mas isso
não me impediu de pensar nele e nem de vê-lo em praticamente todo lugar para onde eu
tentava não olhar. Não era apenas ele que estava me incomodando, para dizer a verdade. Não
era a sua aparência
— tyler era bonito, apesar de ele estar sempre usando as roupas erradas e aquele tênis
surrado. Não eram as coisas que ele dizia na aula, normalmente coisas em que ninguém mais
teria pensado, e que, se tivessem pensado, era algo que não ousariam dizer. Não era o fato
dele ser diferente de todos os outros garotos da Jackson. Isso era óbvio.
Era que ele me fez perceber o quanto eu era como os outros, mesmo quando eu queria fingir
que não era.
Tinha chovido o dia todo, e eu estava sentado na aula de cerâmica, também conhecida como
AG, "A garantido", já que a nota dessa aula só dependia do esforço. Eu tinha me matriculado
em cerâmica na primavera porque tinha que preencher a exigência de ter aulas de artes no
currículo, e estava desesperado para ficar longe da banda, que praticava fazendo muito
barulho no andar de baixo sob a liderança da enlouquecida magricela e empolgada ao
extremo, Srta. Spider. Savannah estava sentada ao meu lado.
Eu era o único homem da turma, e como era homem, não tinha ideia do que deveria fazer.
— Hoje se trata de experimentação. Vocês não serão avaliados por isso.
Sintam a argila. Libertem a mente. E ignorem a música que vem de baixo. —
A Sra. Abernathy fez uma careta enquanto a banda assassinava algo que '
parecia com "Dixie". — Busquem bem fundo. Sintam o caminho até a alma.
Liguei o torno de oleiro e olhei para a argila enquanto ela começou a girar na minha frente.
Suspirei. Isso era quase tão ruim quanto a banda, então, quando a sala foi ficando em silêncio
e o barulho dos tornos de oleiro se sobrepôs à falação das fileiras de trás, a música do andar
de baixo mudou.
Ouvi um violino, ou talvez um daqueles violinos maiores, acho que se chama viola. Um som
bonito e triste ao mesmo tempo, e era desconcertante. Havia mais talento na voz crua da
música do que a Srta, Spider jamais vera o prazer de conduzir. Olhei à minha volta; ninguém
parecia perceber a música. O som rastejava sob a minha pele. Reconheci a melodia, e em
poucos segundos minha mente conseguiu identificar a letra, tão claramente como se estivesse
ouvindo meu iPod. Mas dessa vez, a letra tinha mudado.
Dezesseis luas, dezesseis anos
Som de trovão nos seus ouvidos
Dezesseis milhas antes que ela se aproxime
Dezesseis procura o que dezesseis teme...
Enquanto eu olhava para a argila que girava na minha frente, a massa virou uma mancha.
Quanto mais eu me concentrava, mais a sala se dissolvia ao meu redor, até que a argila
pareceu estar girando a sala de aula, a mesa e minha cadeira junto. Como se tudo estivesse
ligado nesse redemoinho de movimento constante, ligado ao ritmo da melodia da sala de
música. A sala estava desaparecendo à minha volta. Lentamente, estiquei a mão e passei a
ponta de um dedo pela argila.
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Apenas Um Minuto - Anjos e humanos
General FictionComo seria Se apaixonar Por um Anjo? Morgana e Tristan foram feitos um para o outro. Eles discordavam apenas em um ponto: Morgana nunca acreditou em anjos, Tristan por sua vez, fez dos anjos seus protetores nos momentos mais difícil. E quando Morg...