Depois um brilho, e a sala que girava se dissolveu em outra imagem...
Eu estava caindo.
Nós estávamos caindo.
Eu estava de volta ao sonho. Vi a mão dele.Vi minha mão agarrar a dele, meus dedos
afundando em sua pele, no pulso, em uma tentativa desesperada de segurá-lo. Mas ele estava
escorregando; eu podia sentir, os dedos passando para minha mão.
— Não solte!
Eu queria ajudá-lo, queria segurar. Mais do que jamais quis alguma coisa. E então ele
escorregou pelos meus dedos...
— Morgana,o que está fazendo? — A Sra. Abernathy parecia preocupada.
Abri meus olhos e tentei me concentrar, me trazer de volta. Eu vinha tendo os sonhos desde
que minha mãe morreu, mas essa era a primeira vez que eu tinha um durante o dia. Olhei para
minha mão cinza e enlameada, coberta de argila seca. A argila no torno de oleiro trazia a
marca perfeita de uma mão, como se eu tivesse acabado de achatar seja o que for que eu
estivesse fazendo. Olhei mais de perto, A mão não era minha, era grande demais. Era de uma
garoto
Era dele.
Olhei embaixo das minhas unhas, onde dava para ver a argila que eu tinha raspado do pulso
dela.
— Morgana, você podia ao menos tentar fazer alguma coisa.
A Sra. Abernathy colocou a mão sobre meu ombro e dei um pulo. Do lado de fora da janela da
sala de aula, ouvi o roncar de trovões.
— Mas, Sra. Abernathy, acho que a alma de Tyler está se comunicando com ele. — Savannah
riu, se inclinando para dar uma boa olhada. — Acho que ela está dizendo pra você fazer as
unhas, Morgana.
As garotas ao meu redor começaram a rir. Esmaguei a marca da mão ora o punho,
transformando-a num monte de nada cinza. Fiquei de pé e limpei as mãos no jeans quando o
sinal tocou. Peguei minha mochila e saí rápido da saia, escorregando nos meus tênis de cano
alto molhados quando virei no corredor e quase tropeçando nos cadarços desamarrados ao
correr elos dois lances de escada que me separavam da sala de música. Eu tinha que saber se
tinha imaginado.
Empurrei a porta dupla da sala de música com as duas mãos. O palco tava vazio. A turma
passava por mim. Eu estava indo na direção errada, caminhando contra a corrente enquanto
todo mundo tentava sair. Respirei do, mas sabia que cheiro iria sentir antes mesmo que o
sentisse.
Limão e alecrim.
No canto do palco, a Srta. Spider estava recolhendo as partituras espalhadas sobre as cadeiras
dobráveis que ela usava para a lamentável orquestra da Jackson. Eu a chamei.
— Com licença, professora. Quem estava tocando aquela... aquela música?Ela sorriu para mim.
— Tivemos uma maravilhosa aquisição para nossa seção de cordas. Uma viola. Ele acabou de
se mudar para a cidade...
Não. Não podia ser. Não ele.
Me virei e corri antes que ela pudesse dizer o nome.
Quando o sinal do oitavo tempo tocou, Link estava esperando por mim em frente ao vestiário.
Ele passou a mão pelo cabelo espetado e esticou a camiseta desbotada do Black Sabbath.
— Lizzu. Preciso da sua chave, mano.
— E o treino?
— Não posso ir. Tem uma coisa que preciso fazer.
— Cara, do que você está falando?
— Só preciso da sua chave.
Eu tinha que sair dali. Estava tendo sonhos, ouvindo música, e agora apagando no meio da
aula, se é que pode se chamar assim. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas
sabia que era ruim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas Um Minuto - Anjos e humanos
General FictionComo seria Se apaixonar Por um Anjo? Morgana e Tristan foram feitos um para o outro. Eles discordavam apenas em um ponto: Morgana nunca acreditou em anjos, Tristan por sua vez, fez dos anjos seus protetores nos momentos mais difícil. E quando Morg...