Capitulo - Nove

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Nem sei por que me importava. Era uma conversa idiota, assim como era idiota que todos os
caras tivessem que se encontrar antes da escola às quartas de manhã. Era uma coisa que eu
passei a encarar como bater ponto.
Algumas coisas eram esperadas quando se estava no time. Sentávamos juntos no refeitório.
íamos às festas de Savannah Snow, convidávamos uma líder de torcida para nos acompanhar
nos bailes, ficávamos de bobeira no lago Moultrie no último dia de aula. Era possível escapar
de quase tudo se a gente batesse ponto. Só que para mim estava ficando cada vez mais difícil
bater ponto, e eu não sabia por quê.
Eu ainda não tinha dado uma resposta quando o vi.
Mesmo que não o tivesse visto, eu saberia que ele estava lá porque o corredor, que geralmente
ficava cheio de gente correndo para seus armários e tentando chegar às aulas antes do segundo
sinal, esvaziou em questão de segundos. Todo mundo deu um passo para trás quando ele andou
pelo corredor. Como se ele fosse uma estrela do rock.
Ou uma leproso.
Mas eu só conseguia ver um garoto bonito de Camiseta longa cinza sob um casaco esporte
branco com a Palavra "Life"  costurada e um All Star surrado preto nos pés. Um garoto que
usava um cordão longo prateado em volta do pescoço, com um monte de coisas penduradas:
um anel de plástico de uma máquina de chicletes, um alfinete e um bando de outras coisas que
eu estava longe demais para ver. Uma garoto que não parecia pertencer de Dakota,  Eu não
conseguia tirar os olhos dela.
O sobrinho de Macon Ravenwood. O que havia de errado comigo?

Ele passou a mão em seus cabelos pretos, o cabelo preto brilhando sob a luz fluorescente.
As mãos estavam cobertas de tinta preta, como se ela tivesse escrito algo nelas. Andou pelo
corredor como se nós fôssemos invisíveis. Tinha os olhos mais verdes que eu já vira, tão
verdes que podiam ser considerados de uma nova cor.
— É, ele e gato — disse Chase.
Eu sabia em que elas estavam pensando. Por um segundo, pensaram em largar a
Os namorados
pela chance de dar em cima dele. Por um segundo, ele foi uma possibilidade.
Savannah a olhou de cima a baixo e bateu a porta do armário.
— Se você ignorar o fato de que ele é esquisito.
Havia alguma coisa no jeito que ela falou isso, ou mais provavelmente, na razão pela qual ela
falou. Ele era esquisita porque não era de dakota, porque não estava tentando entrar na equipe
de futebol, porque não tinha olhado para eles (a) duas vezes, ou nem mesmo uma. Em
qualquer outro dia, eu o teria ignorado e ficado de boca fechada, mas hoje eu não estava com
vontade de ficar calado.
— Então ele é automaticamente esquisit, e por quê? Porque ele não  está de uniforme, cabelo
louro e no time?
Era fácil de ler o rosto de Savannah. Essa era uma daquelas vezes em que eu deveria ter seguido a
opinião dela, e eu não estava mantendo minha parte do nosso acordo não-verbal.
— Porque ele é uma Ravenwood.
A mensagem foi clara. Gato, mas nem pense nisso. Ele não era mais uma possibilidade. Mas
isso não os impediu de olhar, e todos ainda estavam olhando. O corredor, e todo mundo nele,
tinha travado o olhar nele como se ele fosse um cervo preso entre caçadores.
Mas ele apenas continuou andando, o cordão balançando em torno do
Pescoço.

Minutos depois, eu estava parado na porta da minha aula de inglês. Lá estava ele. Tristan
Duchannes. o garoto novo, que ainda seria chamada assim cinquenta anos mais tarde (isso se
não fosse chamada de sobrinho do Velho Ravenwood), entregando uma folha Cor-azul-  de
transferência para a Sra.
English, que apertou os olhos para ler.
— Fizeram uma confusão com meu horário e eu não tinha aula de Inglês
— estava dizendo ele. — Eu tinha História Americana em dois tempos, e eu já estudei
História Americana na minha escola antiga. — Ele parecia frustrado, e eu tentei não sorrir. Ele
nunca tinha tido aula de História Americana, não do jeito que o Sr. Lee ensina.
— É claro. Escolha seu lugar.

A Sra. English deu a ele um exemplar de O Sol é para Todos. O livro parecia nunca ter sido
aberto, o que provavelmente era verdade já que fizeram um filme baseado nele.
O garoto novo olhou para a frente e me pegou Observando-o. Olhei para o outro lado, mas era
tarde demais. Tentei não sorrir, mas fiquei sem graça, e isso só me fez sorrir mais. Elr não
pareceu perceber.
— Tudo bem, eu trouxe o meu. — Ele pegou um exemplar do livro, de capa dura, com uma
árvore entalhada na capa. Parecia bastante velho e gasto, como se ela o tivesse lido mais de
uma vez. — É um dos meus livros favoritos. — Ele apenas comentou, como se não fosse
estranho. Agora eu a estava encarando.

Senti um rolo compressor nas minhas costas e Emily me empurrou pela porta como se eu não
estivesse de pé ali. Esse era o jeito dela de dizer oi e de esperar que eu a seguisse até o fundo
da sala, onde nossos amigos estavam sentados.
O garoto novo sentou em um lugar vazio na primeira fila, na Terra de Ninguém, em frente à
mesa da Sra. English. Movimento errado. Todo mundo sabia que não se deve sentar ali. A Sra.
English tinha um olho de vidro, e a péssima audição de alguém cuja família tem o único
estande de tiro da região. Quem se sentava em qualquer lugar que não fosse em frente à mesa
dele não era visto, portanto não era solicitado. Lena ia ter que responder perguntas pela turma
inteira.
Emily pareceu contente e mudou o caminho para passar pelo lugar dele, chutando a bolsa de
Tristan e fazendo com que os livros dele se espalhassem pelo corredor entre as fileiras.
— Ops. — Emily se abaixou e pegou um caderno espiral surrado que estava quase perdendo a
capa. Ela o segurou como se fosse um rato morto. —
Tristan Duchannes. É esse seu nome? Pensei que fosse Ravenwood.
Tristan  olhou para o alto, lentamente.
— Pode me dar meu caderno?
Emily folheou as páginas como se não tivesse ouvido.
— É seu diário? Você é escritor? Isso é tão legal.

Tristan esticou a mão.
— Por favor.
Emily fechou o caderno e o afastou dela.
— Posso pegar isso emprestado por um minuto? Eu adoraria ler alguma coisa que você
escreveu.
— Eu queria de volta agora. Por favor. — Tristan ficou de pé. As coisas iam ficar interessantes.
I sobrinho do Velho Ravenwood estava prestes a se enfiar no tipo de buraco do qual ninguém
conseguia sair, a memória de Emily era excelente.

— Primeiro você teria que saber ler. — Peguei o caderno da mão de Emily e o entreguei a
Tristan.

Depois sentei na carteira ao lado da dele, bem ali na Terra de Ninguém.
O Lado do Olho Bom. Emily me encarou, incrédula. Eu não sabia por que tinha feito aquilo.
Estava tão chocado quanto ela. Nunca tinha sentado na frente em nenhuma aula na minha vida.
O sinal tocou antes que Emily pudesse dizer alguma coisa, mas não importava; eu sabia que
pagaria por aquilo mais tarde. Tristan abriu o caderno e ignorou nós dois.
— Podemos começar, pessoal? — A Sra. English olhou da mesa para nós.
Emily foi para o lugar habitual no fundo da sala, longe o bastante da frente para que não
tivesse que responder pergunta alguma o ano todo, longe o bastante do sobrinho do Velho
Ravenwood. E agora, longe o Bastante de nós.

Apenas Um Minuto - Anjos e humanosOnde histórias criam vida. Descubra agora