Capitulo 4 : Luisa

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A cada passo que eu dava sentia meu coração bater mais forte, minha boca estava ficando seca de modo que me fez fechá-la para ver se assim eu respirava melhor.
Pude ver alguns amigos de meu pai do lado de fora do velório. Todos vestiam preto. Ternos impecavelmente preto. Algumas amigas de minha mãe também estavam lá, elegantes de mais para um velório. Acenaram para mim assim que me viram chegar. Me olhavam com pesar, com pena.
Eu não precisava de pena de ninguém.

Adentrei o local com passos rapidos no ritmo exato do meu coração. Apertava meus olhos procurando pela sala de número dois, que era a que eles estariam.

Encontrei.

Entrei.

Não havia ninguém na sala, a não ser dois caixões perfeitamente alinhados um ao lado do outro.
Fiquei parada na porta por algum tempo que não sei descrever quanto foi.
Senti uma mão pousar em meus ombros. Era Vinicius.

- Você quer que eu entre com você? -perguntou.

Na verdade eu não sabia se queria entrar. Não sabia se suportaria. Mais precisava vê-los, precisava ver com meus olhos para poder de fato, acreditar.

- Você não precisa ficar aqui, pode ir se quiser.- disse ainda olhando para dentro da sala, minhas mãos estavam geladas.

Não esperei pela resposta.
Dei os passos que me faltavam para chegar até meus pais, foi difícil. Mais foi preciso.

Pálidos. Sôfregos. Sem Vida.
Meu coração por um instante parou de bater, minhas mãos tremiam, e meus olhos...Bem meus olhos não derramaram nenhuma lagrima sequer.
Nunca achei que fosse tão difícil chorar.
Eu queria. Mais não conseguia.

Depois de ver aquela cena, decidi que não queria mais ficar ali. Ja vi o que tinha que ver, não queria ter que ficar para vê-los partir mais uma vez. Acompanhar o enterro de meus pais ja seria de mais pra mim.

Ao virar para o lado para seguir até a porta da sala, esbarrei em Vinicius. Só então percebi que ele havia ficado ao meu lado o tempo todo.

- Desculpe.

- Não precisa se desculpar Luisa. Quer ir em bora agora? Achei que fosse ficar mais um pouco e...- o interrompi .

- Ficar? Não vou ficar e ver eles sendo jogados pra baixo da terra. Não vou ficar e ter que vê-los presos em um lugar impossível de se sair. Isso é para os fortes Vinicius, e eu não sou. Achei que fosse, mas não sou. - Disse e segui até a saida do velório.

Em quanto seguia pela calçada ouvi os passos de Vinicius se aproximando.

- Onde você vai?- Temos que voltar pra comunidade Luisa.

- Morro você quer dizer. Eu não vou voltar pra lá. Vou pra minha casa.- disse enquanto ainda caminhava.

Minha casa não era longe dali, teria que andar apenas algumas quadras. Vinicius não disse mais nada o caminho todo. Apenas seguiu ao meu lado em silêncio, eu não entendi o porque de ele querer ir junto comigo. Na verdade eu não estava entendendo muita coisa ultimamente.
Não entendia oque aconteceu no dia do acidente. Não entendia o porque de Vinicius pedir para que Iron ficasse comigo no hospital. Não entendia o porque de Vinicius estar perdendo seu tempo comigo.

Porque afinal ele estava tão disposto a me ajudar?

Cheguei em frente ao portão de casa e me lembrei..

- As chaves. A droga das chaves não está comigo. - Levei as mãos até a cabeça. - Burra, burra! Eu sou mesmo uma burra de esquecer que não tenho as chaves. Burra!!

- Eii, fica calma!- Vinicius disse segurando meus braços. - Você não é burra coisa nenhuma, como é que você poderia se lembrar de uma droga de chaves em um momento como esse. Fica calma. Nós vamos dar um jeito.

Inesquecível é VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora