Ele havia passado dias com as areias do deserto reluzindo o sol em seu rosto. O calor estava começando a deixá-lo fora de si e logo anoiteceria. Sua boca estava seca, pedindo por água; já passara cinco dias desde que ele havia conseguido abastecer seu cantil com um pequeno grupo nômade e, mesmo sendo forte, ele começava a sentir os efeitos de sua viagem pelas areias quentes.
Sendo um dos principais soldados de sua cidade, ele precisou viajar por muitos dias, pois havia sido chamado pelo seu superior em um lugar distante de onde residia; provavelmente algum conflito ou guerra estava por vir.
Com o cair da noite, pôde finalmente ver as luzes do vilarejo ao longe. Agora, mais do que nunca, precisava se apressar para conseguir chegar a tempo antes que a noite no deserto, cada vez mais negra e fria, abraçasse-o por completo.
Faris Zahir. Seu nome já dizia qual seria seu destino desde que nascera: guerreiro. Apesar da imagem que passava aos outros, de homem forte e orgulhoso, no fundo Faris era de bom coração e muito generoso. Reconhecido por suas glórias como soldado do rei Lahssam do reino de Hasfah, Faris ajudara a expandir o império ao qual servia conquistando e invadindo reinos a mando de seu rei.
O mais famoso e bravo guerreiro de Lahssam era de uma família humilde, mas que acabara conquistando a confiança do monarca. Seus pais serviram ao palácio por muitos anos e ele veio a crescer entre os nobres. Acabou sendo treinado e, mais tarde, incluído no exército real. Assim fez sua fama de glórias e honra e tornou-se o mais famoso e confiável guerreiro do reino.
Além de sua fama como soldado, Faris era bastante conhecido por sua aparência física, o que muitas vezes era raro em um membro do exército. Seus traços eram bem demarcados e sua pele, bronzeada pelo sol do deserto. Seus cabelos eram castanhos e possuía estranhos olhos azuis de um tom muito peculiar. A cor de seus olhos foi, muitas vezes, o principal motivo que levou Faris a entrar em brigas quando mais jovem. Muitos questionavam a honra de sua mãe, uma vez que nem ela e nem seu esposo possuíam olhos claros. Por outro lado, isso lhe dava uma aparência exótica e aumentava a sua popularidade entre as mulheres do reino. Por onde Faris passava, causava alvoroço entre as moças que baixavam seus véus e abanavam lenços em sua direção.
Em tempos de guerra, quando o exército seguia para fora dos portões do reino, todas as pessoas, a maioria mulheres, acompanhavam o cortejo desejando boa sorte aos soldados — mas, principalmente, para ver o maior e mais honrado guerreiro de Hasfah. Vestindo suas roupas de batalha e em cima de um belo cavalo árabe negro, ele seguia convencido pelas ruas da cidade espalhando acenos e olhares significativos às moças, deixando para trás uma multidão alvoroçada. Agora, ele se preparava para mais uma missão sem, que, até o momento, possuísse a menor ideia de qual se tratava.
Após chegar na noite anterior à cidade onde deveria se apresentar, Faris decidiu descansar em uma casa onde havia, à sua disposição, as mais belas mulheres do vilarejo. Por ser ainda jovem, beirando os vinte e oito anos, e viver a serviço de Lahssam, Faris não dava muito valor a fixar raízes e acabava sempre por se aventurar por onde passava. Ao acordar, recolheu seus pertences e foi embora sem dar maiores satisfações à outra parte presente no recinto.
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O Medalhão de Ísis
FantasiaGuerra, fé e magia. O Medalhão de Ísis é o primeiro livro de uma trilogia ambientada no Oriente Médio do século IV que narra a disputa de três reinos da Arábia por um antigo artefato divino. O leitor será levado a viver uma aventura fantástica atrav...