_1_

322 23 0
                                    

*Alice*

Passei no detetor de metais, enquanto dois guardas vasculhavam a minha mala e comprovavam que a minha identificação era verdadeira. Ouviu-se um apito frenético vindo do detetor. Talvez fossem os meus brincos, o fecho da blusa ou a fivela dos sapatos. Mandaram-me avançar e uma segurança fez-me sinal para abrir os braços para que fosse revistada.

Nada a declarar. Identificação verdadeira. Fui encaminhada para a entrada da prisão. Um arrepio frio percorria todo o meu corpo. Era a primeira que tinha um cargo tão importante à minha responsabilidade. Era a primeira vez que tinha de vir visitar um cliente a um estabelecimento prisional.

Isto não tem nada a ver com partilhas de bens, pensei interiormente. Ali o ambiente era obscuro, negro, pairava um aroma horrendo a crime. Engoli em seco e passei a primeira porta que já me tinham aberto.

O corredor era estreito. De lado, apenas se encontravam salas, onde alguns guardas estavam. Ainda não tinha entrado na zona dos prisioneiros. Foi, então, que outra porta se ergueu à minha frente, ferrugenta, enorme, de aço, inquebrável. Um dos guardas que me acompanhava bateu duas vezes na porta e logo recebeu permissão para a abrir, para podermos passar.

Tentava focar o meu olhar apenas no chão e nos pés, preparando-me mentalmente para levar a cara. Assim o fiz, quando a luz do sol queimava o meu rosto. Tínhamos chegado a um dos pátios exteriores.

Era de perder a conta, a quantidade de homens e algumas mulheres, de fato cor-de-laranja, já gasto, que se encontravam naquele espaço. Observava, atentamente, aquele recinto. Haviam alguns bancos espalhados pelo local, bem como um miserável campo de basquetebol, ao fundo, cujo cesto tinha uma rede metálica.

À minha volta, caminhavam comigo três guardas armados, para me protegerem. Rezei que nada acontecesse, pedindo mentalmente que, da próxima vez, eu não precisasse de estar tão perto de todos os reclusos. Chegámos à entrada para o edifício B, onde me iria reunir com o meu cliente. Vinha distraída a olhar para trás, quando senti o meu corpo esmagado, em cima de alguém. A cor laranja foi a primeira coisa de que dei conta.

Subi o rosto. Os meus olhos rapidamente foram atraídos por um olhar profundo e negro que me observava, atentamente. Eu tinha chocado com um recluso! Rapidamente, senti dois guardas puxarem-me para trás e outros três a agarrarem-no, com força. Encarei o rapaz, novamente. Era moreno, de cabelo escuro e bom físico. Não parecia muito mais velho que eu.

- Esperem... A culpa é minha. Fui eu que choquei com ele - defendi para que ele não fosse prejudicado por minha causa - Desculpa... - consegui pronunciar ainda um pouco gaga.

Ele soltou-se bruscamente dos guardas e recuou para dentro do edifício em passo pesado.

- Venha... É por aqui - a voz de um dos seguranças acordou-me dos meus pensamentos e continuámos a caminhar até à sala de visitas do outro lado do edifício.

Finalmente, parámos à frente da porta, onde em letras garrafais se lia "Sala de Visitas". Abriram-me a porta e entrei. Existiam somente duas ou três mesas com pessoas e uma vazia com um rapaz de fato laranja à espera de alguém.

- Pedro Sousa? - questionei, aproximando-me.

O rapaz subiu o olhar do tampo da mesa e encarou-me, com um olhar espantado. Talvez, pela minha idade ou pela minha indumentária. A verdade é que ele não era, de maneira nenhuma, o primeiro a olhar-me daquela maneira.

- Sim?

- O meu nome é Alice Matos. Sou advogada. – apresentei-me - Fui encarregada do seu caso. – e sentei-me na cadeira, em frente ao ruivo. Pousei a minha pasta, ao meu lado.

Never Say Never •• A.S. André Silva ••Onde histórias criam vida. Descubra agora