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*Alice*

Entrei depressa no prédio, puxando comigo o chapéu-de-chuva encharcado. Sacudi-o, minimamente, e segui até ao elevador. Marquei o piso 4, depois de fechar a porta do mesmo. Minutos depois, já me encontrava à porta de casa. Meti a chave na fechadura e rodei a maçaneta, abrindo a porta.

- Margarida, cheguei. - clamei, assim que pousei as chaves na mesinha da tarde. Despi o casaco e deixei-o no cabide, ali perto. Deixei a minha mala, ali na entrada, descontraidamente, e segui em passos calmos até à sala de estar. - Margarida! - voltei a chamar.

- Alice! - ela exclamou do quarto - Estou a planear as coisas para o meu trabalho de fotografia!

Sorri levemente ao ouvir a voz da minha irmã mais nova. Subi as escadas e parei à frente da porta do seu quarto. Abri-a ligeiramente e espreitei para dentro da divisão.

- Olá! - sorri - Posso entrar?

Reparei na desarrumação daquele quarto. Por todo o lado, haviam fotografias espalhadas e pedacinhos de papel cortado, para além da desarrumação normal de roupa, sapatos... Montes de fotografias polaroide, organizadas por tamanho e cor, em cima da cama.

-Hey, sim! – a Margarida respondeu, desviando o olhar da Canon, que tinha nas mãos

- Muito trabalho, pelo que vejo! - comentei, pegando algumas peças de roupa por ali espalhadas e pousando-as na cadeira.

- O que é que achas dessas fotos em cima da cama? – a minha irmã perguntou, ignorando totalmente o que eu tinha dito.

Sentei-me na borda da cama e peguei um dos pequenos montinhos de fotografias. Comecei a passar uma por uma.

- São lindas - elogiei, com um sorriso. A Margarida tinha tanto talento.

- Obrigada! O trabalho é sobre as origens... Por isso, decidi fazer sobre as origens do país e não sobre a origem da família... - à medida que falava, o seu olhar descia. Ela estava a recordar.

- Margarida... Tens de esquecer o passado... - suspirei, puxando uma mecha de cabelo loiro dela para trás da sua orelha - O importante é o futuro e apenas o futuro.

- Alice... - ela fez uma pausa - Tu sabes que eu te adoro e adora a nossa família... Mas, seria difícil, para mim, ver todos apresentarem fotos lindas da família numa casa linda e todos juntos, desde a mãe grávida, e eu ter de apresentar a nossa família atual, apenas a partir dos meus catorze anos. Portanto, prefiro fazer sobre o nosso país, todas as conquistas, os descobrimentos, as batalhas, fotos de todos os sítios onde passámos e deixámos marca. Tudo isso até à Eurovisão!

- Tudo bem. Faz como te sentires melhor, maninha! Se quiseres, ajuda... Só precisas de dizer - abracei-a levemente - Vou tomar um banho. O dia de hoje foi demasiado pesado...

- Olha a mãe disse que eu podia levar o BMW para ir tirar algumas fotos ao Porto! – ela contou, feliz da vida, por ir conduzir o carro da nossa progenitora.

- Sortuda! - sorri - Quem me dera ter a tua idade outra vez e poder simplesmente tirar fotografias por aí. Se eu soubesse que ia ter de andar a visitar o estabelecimento prisional, preferia ter sido apenas secretária! - baixei o olhar para o meu colo.

- Querias ter o meu talento, queres tu dizer! – ela defendeu, com um sorriso sério, mas totalmente fingido.

Eu ri e voltei a abraçá-la.

- Esse talento é só teu... Ninguém to tira!

- Blah... - a Margarida fingiu um vómito, dando a entender que eu estava a ser lamechas de mais

Never Say Never •• A.S. André Silva ••Onde histórias criam vida. Descubra agora