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*André*

Cheguei ao final do corredor, onde era o quarto da Alice. Quando me preparava para entrar, dei de caras com uma rapariga loira. Os seus traços eram semelhantes ao da rapariga que permanecia no meu pensamento desde que soubera que estava internada. Devia ser a irmã

- Olá? Quem és? - ela perguntou. O seu rosto parecia cansada e os olhos estavam vermelhos. Devia ter estado a chorar. Estaria a Alice bem?

- Olá... Sou um amigo da tua irmã, o André.

- Como soubeste? - perguntou a rapariga, confusa.

- A Márcia disse-me. Fiquei preocupado. Como está a Alice? - não hesitei em questionar.

- Eu não sei... Eu não sei nada... - a rapariga baixou o olhar, triste.

- Mas, os médicos disseram alguma coisa? Eu sei que foi o namorado que provavelmente lhe bateu...

- Quem? O Bernardo? Achas?

- Tenho a certeza. A Alice contou-me... Mas, posso não ter a certeza - encolhi os ombros - Posso ir ver a tua irmã?

- Sim, podes... Eu.. vou... Ham... Lá fora-a rapariga disse, ajeitando o cabelo e saindo do quarto

Aproximei-me da cama, onde, profundamente, dormia a Alice. O rosto dela estava inchado. Ela tinha sido espancada. Passei-lhe levemente a mão no cabelo, aquele cabelo no qual já tinha tocado milhares de vezes. Sentei na borda da cama e peguei a sua mão fria. Queria que aqueles olhos perfeitos se abrissem e me encarassem.

Porque é que me sentia assim? Não podia estar a apaixonar-me, eu nunca me apaixono por ninguém. Eu não podia envolver a Alice na minha vida. Já tinha imensas pessoas em risco por minha culpa. Eu nem sei porque a vim ver ao hospital, afinal eu não posso gostar dela. Ou melhor, eu não gosto dela, só me excito com ela. Estava confuso, baralhado e deixei-me levar pelos meus impulsos.

Olhei o relógio na parede. Os quinze minutos dados pela Márcia já haviam passado. Quinze minutos a admirar a beleza da Alice. Tinha de me ir embora

- Promete-me que vais ficar bem? - sussurrei e beijei a testa da Alice, antes de sair do quarto – Recupera depressa, sim?

Deixei a loira sozinha, dormindo profundamente, tomando caminho de volta ao carro. Encontrei a irmã dela, no corredor. Agarrei o braço dela e murmurei:

- Não podes dizer à Alice que estive aqui!

- Porquê!?

- Apenas não contes, por favor! - pedi sério e desci para a saída.

Quando caminhava pela rua até ao parque de estacionamento, vi ao longe um carro preto velho parado. De lá saíram dois homens, duas caras conhecidas. Ele sabe! Ele sabe que saí da prisão para vir ver a Alice! Como é que descobriu!?

Apressei o passo e cheguei ao carro. Abri a porta e entrei.

- Estás bem? - a Márcia perguntou - Estás pálido!

- Acelera, não faças perguntas!

- Mas porquê?

- Mete a porra do pé no acelerador e, se for preciso faz pião, mas tens de sair, daqui o mais rápido possível! – berrei, furioso.

- André, estás-me a assustar-me! - a Márcia fez marcha-atrás e arrancou para fora do parque de estacionamento - Explica-me o que se está a passar! André, vais me explicar o que se passou para desatares aos berros comigo e me mandares arrancar! O que é que se passa!? - continuava a insistir.

- Não estávamos seguros – retorqui, ríspido, perdidos em pensamentos. Como é que ele conseguira detetar-me fora da prisão tão depressa!? Pensei que tinha deixado de ser controlado!

Never Say Never •• A.S. André Silva ••Onde histórias criam vida. Descubra agora