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*André*

- Vê lá por onde andas, filho da mãe! Mais um encontrão desses e podes ter a certeza que te parto a boca toda! – um dos muitos criminosos que por ali vagueavam àquela hora já tardia da noite, começou a protestar, assim que, por acaso, lhe dei um pequeno encontrão, por não haver espaço para duas pessoas passarem por entre as mesas e cadeiras no refeitório.

- Ai é?! Quero ver até onde essa tua coragem te leva! – ri, irónico, sem me virar para o encarar sequer. Havia sempre aqueles que, coitados, achavam-se melhores que todos, enfim! – Vá, anda cá bater-me!

No entanto, a verdade é que não esperava que, segundos mais tarde, o punho fechado do idiota que me provocara estivesse, literalmente, esmagado na minha cara. Senti o rosto arder, perto do nariz, onde me tinha acertado. É claro que não fiquei quieto! Com toda a força bruta, espetei-lhe um murro mesmo bem dado no sobreolho. O idiota desequilibrou-se e caiu, mas nem assim desistiu de abrir guerra comigo. Desatámos os dois à pancada, no meio do refeitório.

Os reclusos que por ali estavam juntaram-se à nossa volta. Óbvio, que ninguém fez questão de nos separar! O que é que era melhor do que "porrada" ao vivo para aquele bando de desocupados?! Foram precisos três seguranças aparecerem para toda a confusão dispersar e a nossa briga de recreio terminar – dois para me segurarem e um para o totó do dia. Mais um para me irritar naquela espelunca, brilhante!

- Mas, que porcaria vem a ser esta!? – um dos guardas, o melhor, o segurança-mor daquele edifício, Vasco Guerreiro, berrou – Toda a gente para as celas, imediatamente! Desde quando é que isto é um ringe de luta livre, posso saber!? E, tu, Silva?! Sempre metido em problemas! Estás com ideias que querer ficar aqui, mais algum tempo!?

Ah, esqueci-me de explicar! O Guerrerinho era aquele tipo que dava ordem para se iniciar um processo de saída prematura ou extensão da pena. Ou seja, se aquele idiota tivesse vontade disso, eu ficaria a apodrecer na cadeia o resto da minha vida! Além disso, eram escassas as vezes que ele autorizava alguém sair antes do término da pena, mesmo que fosse bem-comportado. A simpatia em pessoa, basicamente. Já vos falei a quantidade de vezes que tivesse vontade de lhe mandar uma pêra?!

- Eu estava só a aquecer os punhos. Alguém decidiu provocar! Devia controlar melhor os presos por aqui! – sorri irónico para o guardar, enquanto outro me empurrava, para me escoltar de volta para a minha cela – Há por aqui muito "gayzolas" a pedir confusão.

- Oh, seu filho da... - o outro recluso tentava soltar-se dos seguranças e vim até mim, por o ter insultado. Mas, o que foi que eu disse? Alguma mentira?

- Levem-no de volta para a cela, mas primeiro que passe pela enfermaria, para tratar desse lábio – só aí é que tomei conta de que do meu lábio inferior escorria um pequeno rio de sangue e que este estava, talvez, só um bocadinho inchado. Ossos do ofício! – Espero que acalmes essas hormonas, Silva, senão vou ter de tomar medidas! É o terceiro conflito em que te envolves, nessa semana!

- Só não me envolvi em mais, porque outra pessoa meteu as mãos no fogo por mim – encolhi os ombros, justificando-se – Como acabei de dizer, alguém tem de meter a ordem nesta cova!

O guarda não respondeu. Provavelmente, por saber que eu estava certo. Apenas, assentiu para os seus homens que me levaram até ao encontro da Márcia, num dos blocos de enfermaria, ali pertos. Era ela que estava a fazer o turno da noite, naquela madrugada.

Deixaram-me na enfermeira e ficaram do outro lado da porta, a guardarem-me como cães, como se eu não soubesse que, assim que saísse dali, teria de ir para o meu beco. A Márcia estava ao telemóvel, assim que entrei. O seu semblante era de alguma preocupação e a maneira com que roía as unhas dava para ver que alguma coisa se tinha passado. Assim que ela pousou o smartphone não hesitei em perguntar:

Never Say Never •• A.S. André Silva ••Onde histórias criam vida. Descubra agora