Depois de comer um pedaço do meu bolo e colocar um pedaço para Ana eu a levo para o meu quarto. Coloco o bolo em cima do cômoda e forro algumas colchas em baixo da cama e lá coloco Anastásia. Puxo um pouco a os lençóis da cama e eles encosto o chão. Não quero correr o risco que ele a veja, sei que a machucaria.
Cuidadosamente coloco Ana deita lá em baixo e deixo meu carrinho vermelho ao lado. Talvez ela goste. Cubro-a e depois deito na minha cama. Mamãe passa pelo quarto e apaga a luz depois fecha a porta, logo eu ouço ele chegar fazendo barulho no piso de madeira com suas botas. Fecho meus olhos apertados e oro baixinho para ele não vir aqui. Não quero que ele descubra Ana.
Ouço a porta ser aberta, mas mamãe lhe diz alguma coisa que o faz fechar a porta. Solto um longo suspiro e tento dormir. Remexo-me e remexo-me sobre a cama, mas parece impossível dormir.
Ouço gritos e sei que ele está machucando mamãe. Sinto vontade de levantar e ir lá protegê-la, mas eu não posso mamãe não me deixa, e ele me bateria de novo.
Ouço um chorinho baixo que faz meu coração doer.
Anastásia.
Viro-me na cama e me debruço um pouco levantando o lençol, ela me olha e vejo que está chorando.—Shii... —Digo colocando o dedo sobre a boca. —Ele não pode te ouvir.
—Ele quem? —Ana pergunta.
—O homem mau. —Digo sussurrando. —Agora volte a dormir.
—Eu quero meu papai Christian, estou com medo.
—Tudo ficará bem Ana, apenas pense em coisas boa e volte a dormir.
—Eu não quero dormir, eu quero o papai.
—Você é chata!
—E você um bobo! —Ela diz e vira para o outro lado.Não gosto de brigar com ela.
—Você gosta de bolo de limão? —Pergunto sorrindo.
—Bolo de limão? —Ela vira e faz uma careta engraçada. —Gosto.Levanto-me rindo de sua careta e lhe entrego o prato de bolo, ela fica de bruços e começa a comer o bolo.
—Por que eu tenho que ficar aqui embaixo? —Ana pergunta.
—Para ele não te ver.
—O homem mau?
—Sim.
—O que acontece se ele me vê?
—Ele bate na mamãe, e em mim, e pode te levar embora.
—Eu não quero ir embora.
—Eu não quero que você vá, por isso fique quieta ai embaixo. —Ordeno e arrumo o lençol.Deito-me sobre a cama e solto um longo suspiro.
—Christian? —Ana sussurra.
—O que foi? —Pergunto olhando para o teto.
—Você pode segurar minha mão? O papai fazia isso quando eu estava com medo.Rolo para o lado um pouco e estendo minha mão do lado da parede, sinto quando Ana segura sua mão na minha e a aperta, ela canta algo baixinho e logo para, é quando tenho a certeza de que ela dormiu.
Não solto sua mão, mas também não durmo, apenas fico me remexendo e revirando na cama.
A porta do meu quarto se abre e meu coração gela, aperto a mão de Anastásia e fecho meus olhos apertado.
Ouço suas botas de couro pisaram firme no chão. Minha respiração acelera quando sinto seu cheiro de cigarro perto de mim.—Não finja que está dormindo seu merdinha! —Ele diz batendo na minha cabeça e eu estremeço.
Faço silêncio para não acordar Ana e aperto sua mão suavemente.
Ele me dá outro tapa e diz algo que eu não entendo, mas sei que está me xingando.—Deixe-o em paz. —Ouço a voz de mamãe.
—Calada sua vadia! —Ele grita. —Não ouse me desafiar, você sabe o que te aconteceria. E você seu merdinha, levante antes que eu perca a paciência.
—Não levante Christian! —Mamãe diz firme e tudo fica em silêncio.Ouço suas botas de couro pisando no chão e me viro a tempo de vê-lo bater no rosto de mamãe, ela cai no chão e ele vai embora batendo a porta. Levanto-me correndo e ajudo mamãe a se levantar.
—Saia! —Ela diz me empurrando. —Volte para o quarto! Não saia de lá até eu dizer!
Mamãe me empurra para o quarto e bate a porta.
Caminho até a cama e me deito no chão, levanto o lençol e encontro pares de olhos azuis assustados.—Você pode sair agora. —Sussurro, mas Ana se encolhe e se afasta indo para o canto. —Não tenha medo, ele já foi.
—Ele bateu nela?
—Sim.
—E em você?
—Sim.
—Ele vai me bater?
—Não. Eu não vou deixar ele te bater.Entro em baixo da cama e deito ao lado dela segurando firme sua mão.
—Eu tenho medo dele.
—Eu também. —Digo baixinho.
—Mas se você tem medo, como vai me proteger?
—Eu não terei medo se tiver que te proteger.
—Promete?
—Prometo.PARTE NARRADA:
Os dias começaram a se passar e a Ana já estava mais adaptada à casa de Christian e Ella. Christian como sempre cuidava da mãe e agora da pequena Ana, por quem tinha um carinho imenso. Por mais que fosse confuso para ele cuidar de outra pessoa, ele gostava de ter Anastásia por perto, ela lhe fazia bem, e quando o cafetão o agredia, era Ana quem cuidava de suas feridas.
Ella amava o filho, de uma maneira diferente, mas que seria julgada amor.
Nos últimos dias ela fazia de tudo para proteger suas duas crianças do cafetão. No fundo tudo o que ela tinha era medo de que seu filho ou Ana tivessem uma vida parecida com aquela, e os proteger daquele homem grotesco, mesmo que para isso tivesse que apanhar, significava dar uma chance melhor aquelas duas crianças. Eles não mereciam algo assim. Uma vida como essa. Com drogas e prostituição onde tudo que se vê é a dor e a violência.
Quando Ella ficou grávida ela imaginou uma vida melhor para o filho. Mesmo que isso significasse ter que abrir mão de sua própria vida. Ela daria a Christian o que nunca teve. Não que fosse enchê-lo de beijos, abraços e amor. Ela não conheceu isso, e não saberia dar o que nunca teve, mas era algo parecido. De certa forma ela demonstrava o que sentia, e isso era o máximo que conseguiria.Seis semanas haviam se passado e Anastásia tinham sido mantida em sigilo, mas enquanto Christian e Ana brincavam no sofá mal imaginavam que o cafetão se aproximava.
Ana estava com seus cabelos solta e usava uma das blusas de Christian que ficava com um vestido nela. Ana pulava no sofá quando a porta foi aberta e ela se deparou com um homem com bota de couros, barba por fazer, um cigarro na boca e um olhar sombrio.
Os olhos da menina se arregalaram e ela parou de pular, se encolheu no sofá e antes que pudesse perceber foi puxada por Christian que correu para o quarto com ela trancando a porta.
O cafetão observou a menina por tempo suficiente. Ele entrou, fechou a porta e viu Ella parada a porta com um olhar de medo.—Quem é a menina? —Ele perguntou com sua voz ameaçadora.
—O nome dela é Anastásia. —Ella diz. —Eu a encontrei na rua.
—E resolveu trazê-la para dar mais despesas? —Ele disse rindo. —Aposto que não é você quem cuida da menina.Ella sentiu-se ferida. Por mais que não fosse perfeita e não soubesse como cuidar de alguém, ela cuidava de Christian e Ana usando todo o amor que lhe restava.
O cafetão caminhou até a porta do quarto, mas foi impedido de entrar por Ella que se pôs diante da porta.—Deixe-a em paz! —Sua voz de um tom de desafio que o fez querer agredi-la com toda sua força.
—Sai da minha frente vadia! —Ele gritou.
—Eu não vou deixar você encostar suas patas imundas nela. É apenas uma menina.
—Saia! —Ele diz mais uma vez, mas Ella sustentou seu olhar. O que o fez ter mais raiva. —Fique então, eu já a olhei por tempo suficiente. Ela me renderá um bom dinheiro.
—O que? —A mulher diz indignada com as palavras do homem. —Você acha que vou deixá-lo fazer com ela o que faz comigo?O cafetão deu uma gargalha grotesca que a fez ter nojo.
—Eu mando em você sua vadia! É graças a mim que você está viva, e aquele seu merdinha de lixo.
—Não fale do meu filho! —Ela gritou.
—Não me desafie sua vadia! —Ele gritou batendo em seu rosto, mas isso não a fez sair de sua posição. —Eu volto amanhã e espero que a menina esteja pronta, caso contrário, será pior para você. E para que você não tente fugir, eu trancarei a porta.Ele caminhou até a porta e saiu trancando-o.
O coração de Ella se desesperou. Em momento algum ela poderia deixar aquilo acontecer com Ana. Era horrível, a menina tinha apenas quatro anos, não poderia passar por tudo isso. Ela sabia que era a hora de fugir, e não mediria esforços para isso. Nem para salvar suas crianças.
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Eu e Você, Para Sempre
FanfictionChristian sempre foi um menino calmo, tímido e, mesmo convivendo com a sua mãe biológica e todos os problemas que cercavam os dois, ele sabia como se virar. Sua vida aos 6 anos era tenebrosa e com pouco amor, tendo que se virar quase sempre sozinho...