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Sai correndo do quarto em direção ao elevador, porém uma porta se abriu ao meu lado, com medo de Daniel me alcançar, entrei e me escondi na parede atrás da porta.  O rapaz que tinha a aberto se assustou.

-Ei, você rapaz, viu uma garota correndo? 

- Talvez tenha ido na direção das escadas de emergência.

Daniel saiu correndo em minha busca.

-Sem problemas. - E fechou a porta.

Provavelmente estava com um semblante de assustada, mas fora de perigo agora. Como pude me meter numa furada dessas? De novo. É sempre com esse tipo de cara que acabo me envolvendo. Quando vou ter um pouco mais de juízo e aprender com meus próprios erros? Talvez por ele ter uma diferença de idade maior, achei que fosse diferente. Um homem, não um garoto. Honesto, maduro, independente. Patético.

-Tá legal, ele já foi.

-Ele vai voltar.

- Parece que sim, mas ele foi pelas escadas. Acho que seu namorado precisa falar com você.

- Ele não é meu namorado, por Deus. Nunca foi e nem será.

-Você é amante dele?

- Uau. Direto assim. Respeito mandou lembranças. Sou Amy.

-Desculpe, não tô no meu melhor dia. É que, ele não parece fazer seu tipo.

- Você não me conhece, me acusa de ser amante e agora acha que sabe o tipo de pessoa que me atrai.

-Tudo bem, eu posso voltar lá fora e perguntar pra ele....

-Não, foi mal.

- Tá, tranquilo.

Ele estava muito sério. Provavelmente arruinei os planos dele pra essa noite.

-Ai cacete, eu tô atrapalhando você não é? Deve estar esperando alguém, não se preocupe eu vou embora logo.

-Não estou esperando ninguém.

-Veio para um motel sozinho?

-É. A vida tem dessas. Uma hora você tá em casa e na outra se encontra num motel, escondendo uma desconhecida. 

Mil coisas passaram pela minha cabeça. Ele poderia ser um agente secreto que veio pra matar alguém. Pode ser um assassino em série se escondendo. Vir a um motel sozinho não é lá algo comum, ele deve estar escondendo algo.

- Ah, obrigada. - disse meio sem jeito. Por mais rude que ele fosse, estava grata pela ajuda.

-Añ?

- Por me ajudar. 

-Sem problemas. Você precisa de algo?  um telefone? grana? 

-Não, tudo bem. Eu vou pegar um táxi daqui a pouco. Se importa se eu esperar meu coração voltar a um ritmo normal, e talvez a chuva diminuir um pouco?

-Sem problema. 

Me sentei na beirada da cama, ele estava sem camisa e estava bravo desde o momento em que o viu. Ele abriu o frigobar e tirou duas garrafas de água. Jogou uma pra mim. 

-Ele machucou você?

-Não.

-Tem certeza? Te insultou? Ameaçou?

-Tenho, ele mal encostou em mim. Ele não me maltratou, eu juro.

-Então por que saiu correndo dele?

-Por que veio parar em um motel sozinho?

-Tudo bem, entendi, não é da minha conta. Vim a trabalho.

-Você é um crítico de motel agora?

Ele sorriu, tem um belo sorriso inclusive. Deveria sorrir mais vezes.

-  Não. Mas bem que poderia ser.

-Não vejo nenhum computador, tablet ou algo que possa se relacionar a trabalho, sua mala de roupa está jogada e parece que tem roupa pra uns 4 dias. Sem contar que estão limpas, tirando a camiseta  encharcada. 

- Tá chovendo lá fora, como deu pra perceber.

-Eu sei, por isso sei que você acabou de chegar, entrou no primeiro estabelecimento aberto que viu e não faz a mínima ideia do que vai fazer a seguir.

-Uau. Dpois sou eu que tiro conclusões precipitadas. É investigadora, srta. "eu observo tudo"? 

-Talvez eu seja.

-Diria que está em desvantagem. Eu sei seu nome, você não sabe o meu. Sei que está fugindo de um cara, e que alguma merda deve estar acontecendo pra você estar tão na defensiva assim.

- Não acho que eu seja a única nesse quarto que está fugindo de algo. E seu nome não me importa. E talvez eu tenha reparado nessas coisas visto que você não tem muito a apresentar. Fica difícil confiar num estranho sozinho no motel. Mesmo que tenha me ajudado, o que sou grata, mas, cá entre nós, não se pode confiar em muita gente hoje em dia.

-Essa doeu.

- Já te agradeci pela ajuda, mas eu não pedi por ela. Você poderia ter me entregado pra ele se quisesse, mas não quis. E se estou na defensiva é porque eu realmente não o conheço. Pode ser um serial killer, um contrabandista, um foragido...

-Não tem que se preocupar comigo.

-Ótimo. E nem você comigo. Alias, vou embora agora mesmo.

-Não seja idiota, tá caindo o mundo lá fora. Nenhum taxista arriscaria vir buscar alguém num lugar como esse, num tempo como esse, numa hora dessa.

-Maravilha. Vou andando mesmo. Foi um prazer estar na companhia de um homem tão... tão cativante como você.

Apanhei meu agasalho e bolsa, ia em direção a porta, mas fui impedida pelo rapaz de um metro e oitenta, talvez oitenta e dois. 

Ele segurou meu braço e me pôs virada para ele.

- Não vou deixar você ir nessas condições. Eu seria um irresponsável. Quem sabe quantos pervertidos estão lá fora, ou se você leva um tiro. Sabe que por aqui a barra é bem pesada.

- Não acho que alguém sairia de casa pra assediar mulheres com um temporal desses.

-Acredite em mim, um cara acorda seis da manhã pra roubar um celular, acha que seria diferente pra um sociopata? É melhor partir de manhã cedo. Eu não ficaria em paz te deixando sair daqui assim. Não sou irresponsável nem burro. 

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