Our Night

VIII

3:07

Ele levantou dou chão e esticou a mão para me ajudar. Parados a poucos centímetros um do outro. Cacete, ele era alto. Senti muita vontade de beijá-lo. Mas me controlei. 

- O que houve entre você e a Claire?

-Por que saiu correndo daquele homem?

- Você não vai querer saber. É inexplicável.

-Por que não tenta? 

Sai de perto dele e me sentei na cabeceira da cama. Não sabia ao certo qual seria a reação. Talvez fosse rir, como eu sei que meus amigos fariam o mesmo. Enfim, vale a pena o risco.

-Conheci o Daniel há umas semanas. Enquanto eu tirava fotos da paisagens, ele falava ao celular, quando desligou e veio em minha direção. Conversamos um pouco de lá fomos a um café. Ele pegou meu número e saímos algumas vezes, nada de mais. Hoje a tarde ele me mandou uma mensagem e combinamos de vir aqui. 

-Até aí, tudo bem.

-É, a partir dai fica complicado. Ele veio com uma mala pro motel. Achei que tivesse vindo direto do trabalho. Quando me buscou não percebi a mala. Ele me disse pra sentar na cama. Ficou de costas pra mim mexendo naquela bendita mala. Tirou dois saquinho com pó branco dentro. Disse que hoje iria ser inesquecível para ele. Iria ser uma das melhores transas.

-Aposto que você perguntou como seria essa "melhor noite".

- Aproveitei que ele estava virado o pó todo, peguei minha bolsa e saí do quarto. Sei o que as drogas fazem com o comportamento das pessoas. 

-Nossa.

-Obrigada por ter aberto a porta e me deixado entrar.

-Por nada, mas acho que você mais invadiu quarto.

-Por aí. E então? O que achou?

-Fez bem em fugir dele.

-Não vai rir? Porque analisando agora, é bem bizarro.

-Vou rir, mas com respeito.

- Tudo bem.

-Suponho que queira saber da Claire agora.

-Não precisa contar se não quiser.

- Sai mais cedo do trabalho. Cheguei em casa. Peguei ela na cama com outro cara. 

-Cacete. Você o conhecia?

- Sim. Era meu chefe.

-O QUE?

-Estou me transferindo pra uma empresa perto daqui. Por isso a papelada ali, e o que explica meu estresse todo. Não consegui ficar na mesma casa que ela. 

-Moravam juntos?

-Nos conhecemos jovens. Ela morava longe. Quando completou 18 anos veio morar comigo. Saiu de casa brigada com os pais. Estávamos apaixonados de qualquer maneira. Casamos. Vou vender aquela casa. Ela vai morar com o amante-meu-ex-chefe,  ou com uma amiga, ou ele vai ajudar ela, que seja. 

-Quando isso tudo aconteceu?

-Exatas 1 semana atrás. 

- Sinto mui..

-Não. Não precisa sentir. A relação estava desgastada já. Não sentíamos a mesma coisa como no começo. Não ia durar muito mais que isso. Só esperava que não fosse desse jeito. Traição de duas partes. Ela me fodeu. 

-Quer saber, deixa ela pra lá, você é bonito, inteligente, consegue qualquer garota que quiser.

-Você acha?

-Claro, consegue sem fazer esforço.

-Jura? Me acha atraente?

-Não usei essas palavras, mas é, considero você atraente sim. Tem problema com isso?

-De maneira nenhuma.

Agora quem estava envergonhada era eu. Acabei pensando em voz alta e deixei que ele soubesse que o acho bonito. Eu e minha espontaneidade.

-Parece que nos envolvemos com as pessoas errada, Amy.

-Não seria minha primeira vez nisso.

- Namorou um cretino antes do Daniel?

-Eu nunca namorei na verdade, não sério. Só tenho uns lances, sabe? 

-Mas por que?

-Ah, não gosto de namoro.

-Isso sem motivo aparente? 

-Vamos mudar de assunto, eu tô cansada.

-Amy?!

Levantei da cama e fui ao banheiro. Lavei meu rosto. Senti as lágrimas escorrendo junto da água em meu rosto. Que droga tava acontecendo comigo afinal? É certo que os sentimentos afloram na madrugada, mas nunca fiquei assim. Relembrar do passado é sempre difícil pra mim.Nunca suportaria ser magoada como foi pelo único garoto que me apaixonei aos 16. Sai do banheiro, ele estava de pé.

-Amy, me desculpa. Não quero te magoar.

-Não é culpa sua.

-O que aconteceu? 

-E-eu...

-O que fizeram com você?

-Não vou conseguir falar agora Sam. Me desculpa. Eu nunca consegui dizer sobre isso.

-Tudo bem.

Me deitei na cama, de costas para ele. Ele puxou a coberta e me cobriu. Que droga. Ele estava sendo muito bom pra mim. Talvez se eu falasse disso com alguém eu pararia de chorar quando lembrasse. Talvez ele soubesse a coisa certa a dizer.