-Como são pessoas como eu?
-O que?
-Você também disse, "não ia ficar pra ser ofendida por pessoas como eu," algo assim. Eu falei de você. Sua vez agora.
- Eu achei que fosse o tipo de pessoa que só se importa com seu trabalho. Negligencia tudo ao seu redor.
-Não está errada.
- Mas o que você fez por seus pais..
- Fiz porque os amo, mas não os vejo mais.
-Não significa que você os negligenciou. Você se importa.
-De que adianta me importar se eu não..
-EI! Você os ajudou. Isso mostra que se importa. Mesmo eles não sabendo o que fez, você sabe. Isso basta. É esse o sentido de ajudar. Você faz algo pra ver os outros bem, sem esperar um "obrigado" em troca. Dói, mas é real.
-É, acho que sim.
A tempestade parecia que não ia dar trégua. A chuva esmurrava as janelas naquela madrugada. Sam percebeu que fiquei sobressaltada quando a claridade de um relâmpago invadiu o quarto. Segundos depois estava tremendo e com os olhos fixos na janela.
-Amy, tá tudo bem? É só chuva.
Não conseguia dizer mais nada. Já passei por muitas tempestades sozinha, e toda vez me encolhia na cama, colocava fones de ouvido e ouvia música o mais alto que podia. Alguns amigos, que sabiam do meu medo, ligavam para me acalmar. A maioria das vezes dizia estar melhor e desligava em seguida. Nem sempre isso era verdade.
Sam agachou na sua frente e segurou suas mãos.
-Ei, vai ficar tudo bem, eu tô aqui com você. Olha pra mim. Você está bem. Está longe da chuva.
-Eu sim, mas tem gente lá fora. Tem animais.
-Olha pra mim. Animais são mais espertos que os humanos, você sabe. Eles conseguem achar abrigo facilmente. Tem igrejas perto daqui, alguém deve abrigar os moradores de rua. Não precisa se preocupar, vão dar um jeito.
Abracei, ali no chão mesmo. Me sentia segura e grata por estar com ele naquele momento. Sam retribuiu o abraço.
- Tenho medo de chuva.
- Não precisa ficar com medo.
- Acabo associando com catástrofes, acidentes... Sempre acontecem quando está chovendo.
- Acho que você anda lendo demais.
Ambos compartilhamos um sorriso. Estávamos sentados no chão agora. Ele estava sendo atencioso comigo. Aqueles olhos castanhos olhando diretamente nos meus. Como se ele conseguisse me perfurar com seu olhar. Mesmo sério era tentador. Mesmo amparador era irresistível.
- Ei, você disse que não tem amigos no trabalho, ou algo assim.
-É, por ai.
- Não deixa as pessoas se aproximarem de você?
-É.
-Eu não entendo.
-O que?
-Não sei se consigo me expressar, mas, você é sociável, e introvertido. Quer dizer, você fez várias coisas, deve conhecer muita gente..
-O que isso tem a ver?
-Você transparece confiança quando fala. Deveria usar isso a seu favor.
-Não significa muito.
-Significa sim. Eu te invejo nisso. Talvez se eu fosse mais confiante, minha carreira não estaria ainda tão, digamos, desconhecida.
- Por que não se sente confiante?
-Não sei. Sou insegura.
-Tem medo de não agradar as pessoas?
-Não. Também não ligo pra opinião delas. É, algo estranho em mim. Acho que... tenho medo de rirem de mim.
-Por que alguém iria rir de você?
-Não sei. É algum trauma de infância, acho.
- Escola?
-Todo mês nas aulas de literatura, tínhamos de ler um livro de nossa escolha e fazer uma resenha. Depois apresentávamos para a sala. As meninas sempre escolhiam romances, os meninos pagavam as nerds da sala, ou usavam o charme que não tinham em cima das garotas, pra fazerem essa tarefa pra eles.
- E você?
- Eu me importava com o meu apenas. Escolhia os livros mais bizarros, uns de terror. Quando cheguei a falar sobre um livro escrito por um serial killer, começaram a me vaiar, me chamaram de louca, doente. Ai no final riam, depois desse dia, qualquer apresentação minha terminava com risinhos.
- Você tinha, ou ainda tem, gostos mais complexos. Só isso.
-Ainda tenho.
-Não percebe o quão forte você sempre foi?
- Eu fui?
- E é! Você tinha mentalidade pra ler esse tipo de coisa ainda na escola. E de fato, não é todo mundo que tem essa cabeça aberta que você tem. Garota, você dá de dez a zero nesses imbecis. E digo mais, se estudássemos juntos eu ia querer ser seu amigo.
Eu ri.
-Seria uma honra lanchar com alguém como você.
- Se trabalhássemos juntos..
-Provavelmente não teria paciência pra lidar comigo.
-É, porque continua me interrompendo.
- Provavelmente.
Ele piscou pra mim.
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Our Night
عاطفيةAmy é uma jovem moça que está saindo com um homem mais velho, porém com desejos um tanto quanto incomuns para ela. Na noite em que saem juntos ela acaba encontrando alguém que a faz enxergar sua vida com outros olhos.