De moletom e sutiã consegui ver que o deixei envergonhado. Suas bochechas estavam vermelhas, e ele desviou a atenção dos meus seios para janela.
- Olha eu nunca fui bom em manter contato com as pessoas, acabo afastando elas. Afastei quem amava. Sem esposa. Sem amigos. Minha família só aparece quando querem algo de mim. Não sou do tipo que consegue cultivar amizades.
- É impossível.
-O que?
-Você me diz que fez vários cursos, tem uma carreira em ascensão e que agora não tem ninguém. Tá tirando com minha cara, né?!
-É verdade.
- Eu não acredito nisso.
Seguimos em silêncio por alguns minutos. O relógio do criado mudo marcava 2:25AM.
-No que diz a família, eu entendo.
-Entende?
-Sim. Nunca consegui ser próxima de ninguém além de meus pais. E olha que eles são pessoas difíceis de conviver.
-Imagino você e sua família ao redor de uma fogueira tocando violão, e sei lá, saldando a lua.
-Antes fosse assim. Sou totalmente o oposto. Meus pais são pessoas muito metódicas. Minha família ignora qualquer forma de vida que não esteja condizente com a deles.
-Não entendi.
-Você me acha uma hippie do Greenpeace, certo?
-Bom...
-Digamos que, se eu digo que algo é prejudicial a eles, ao mundo, simplesmente não acreditam em mim. Então eu mosto, falo, eu basicamente apresento um mundo novo com boas alternativas, mas ninguém leva a sério. Sou motivo de piada entre eles. E a família é bem grande.
Sentei na cama e encarei o chão, enquanto ele me observava de pé. Ainda com sua blusa em mãos, desisti de fugir dele essa noite. Não acreditava no que estava fazendo. Abrindo-me para Sam. Contando sobre minha vida familiar. Acho que se ele souber de onde venho, não me julgará, como o fez.
-Quando sai da casa dos meus pais, eu disse que poderiam me visitar, todos eles. Nunca foram. Eu soube depois, que minhas tias acharam que eu dividia um alojamento, porque não tinha condições de me bancar sozinha. Meus primos falavam que eu morava no meio do mato sem civilização. Até me perguntaram como eu pagava minhas contas.
-Cretinos. E eles nunca te visitaram?
-Nem nunca me ligaram. Só sabem que ainda estou viva porque apareço em algumas festas de família. Eu visito meus pais algumas vezes ao mês. Agora como tenho viajado a trabalho não os tenho visto. Eles também não tem me procurado nesse tempo.
-Foi o que te levou a sair de casa?
- Não aguentava mais ouvir da boca deles o quão inútil e insignificante eu era dentro daquela casa. Tudo tinha que ser do jeito deles. Cismavam até com o creme dental que eu fazia. O jeito que eu dobrava as roupas era sempre errado, o quão mal eu dirigia, e porque eu quis parar de dirigir. Expliquei o lance da poluição pra eles, mas ele só se importaram com o dinheiro gasto na autoescola e a gasolina pro carro, que nem meu era. Nunca tive o apoio e respeito deles sobre eu ser quem eu sou.
Sam sentou-se ao meu lado na cama. Respirou fundo algumas vezes antes de começar a falar.
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Our Night
RomanceAmy é uma jovem moça que está saindo com um homem mais velho, porém com desejos um tanto quanto incomuns para ela. Na noite em que saem juntos ela acaba encontrando alguém que a faz enxergar sua vida com outros olhos.