III

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Sam levantou-se e buscou na mala uma camiseta. Depois de toda confusão no começo da noite, a adrenalina se esvaiu e ele deveria estar com frio. Pegou uma camiseta e uma calça de moletom e jogou na cama.

-Apesar do belo vestido, aposto meus dedos que ele não deve te aquecer.

-Não estou com frio, mas obrigada.

-Não precisa continuar na defensiva. São apenas roupas, garanto que não tem um gps instalado nelas. E, de qualquer forma, é mais confortável.

- Aposta seus dedos também?

Ele vestia a camiseta preta de manga comprida. Não consegui desviar os olhos dele. Era charmoso em cada movimento, como se cada segundo fosse precisamente calculado. E ele ficava bem de preto. Na verdade, acho que ele ficaria bem vestido com qualquer coisa. Merda,  estava prestando atenção demais. Apesar que uma pergunta eu posso fazer.

 -Você namora? - merda, não devo ter sido tão discreta-.

-Por que a pergunta?

-Bom, se meu namorado ficasse em um quarto de motel com outra mulher e eu soubesse por terceiros...

-Não.

-Ah.

-E você? 

- Visto o que você presenciou aqui...

-Ah, você saiu correndo dele como o diabo corre da cruz.

-Ele nunca foi nada meu. Nada de mais.

-Sem sentimentos?

- Sem sentimentos.

Ele sentou na beirada da cama enquanto estava na cabeceira.

- Não ligo.

-Para o que?

-Para qualquer coisa que esteja pensando a meu respeito. Provavelmente acha que sou uma vadia que sai com caras mais velhos por dinheiro ou para destruir famílias. Mas eu não sou esse tipo de mulher, logo, não me importo com sua opinião.

-Não te acho uma vadia. Nem que seja essa pessoa que acabou de descrever. E não estou te julgando. Na verdade, queria saber, como consegue se envolver com uma pessoa sem criar sentimentos.

-Você é homem. Deve ter vivido isso na adolescência.

-O que quer dizer?

-Bom, não sei sua idade, mas na minha época de adolescente os caras não queriam se envolver muito, se é que me entende.

- Tenho 26 e por incrível que pareça, nunca consegui ficar com uma pessoa, mais de uma vez, só por ficar. Só coisa de uma noite sabe. Nada além disso. Também nunca fui de ir em baladas, essas coisas.

- O que  fazia então?

- Aprendi a tocar bateria sozinho, fiz cursos, entrei pra faculdade.

-Quais cursos?

-O que mais gostei foi de culinária. Fiz algumas aulas de dança, das que tinham vaga na época. Fiz  pintura em tela, fotografia.. Acho que só.

-Nossa.

-O que?

-Quem diria, por baixo desse monte de músculos e braveza tem uma alma artista.

-Você tirou conclusões precipitadas. Sua vez.

-O que?

-Agora você sabe mais de mim do que eu sobre você.

-Não sou tão interessante assim.

-Experimente.

-Bom, 22 anos, blibliotecária, vegetariana, gosto de livros, música..

-Não é muito nova pra ser bibliotecária? - Ele sorriu com o canto da boca-

-Sempre gostei de estar adiantada é um defei....

-Quais tipos de música?

-Precisa parar de me interromper Sammy.

- Opa calma ai. Você me chamou de "Sammy"?

- Algum problema com isso?

-É, eu detesto que me chamem assim.

-E eu que me interrompam. Respondendo a sua pergunta, ouço muita coisa, varia com meu humor. Cada ocasião um estilo diferente.

- Sua banda favorita?

- My Darkest Day. Aposto que não conhece.

- Still Worth Fitghing For é minha faixa favorita

- A minha é Can't Forget You.

-É romântica então?

- To mais pra fodida no que diz respeito a amor.  Podemos mudar de assunto?

- Te entendo. Claro.

- A quanto tempo é vegetariana?

- Desde os 19 anos, eu assisti uns documentários e..

O celular dele tocou.  Ele foi em direção ao banheiro, quis deixar ele resolver o que precisava. Afinal já passará da uma da manhã, nada bom vem depois da meia noite. 

Enquanto vestia as roupas de Sam, acabei ouvindo um pedaço da conversa sem querer. Uma voz feminina berrava do celular, implorando pra ele voltar pra casa. Ele dizia que não, e que fizesse o favor de não ligar mais. Afinal de contas ele tinha alguém. Ótimo. Era bom de mais pra ser verdade, começamos a nos entender logo agora e tudo pelos ares. Não que quisesse ter algo com ele já que o mal conhecia. Mas também mal conhecia os caras com que saia, isso não seria um impedimento. Ele me ajudou no final das contas, e estava sendo um cavalheiro mesmo sem a conhecer, podia dizer isso de quantos? Nem sentia nada por Sam, mas ainda iria passar o resto da madrugada com ele. Bom, só umas horas. Depois nunca mais vão se ver.  Me sentiu tonta. Talvez fosse sono. É,  devia ser isso. 

Our NightOnde histórias criam vida. Descubra agora