Capítulo Cinco - Mais doce que seu sotaque

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O garçom acabou de deixar dois pratos de salada ceasar para nós. Dacre ainda está com as bochechas avermelhadas da pequena corrida que tivemos que fazer da estação de metrô até a ilha para chegarmos à tempo.

Nós chegamos na estação com tempo de sobra, mas a neve começou a cair mais forte, ficando difícil para caminharmos. Os ônibus estavam lotados, deixando-nos a opção de caminharmos até a ilha. E quando chegamos nela, nós nos perdermos e levamos quinze minutos para acharmos o restaurante no meio da nevasca.

O hostess não pareceu muito feliz com o nosso atraso, porém entendeu a nossa situação ao notar nossos casacos cobertos de neve. A pior coisa que poderia acontecer era perder a reserva. O homem de cabelos negros nos levou até nossa mesa. O restaurante estava lotado, exceto por uma mesa ao lado das janelas com vista para as docas e as pequenas embarcações. Ainda bem que não perdermos essa mesa.

Dacre estava maravilhado – ele me contou que perguntou a uma pessoa que trabalha com ele sobre um bom restaurante, ele o deu dois nomes e esse foi o seu favorito. As nossas saladas pareciam perfeitamente preparadas com suas folhas verdes e o molho escorrendo por elas antes de as devorarmos.

Estamos aguardando nossos pratos principais.

–Jura que você nunca tinha vindo aqui? – ele parece impressionado por eu morar aqui há seis anos e não conhecer esse e outros restaurantes da região.

– Você notou a classe desse lugar? Não é pra mim – dou de ombros, mas por dentro eu estou impressionada com cada detalhe.

– Nos conhecemos em um café local. – Ele para e pensa. – Da próxima vez que sairmos, você vai escolher o restaurante.

– Eu conheço um na Granville Street que todo o cardápio custa cinco dólares, sem taxas. – Ele faz uma careta. – O lugar vive cheio, sério, a comida é muito boa! Mas, se você quiser, podemos comer o macarrão mais famoso da cidade. Não é tão barato assim, porém comer lá é quase um ritual meu e da minha colega de quarto quando vamos bem na faculdade ou é alguma data comemorativa.

– Tudo bem, eu confio nos seus conhecimentos de Vancouver.

– Se não estivesse nevando tanto, eu falaria para até visitarmos o mercado do outro lado da ilha, mas eu acho que o transporte público vai parar em algumas horas.

– Não se preocupe, eu te levo em casa, se precisar. Quer dizer, eu não, o meu motorista é um local.

– Você tem um motorista? – soo surpresa.

– Podemos dizer que eu sou um ator em ascensão. – Ele joga seu charme.

– Não faz muita diferença, eu não sou muito de ver filmes.

– Nem seriados?

– Alguns. – O olhar dele está me julgando. – Não é minha culpa se eu prefiro palavras e momentos inanimados e eternizados nas páginas de um livro. – Levanto os braços em sinal de inocência. – Vai me julgar por ser vegetariana também?

– Não, claro que não. Na verdade, eu fico muito feliz por ter o dobro de bacon na minha salada!

Nós rimos baixinho mesmo com todos os sussurros e talheres batendo contra os pratos ao redor. O garçom aparece ao lado da nossa mesa, eu até penso que ele vai pedir para falarmos mais baixo ou algo assim, mas ele só veio deixar nossos pratos.

Para mim, um macarrão sem nenhum tipo de carne e livre de glúten. Para Dacre, um hambúrguer que parece ser um pouco maior que as minhas duas mãos juntas. Eu bebo o meu suco de laranja para disfarçar a minha risada.

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