Dacre disse que está chegando. Ai meu Deus, ele está quase chegando! Eu já fui no supermercado umas quinze vezes essa semana, perguntei para Sam que roupa deveria usar e ainda fiz questão de dar um jeito nessa sala. Mas as coisas não parecem em ordem e eu tenho medo do que ele vai pensar quando eu abrir a porta. Talvez ele se decepcione um pouco, não sei.
Já tomei um banho e vesti o meu pijama – uma camiseta dois números maior do que eu, calça larga e meia. Estou conferindo o meu celular e com raiva da Sam por ela não me responder. Eu estou ansiosa. Eu estou subindo nas paredes mentalmente. Meu Deus, eu acho que estou surtando.
A campainha toca e eu corro até a porta. Certeza que é o Dacre, nem preciso conferir no olho mágico, o perfume dele já está invadindo o meu apartamento.
Abro a porta e ele está do outro lado com seu sorriso meio cafajeste e uma mochila nos ombros.
– Ei – ele passa a mão pelo cabelo. – Cheguei na hora.
– Espero que não esteja de mudança – aponto para a mochila e deixo ele entrar.
– Eu não podia vir da gravação para cá de pijama, Laura. – Ele tira o casaco e o pendura na cadeira da mesa de jantar.
– Você teve que trabalhar hoje?
– Nada impossível de dar conta. Ainda tem maquiagem no meu rosto? – eu até tento conferir, mas ele se afasta para olhar o apartamento, as paredes sem cor preenchidas por fotografias e estantes de livros. – Apartamento legal.
– Obrigada.
A sala de estar faz parte de um cômodo que eu e Sam chamamos de Cômodo da Sobrevivência. Logo após a porta de entrada, você dá de cara com a mesa de jantar de quatro lugares que nós compramos juntando moedas durante o ano. Se eu não tivesse organizado as coisas, teria duas pilhas de livros em cima dela e alguns casacos e camisetas jogadas pelas cadeiras.
Mais à frente, temos o sofá enorme que os pais de Sam deram pra gente quando reformaram a sala da casa deles de frente para a televisão que ganhamos em um sorteio na nossa antiga escola – no começo a gente pensou em vendê-la, mas decidimos guardar para nosso apartamento. Sim, Sam e eu planejamos morar juntas depois do ensino médio.
À direita da entrada temos a cozinha. Um balcão separa a sala da parte mais frequentada da casa. É apenas uma cozinha, mas Sam tem esse vício por decoração e a nossa parece tirada do Pinterest. É uma coisa de outro planeta e totalmente a cara da minha melhor amiga.
As janelas dão visão para a rua e o céu já escuro – odeio quando o sol se põe quatro da tarde, mas não tanto quanto odeio quando ele se põe dez da noite. Morar no quarto andar de um pequeno edifício tem certas vantagens.
O Cômodo da Sobrevivência tem tudo o que precisamos para nos movimentarmos pouco quando chegamos exaustas. Já perdi as contas de quantas vezes eu dormi no sofá, com um livro na cara e comida na mesa de centro.
E, à esquerda, no corredor, temos dois quartos e um banheiro. Nada demais por lá.
– Você quer que eu cozinhe algo ou vamos pedir comida? – Dacre projeta seu corpo para se sentar no balcão.
– Pedir comida dá menos trabalho. – Cruzo os braços e me apoio no sofá.
– Ok, onde é o banheiro? – aponto para a porta do meio. – Eu vou colocar o meu pijama e tirar essa maquiagem da minha cara – ele abre a mochila e tira o notebook de dentro dela – enquanto você conecta a sua televisão, pode ser?
– Não tem nenhum desses filmes na Netflix não? – aproximo-me para pegar o notebook.
– Infelizmente não. – Ele me beija rapidamente. – Você achou mesmo que rolaria algo como um Netflix and chill aqui? – ele ri.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Sotaque | ✓
Cerita PendekDois estranhos em uma cafeteria. Ela parecia habitar ali, com seu café e notebook. Ele destoava, era um completo estranho. Ele tinha um sotaque facilmente reconhecível, ela fingia todos os sotaques do mundo para tentar se esconder. O jeito de pronun...