Capítulo Seis - É perigoso andar pela nevasca

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– Eu sou a mais velha de três irmãos e eles são bem mais novos de que eu. Quando eu me mudei para cá e nevou pela primeira vez, eu filmei e mandei para eles. Dois pirralhos desesperados foi como meus pais os descreveram. Eles queriam mais que tudo brincar na neve.

– E eles conseguiram? – Dacre desvia seu olhar do chão completamente branco para meus olhos.

– Levaram os dois em um simulador de neve no sul do Brasil e eles desistiram na mesma hora quando colocaram as mãos na neve e quase perderam os dedos. – Rio como se tivesse visto aquela imagem ao vivo.

– Como você consegue rir disso?

– Meus irmãos são dois pestinhas. Vai por mim, eles mereceram.

Estamos caminhando em meio a neve até o metrô. Dacre até deu a ideia de chamarmos o motorista dele, mas eu não me importo de andar pela neve por aí com ele – se eu estivesse com Sam, ela já estaria pagando o rim para chegar em casa de táxi.

A neve deu um tempo, mas começou a chover. E sabe o que é pior que neve na calçada? Gelo, gelo por toda parte! Eu sinto como se fosse escorregar a qualquer momento com essas botas que ora afundam na neve, ora parecem deslizar por algum pedaço de gelo que eu não percebi.

– Você está com medo de cair? – ele pergunta.

– Um pouco – continuo olhando para o chão.

Dacre estende o braço para mim e eu o agarro sem pensar duas vezes. Se é para cair, melhor cairmos nós dois para rirmos juntos. Ele aperta meu braço forte contra seu corpo.

– Agora eu acho que você não vai cair.

– Eu espero.

Alguns metros depois e estamos dentro da estação de metrô. Decidimos voltar para o centro da cidade e esperamos na plataforma. Dacre me conta que é filho único; sua mãe é canadense, seu pai neozelandês e ele nasceu na Austrália, onde ele e os pais residem quando não estão trabalhando na indústria cinematográfica.

– Eu fico meio ofendido quando você diz que não curte filmes ou seriados. – Ele comenta no metrô.

– Eu fiz aulas de produção de roteiros, se isso te anima um pouco.

– Olha, você decide: semana que vem, maratona dos meus cinco filmes favoritos, no seu apartamento ou no meu.

– Você tem certeza que está filmando um filme? De onde sai tanto tempo livre?

– É desumano filmar nos finais de semana, todo mundo sabe disso, é uma verdade universal!

– Sério?

– Sim. Só quando o cronograma está corrido que eles fazem a gente virar de sexta pra sábado para gravar e aproveitar o tempo, ainda mais se for uma cena noturna. Mas como essa produção está adiantada, eu posso sair com você.

– Legal – mordo meu lábio inferior e penso em algo para manter a conversa. – Como é a Austrália?

– Olha, deve ser quente como no Brasil – ele responde rapidamente. – Aqui em Vancouver chove muito, não é?

– Raincouver, meu amigo, Raincouver. Duzentos dias de chuva, daquela fininha que o seu casaco aguenta. E, olha, a neve não chegava aqui há anos. Mas desde que me mudei, neva por duas semanas e depois tudo está verde e cinza novamente.

– O que você faz no verão?

– Caminhadas no parque para espairecer e algumas roadtrips até a Califórnia caso tenha grana sobrando.

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