Em agosto recebi a notícia de que minha madrinha tinha piorado, e logo lágrimas vieram, senti uma enorme vontade de chorar, só que não chore, pois não queria que percebessem o que estava sentindo.
Mas aquela notícia tinha me pegado de jeito, senti um enorme aperto em meu coração, mas nunca passou na minha cabeça que ela poderia morrer, mas eu sentia uma dor enorme por ela.
Todos os dias eu chorava, pois a cada dia ela piora a mais, ela chorava de tanta dor, era viagem atrás de viagem, internação em hospital, até que chegou o momento de enfrentar a temerosa quimioterapia.
Aquele foi o pior momento para todos nós, lembro-me como se fosse ontem, quando os cabelos dela começaram a cair, foi o pior dos momentos, ela tinha medo de que isso acontecesse, quando os cabelos dela começaram a cair, num gesto solidário o filho dela raspou o cabelo, ficou careca para mostrar que estava com ela nessa.
Foi muito doloroso ver ela chorando de dor e tudo mais, pois para muitas mulheres o cabelo é algo muito marcante, minha madrinha começou a ficar com a autoestima baixa, não queria sair, não queria que os outros a olhassem de forma estranha, com o tempo e com o apoio da família e dos amigos ela foi tomando coragem, ela até apresentou uma boa melhora, e fiquei extremamente feliz, acho que não tem nada melhor do que você ver as pessoas que você gosta , pessoas que são importantes para você feliz.
Nesse período difícil eu encontrava apoio/abrigo nas lâminas, não conseguia desabafar com pessoas, mas conseguia de certa forma aliviar de certa forma aquela dor através dos cortes que fazia, embora não era o certo mas, o que fazer quando ninguém te escuta e você precisa desabafar, precisa colocar para fora tudo o que está sentindo? Sempre me perguntava isso, e nunca obtive resposta.
E assim foi sendo a minha vida durante esses meses, indo para a escola, me cortando, e nunca, nunca desabafando com ninguém, eu não me sentia importante para ninguém, mas tinha uma coisa que não sabia, minha madrinha sabia pelo que eu estava passando, mesmo eu nunca ter falado com ela sobre isso.
Em um certo dia que eu tinha ido na casa dela, ela me chamou para conversar.
Madrinha Márcia: Querida, por mais que você consiga esconder todas essas marcas em seu braço, sei o porque é sei o que você sente.
Thaís: Como você sabe madrinha? Nunca falei com você sobre o que sentia nem nada.
Madrinha Márcia: Por mais que você não me conte nada eu sei, te conheço muito bem, sei que fica triste com o que está acontecendo comigo, mas não precisa fazer isso.
Thaís: Mas como foi aliviar essa dor que sinto? O que acontece contigo me afeta de uma maneira inexplicável.
Madrinha Márcia: Pode confiar em mim, desabafa comigo, sempre estarei contigo, independente da situação.
Thaís: Obrigada madrinha, precisava de alguns para desabafar, mas tenho medo.
Madrinha Márcia: Medo de que minha querida?
Thaís: De te perder, não aguentaria viver sem você.
Madrinha Márcia: Não precisa ter medo, se um dia Deus quiser me levar nada poderei fazer, mas sempre estarei contigo dentro do seu coração.
Thaís: Mas não suporto a ideia de nunca mais te ver novamente, nunca mais poderei te abraçar, conversar contigo.
Madrinha Márcia: Eu estarei junto de você sempre, nas suas orações, nos seus pensamentos, na sua memória.
Thaís: Mas não fisicamente.
Madrinha Márcia: Mas estarei te olhando lá de cima, jamais te abandonarei.
Thaís: Madrinha, não quero que você vá nunca, você é a melhor pessoa, sempre conto o que acontece comigo para você, você sempre me ajuda em tudo, não me abandone jamais por favor.
Madrinha Márcia: Também não gostaria de ir embora, mas um dia eu vou.
Thaís: Mas não quero que chegue logo esse dia, por mim pode demorar o máximo possível.
Madrinha Márcia: Minha querida não fique assim, se para mim é difícil imagino para você, você que é minha afilhada mais nova de todas, está sempre comigo.
Thaís: Não quero ficar sem você madrinha, tenho muito medo.
Madrinha Márcia: Não precisa antecipar seu sofrimento minha pequena.
Thaís: Promete que jamais vai me deixar?
Madrinha Márcia: Prometo, sempre estarei com você.
Thaís: Sempre.
Madrinha Márcia: Sim, sempre.
Oi gente, espero que tenham gostado, para mim foi muito difícil escrever esse capítulo, porque mexeu muito comigo, me fez relembrar aqueles momentos.
Mas espero que estejam gostando, não esqueçam de votar e comentar a opinião de vocês. Beijos...
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Como eu venci a automutilação
Non-FictionVou falar sobre a minha luta contra a automutilação, o que me fez começar a me cortar, o que me fez continuar, o que me fez parar, e como as pessoas reagiram ao saber que me cortava...