Capitulo 6

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    Eu estava sentada na margem do rio quando Juan chegou e se sentou ao meu lado.
    — Desembucha logo que eu não tenho o dia todo.
    — Eu tenho câncer.
    — O QUÊ?
    — Eu tenho leucemia, Juan. Não estou brincando.

    Ele ficou perplexo, fitando o horizonte sem falar nada. Quando olhei para ele do canto  de olho, percebi que uma lágrima escorria pelo o seu rosto até o queixo. Ele se virou e me abraçou. Eu contei para ele tudo que o médico havia me contado. Contei para ele que as chances eram pequenas mas que havia chance de cura e que eu precisava de um transplante de medula óssea. Ele ouvia com atenção.
  Eu tive uma idéia. Talvez ele não concordasse, mas eu precisava dele.
  Isso! Eu sou um gênio. Sempre soube.
  — Juan! Eu tive uma idéia fantástica! Eu sempre quis conhecer o Canadá e visitar chicago!
  — Eu sei disso.
  — Nós podíamos fazer essa viagem juntos! Mais ou menos uma semana de viagem de carro. Eu tenho R$ 856 dólares, dá para uma viagem de carro. Você topa?
   — Você enlouqueceu? Você tem que dar continuidade ao tratamento para ficar boa!
   — Mas as esperanças de a quimioterapia me curar são mínimas! Eu quero pelo o menos realizar alguns sonhos antes de morrer!
   — E com que carro nós iríamos? Você não sabe dirigir!
   — Nós iríamos no seu.
   — No meu?
   — Claro! A não ser que você queira esperar alguém inventar o teletransporte, imbecil.
   —  Eu não sei, Suzan. Acho muito arriscado para você.
   — Se você não quiser fazer, faça por mim, por favor!
   — Eu não sei, tenho que pensar.
   — Isso é um sim?
   —Não, isso é um talvez. — eu dei um grito de felicidade.
   — Obrigada! Muito obrigada!
   — Eu não disse sim.
   — Mas também não disse não.

   Voltei para casa e fiz uma lista de coisas que queria fazer antes de morrer.
  1°— Fazer uma tatuagem
2°— viajar para chicado
3°— conhecer o Canadá
4°— dar meu primeiro beijo
5°— Nadar nua sob a luz do luar — bem clichê, né?
6°— não morrer.
O último eu não tinha certeza se conseguiria fazer, mas tentaria.

    No dia seguinte, eu estava chegando na escola — minha mãe começara a me levar de carro para a escola— quando minha mãe falou:
  — você conversou com o Juan?
   Assenti.
  — Eu conversei com o diretor sobre a sua situação.
  — Ah não, mãe! Porque você fez isso? Que inferno!
  — E qual é o problema?
  — Todos vão me zoar !  Olha lá a menina com câncer! Coitadinha. É isso que vão dizer.
Minha mãe chegou na escola e eu desci do carro. Na sala de aula, enquanto a professora procurava seu livro na bolsa, Kevin gordo esbarrou em mim de propósito, em seguida, limpou a parte que havia encostado em mim.
   — Ai meu Deus! Eu vou pegar câncer! Socorro! Sai de perto de mim — falou ele em tom de zombaria.
  — Eu tenho câncer, não pereba, imbecil! Mas se você quiser levar outra porrada na cara eu te dou!
  — Que história é essa, Kevin? Sai daqui! Sua presença está me incomodando. Vá para a coordenação, agora! — falou a professora.

Todos aplaudiram a professora. Kevin saiu da cor rubra. Eu dei um sorrisinho e um tchauzinho para ele. Ele me mostrou o dedo do meio. No intervalo, Juan veio para o meu encontro.
  — Eu to dentro.
  — O quê? — perguntei incrédula.
  — To dentro da viagem. Eu topo. Quando partimos?
    Dei um abraço nele.
  — Pode ser na Sexta! Da tempo de eu me organizar. — Eu ainda teria dois dias para pegar um pouco mais de dinheiro da carteira do meu pai, da minha mãe, da empregada e da minha.  Daria tempo de escrever uma carta para os meus pais e... Droga. Eu ainda teria uma sessão de quimioterapia amanhã. Como eu odiava isso. Era como um chulé no pé, que você lava, esfrega e o mau cheiro não sai.
   — Combinado!

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