Um dia "feliz"

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Acordo umas 09:30, estou, por incrível que pareça, descansado. Fazia tanto tempo que eu não dormia tão bem, não sonhei nada, mas não me importo com isso. Porque ultimamente não sonhar significa não tem pesadelos, e isso é ótimo.
Desço as escadas em direção a sala. Minha mãe e meu padrasto estão lá.

Sabe, eu já me acostumei com esse cara dentro de casa. Ele não mora aqui mas está sempre presente quando eu acordo e quando vou dormir. Ele faz muito bem pra minha mãe, fazia tempo que eu não via ela assim, feliz.
Ele é um cara legal, tenta me ajudar no que for preciso. Uma coisa que meu pai nunca fez por sinal.
Espero um pouco pra falar alguma coisa, quero dizer algo que eu acho que eles vão gostar.

- Mãe, Aoi. Quero falar com vocês sobre uma decisão que eu tomei. Posso?

- Claro meu filho, estamos ouvindo. – disse minha mãe.

- Eu quero fazer um vestibular, voltar a estudar. Quero ir pra faculdade. Voltar a ter uma vida, já fiquei muito tempo fora.

- Meu Deus! Isso é ótimo! Eu fico tão feliz com essa decisão. Sua psicóloga está realmente de ajudando! – falou ela me abraçando.

- É, ela realmente está. – falo sorrindo.

Saio de casa um pouco, não vou muito longe.

Acho que eu não falei, mas a minha casa (na qual eu não estou indo muito) e a casa da minha mãe fica em um lugar da cidade cheia de árvores, praticamente uma floresta. Eu gosto disso.

Fui caminhando meio sem rumo, cantarolando uma música que me veio na cabeça, olhando as árvores e as plantas. Só agora que eu noto que eu estou num parque. Sinto que tem alguém ou algo me olhando, viro pra trás e vejo um gatinho preto muito pequeno. Ele veio e se enrolou nas minhas pernas ronronando. Me agacho e faço carinho nele, ele é muito magro mas não parece que está passando fome. Ele olha pra mim e vejo uma coisa que não via há certo tempo. Os olhos do gato, um era preto e outro metade verde metade azul.
É ele, só pode ser...

- Yurio? É você? – pergunto com alguma esperança.

Ele olha pra mim e mia, enrolando seu rabo na minha perna.
É ele, eu sei que é.
Vou perto de uma árvore e sento de costas pra mesma, ele vem atrás de mim.
Me sento no chão e ele senta no meu colo, ficamos ali por um tempo. Fico fazendo carinho nele, mas pelo visto acabo cochilando e quando acordo ele não está mais lá. Eu estou sozinho.

Olho o meu celular e vejo que não passou nem meia hora ainda. Mas mesmo assim, volto pra casa.
Eu ando pelo mesmo caminho que fiz pra chegar aqui, eu estou... feliz por assim dizer. Eu sinto como se eu tivesse conversado com o Yurio através daquele gato.

****

Chego em casa e subo direto ao meu quarto, ser ver que minha mãe está na sala.

- FILHO? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

- EU VOU FAZER UMA COISA QUE EU DEVERIA TER FEITO HÁ MUITO TEMPO. – gritei do meu quarto.

Vou na minha gavetas de meias e tiro uma mini caixa de lá. Fico olhando pra ela por um tempo até minha mãe me chamar.

- Filho, o que é isso?

- Eu tenho essa caixa dês dos meus treze anos. Sempre quis colocar ela no lixo, queimar... Nunca consegui. Sempre que eu tentava alguém fazia ou me falava algo e eu voltava pra ela.

- Filho... Isso é... – disse ela, não conseguiu completar a frase.

- É aonde eu sempre guardei as minhas lâminas, dês dos meus treze anos eu guardo essa caixa. Eu quero colocá-la fora. A caixa, as lâminas, tudo.

- Que ótimo. Eu não fazia ideia dessa caixa. Eu arrumava as suas roupas quanto tinha treze anos...

- Eu mudava de lugar, pra você não achar. Mas eu não quero falar sobre como eu fui fraco. Não sou tão forte ainda, mas eu quero colocar isso fora, você me ajuda? – perguntei a ela.

- Claro, claro meu amor. –disse ela chorando.

Eu coloquei fogo na caixa, fiquei olhando pra ela até ela virar cinzas. Minha mãe se livrou das lâminas, ela me disse que colocou em uma lixeira pública, ela achou muito "adulto" da minha parte eu querer colocar a caixa fora. Eu não acho que foi maturidade minha, eu só não preciso mais dela.

Nunca pensei que diria isso, mas eu...
Eu não preciso mais dela.

Eu Precisava De Um Demônio Onde histórias criam vida. Descubra agora