2 - O Encontro

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Melanie correu de volta ao estábulo abandonado. Ela estava com pressa de voltar, mas infelizmente demorou um pouco mais que o devido tempo quando ouviu os barulhos vindo do matagal.

Escondida atrás de uma árvore, pôde ver que eram vários homens e um deles estava em apuros, ela constou. Como uma pessoa prestativa, não pôde ser testemunha de uma morte. Sendo assim, fez algo por aquele sujeito desconhecido, mesmo que não fosse da conta dela.

Quando chegou novamente ao lugar que estava sendo sua casa no último mês - aquele lugar abandonado e esquecido no meio do nada -, ela encontrou Christopher. Ele ainda estava pior do que quando o deixara há alguns minutos.

Com todo cuidado que se podia ter, sentou-se ao seu lado e pegou sua cabeça para colocar em cima de suas pernas, então abriu a sacola que trouxera e tirou o que tinha encontrado. Primeiro duas bananas, onde uma ainda estava muito verde; uma maçã e um mamão pequeno.

"Veja Christopher, eu encontrei comida", ela disse.

Melanie não poderia perder seu irmão. Ele era tudo que ela tinha. A única pessoa que tinha no mundo. Se ele se fosse, a quem recorreria? Como viveria?

Mas o pobre rapaz de quinze anos estava muito enfraquecido. Mal conseguia respirar e o sangue parecia ter-lhe fugido da pele. Era notável que não muito havia para se fazer.

Em quatro meses, a vida deles havia mudado de um salto para outro. Eram filhos de empregados de uma família rica em Londres, mas os pais foram pegos roubando e então presos, sem ao menos poderem deixar algo aos filhos. A moradia onde ficavam, era parte dos benefícios do emprego; dessa forma, a jovem de vinte e três anos e o irmão adolescente, tiveram que sair do local, tendo que se virar no mundo da forma como puderam.

No início, Melanie manteve a cabeça erguida. Ela tinha esperança de que os pais seriam soltos. No entanto, depois de dois meses, descobriu que eles haviam se suicidado. Entrou em absoluto pânico, mas não podia se agarrar ao desespero quando tinha seu irmão consigo. Então ela lutou, tanto por ele, quanto por ela. Pela vida de ambos.

E agora estavam ali, morando naquele estábulo velho, onde ninguém aparecia ou lembrava. O irmão ficou fraco demais e o corpo não aguentou, contraindo algum tipo de doença. E ela já não sabia mais o que fazer. Estava aflita e desesperada.

"Abra a boca", pediu, enquanto tentava colocar um pedaço da banana madura na boca de Christopher. "Isso. Agora, mastigue." Ele tentou, a mandíbula fraca. "Muito bem. Vamos terminar logo se continuar assim."

Por fora, ela estava muito esperançosa e alegre mas, por dentro, era só horror e medo.

"Amanhã irei à cidade. Verei se acho algum remédio para você. Não se preocupe, meu irmão, melhorará logo."

Depois de algum tempo, ele voltou a adormecer e ela colocou novamente sua cabeça em cima das palhas amontoadas. Soltou um suspiro pesado e levantou-se, indo para a porta do estábulo, onde permitiu que suas emoções viessem à tona.

E chorou.

Aonde ela iria? O que faria? Melanie Johnson não era nada mais do que uma mulher qualquer e sem ninguém, com um irmão que precisava de ajuda e socorro. Não podia recorrer aos antigos patrões dos pais, porque pessoas que tiveram coragem de expulsá-los de uma casa sabendo que não tinham aonde ir, não seriam capazes de ajudá-los agora.

Um barulho estranho, seguido de um praguejo, a tirou de seu lamento e, mais que prontamente, ela desembainhou sua espada e levantou-se, ficando à postos para quem quer que fosse aparecer.

"Maldição!", ouviu e logo uma sombra saiu de dentro dos arbustos.

"Quem está aí? Eu estou armada!", ela avisou. "Não se aproxime!".

"Não tenha medo." A sombra foi tomando a forma de uma silhueta até que se fez ver um homem.

"Você", disse ela. "O que está fazendo aqui? Não deveria ter ido embora?".

"Perdão, senhorita, não pude deixar a curiosidade se esvair", ele respondeu e abaixou-se, esfregando a canela por cima das calças. "Acho que fui mordido. Ou picado."

Melanie segurou a espada mais firmemente.

"Lamento. Acho que você deve ir embora."

"Bem, eu não acho", a olhou, então tornou a levantar. "Diga-me, por que está no meio do nada? Não sabe que é muito perigoso?".

"Não é da sua conta, com todo respeito."

"Com todo respeito", ele repetiu, sorrindo. "Se me permite, milady, com todo respeito, não é adequado que fique vagueando pela floresta no escuro."

"Não estou vagueando", ela negou. "Moro aqui."

Melanie não soube por que, mas o homem ficou em silêncio por um tempo relativamente longo. Na verdade, ele nem deveria estar ali. Ela já o tinha salvo, já deveria estar bem longe, isso sim.

"Mora aqui?", enfim perguntou. "Aqui onde?".

Ela apontou para trás de si, e só então o homem pareceu notar que havia algo mais ali do que somente eles dois.

"Isto é…", ele hesitou, dando um passo à frente, ao que Melanie retrocedeu outro. "O que é isto?".

"Um estábulo."

"Um estábulo", ele repetiu. "Por que diabos a senhorita mora em um estábulo?".

"Não lhe devo explicações. Por favor, vá embora. Não tenho nada que lhe possa ser de proveito."

"Ora essa. Acha que quero lhe roubar algo depois de ter salvo minha vida? No mínimo, aprontar uma festa em uma sua homenagem. Não seria o suficiente nem assim."

Melanie não pôde evitar um sorriso e ficou feliz por só ter um pouco de iluminação dentro do estábulo. Não queria que aquele estranho a visse sorrir por uma ideia tão ilusória. Era claro que ela não teria uma festa para si, porque nunca tivera antes. Ela sempre se esforçara para que comemorassem o aniversário de Christopher, porque sabia como era ruim quando seus pais fingiam esquecer o dela. Não porque eram maus, mas porque lhes doía o coração não ter condições de dar nada a filha.

"Você está sozinha aqui?", o estranho insistiu.

Ela respirou fundo, mas continuou segurando a espada.

"Não, estou com meu irmão."

"Bem, menos mal. Mas onde é que ele está que ainda não veio ver por que está demorando a entrar?".

"Ele está doente."

"Mesmo?".

"Sim", ela respirou fundo. "Mas logo vai melhorar."

"Sim, ele vai melhorar enquanto uma tempestade se aproxima e vocês estão em um estábulo no meio de uma floresta sem aquecimento."

Ele estava sendo irônico, era óbvio.

"Acha mesmo que vai chover?", Melanie perguntou, em um sussurro fraco. Ela já sabia que o tempo andava estranho e deviam estar no inverno. Parecia que sua suspeita estava correta.

"Com toda certeza", respondeu ele, então deu mais alguns passos à frente, onde quase chegou muito próximo a ela, que agarrou o objeto em mãos com muita força. "Posso dar uma olhada em seu irmão?".

Ela balançou a cabeça e então ele pareceu não lhe ouvir, porque a tirou do caminho e adentrou a portinha do estábulo.

Noites ProibidasOnde histórias criam vida. Descubra agora