9 - Percepção

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"Ela é…" Kendrick começou.

"Encantadora" John completou.

"Eu ia dizer linda, mas encantadora também serve" sorriu. "Apenas me diga que, pelo menos, você não está na mesma casa que a garota?".

"Qual o problema?".

"Nós sabemos qual o problema." O marquês parecia estar se divertindo e John estava desesperado.

Não. Desesperado era pouco. Ele ainda estava sentindo a pele de seda da mão dela sob seus lábios. A sensação. O calor. A forma que ela se arrepiou e arregalou aqueles olhos da cor de pérolas negras para ele. Ela era… Uma tentação. O pecado.

"Eu não vejo problema, sinceramente" tentou ser evasivo, mas tinha a sensação de estar falhando. "A senhorita Johnson é uma moça tranquila e…".

"É uma mulher" o amigo interrompeu. "Apenas isso. Acaso você já viu o sorriso idiota que dá quando está olhando para ela? É digno de uns bons socos, se quer saber a minha opinião."

Duque gunhiu.

"Devia calar a boca já que come terra se minha irmã pedir."

O marquês fingiu-se pasmo, mas sorriu no final.

"Não resisto àquela mulher. Ela é tudo para mim" admitiu.

"Eu percebo."

"O que está em questão mesmo é que a garota é linda e encantadora, e agora está rondando este salão que tem um monte de cavalheiros solteiros. Não lhe dou um dia para que estejam chegando mensagens de toda a Londres para ela. Sem falar no dote que recebeu."

"Esta é realmente a intenção" John disse, mas só para calar Alex. Na verdade, ele não gostou daquele pensamento. A ideia de que Melanie estaria logo, logo, tendo encontros com alguns homens não lhe agradou. Ela era boa demais para qualquer um.

"Sua boca diz uma coisa e sua expressão outra." O marquês riu. "Acho que você está encrencado, meu amigo. Onde foi que encontrou esta menina, afinal?".

"Só o que importa é que ela precisava de ajuda e eu estou ajudando."

"Não ajude demais ou pode acabar em outros caminhos."

"Ora, mas se não é o duque John Roussel com a senhorita Johnson", Hawk falou, aparecendo do meio da multidão. "Acabei de conhecê-la" ele colocou a mão no coração, "acho que estou apaixonado."

Alex e ele riram.

"Direi isso à sua esposa" John rosnou.

"Não seja dramático" Hawk sorriu. "Você sabe que só tenho olhos para minha esposa. No entanto, Collin ainda está solteiro e Sophie estava apresentando ele à sua estimável dama."

"Ela não é minha dama" negou. "Apenas minha pupila. Estamos aqui justamente para que encontre um pretendente digno."

"Você está mesmo bem com a ideia de que seu amigo Collin fique com a senhorita?" Hawk ergueu as sobrancelhas louras. "Impressionante."

"Deixe ele, Hawk" Alex pediu. "John apenas está sendo prestativo com a jovem."

"Espero que quando você encontrar um esposo para ela, arrume também uma esposa para você porque, sabe, nós estamos cansados de ir aos bailes uns dos outros. Precisamos inovar", Hawk provocou.

"Esperem sentados. Não pretendo me casar ainda."

"Você não está ficando mais novo a cada dia, John" ele lembrou. "Já está com trinta e seis anos. Precisa de uma esposa e de herdeiros."

O duque sabia que era verdade, mas nunca tivera qualquer vontade de casar. Sua mãe havia falecido quando ainda era um menino e seu pai o criara com os irmãos, sozinho. Não tinha vontade de uma esposa. Mas talvez não fosse de todo ruim ter umas duas crianças correndo pela sua casa e lhe chamando de pai.

Ele balançou a cabeça, exalando uma lufada de ar.

"Me deixem em paz" pediu.

Hawk e Alex se entreolharam, em uma compreensão conjunta.

O duque saiu de perto deles e começou a andar pelas pessoas, procurando um pouco de claridade para a mente.

Estava sendo tranquilo ter Melanie em sua casa durante aqueles mês. Claro que estava. Eles quase não se viam. Só durante o café da manhã, ou na biblioteca às vezes pela tarde, ou até quando John a via em seu jardim, entretida com as plantas e flores; mas também em uma vez em que ele a observou em suas aulas de dança. Ela parecia aflita por não conseguir aprender tão rapidamente e o professor, já de idade avançada, mais aflito ainda. Foi divertido de se ver.

"Duque…". Ele saiu de seus pensamentos quando sentiu o toque em seu braço, por cima do tecido de sua roupa. Era um toque decidido a chamar atenção. "Que prazer em vê-lo."

"Senhorita…" ele tentou sorrir para a mulher que lhe olhava, buscando o nome dela na mente.

"Anne", ela completou.

"Anne" ele repetiu, desculpando-se.

"Não lembra de mim, não é?". Ela parecia decepcionada.

"Desculpe, eu não me recordo. De onde a conheço?" perguntou, envergonhado.

Ela ergueu as sobrancelhas e o deixou ali, parado no meio da multidão.

Ele nem teve tempo de se sentir culpado porque logo sua irmã apareceu em sua frente, toda sorridente.

"Sabe onde está a sua pupila?" perguntou, orgulhosa.

"Deveria estar com você."

"Ela está com Simon!". Sophie parecia mais do que contente. "Ele está nitidamente encantado com ela. Foram ao jardim, conversar em maior privacidade."

John controlou todos os impulsos para não gritar-lhe em como ela podia ter confiado Melanie com um homem em um jardim escuro.

Ele respirou fundo e perguntou, com a voz mais tranquila que conseguiu:

"Por que permitiu que um desconhecido a levasse para o jardim?".

"Não é um desconhecido, é Simon Ralston!".

Duque grunhiu e se apressou em caminhar a passos rápidos para a porta dos fundos, que levava ao jardim da casa do marquês.

Estava mesmo um pouco escuro, ele constatou assim que desceu as escadas. Havia uma fonte que jogava água para um pequeno lago e mais à frente, quase muito longe da casa e de toda a movimentação, ele os viu sentado em um banco.

Diferente do que pensou, Melanie não parecia desconfortável ou indiferente. Ela estava sorrindo lindamente e parecendo empolgada. Para e com aquele homem…

Claro, porque ele era Simon Ralston e não John Roussel.

Ele respirou fundo e virou-se, subindo novamente os degraus e aceitando o fato de que Melanie estava, talvez, conquistando seu futuro marido.

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