10 - Biblioteca

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Ela não estava conseguindo dormir, apesar de estar tentando há horas. Decidiu levantar-se e ir ler algo na biblioteca.

Levantou-se e saiu do quarto. Com a auxílio de uma vela, andou o corredor, desceu as escadas e pegou o caminho estreito que dava às portas do cômodo.

Estavam entreabertas e uma luz fraca já se fazia aparecer.

Melanie suspirou e empurrou um pouco, o suficiente para entrar.

A luz estava vindo da lareira e ela não viu ninguém no recinto, então fechou a porta e caminhou até a mesa de mogno, onde colocou a vela.

Deu uma olhada ao redor e resolveu aproximar-se da prateleira ao lado da porta, onde pegou um livro de Filosofia. Não gostava muito e sempre lhe dava sono, então achou ser a melhor opção.

Calmamente, ela caminhou até a poltrona marrom que ficava bem à frente da lareira, com os olhos nas letras douradas da capa do livro vermelho.

"A Filosofia e o Amor" leu em um sussurro e, quando achou estar próxima o suficiente, sentou-se no estofado, mas imediatamente levantou-se de novo em um pulo, o coração acelerado, quase saindo pela boca. O livro foi ao chão, em um barulho oco.

"Meu Deus" ela gemeu, sem fôlego, olhando para a poltrona e vendo o duque sentado. Ele não parecia nada menos que… à vontade.

Ele sorriu, olhando para a lareira e inclinou a cabeça para o outro lado.

"O que faz acordada a essa hora, senhorita Johnson?", perguntou.

Ela levou a mão ao peito, ofegante, tentando controlar a respiração.

"O senhor me assustou, milorde" disse, a voz arrastada.

"Deveria olhar onde senta, antes de sentar" ele riu. Um riso baixo e grave.

Ele achava aquela situação engraçada? Pois ela não. Estava quase sem ar que precisou dar alguns passos para trás, até encostar-se em uma prateleira de livros, para buscar apoio.

"O que faz acordada?", ele insistiu.

"Não consegui dormir e resolvi ler algo, para o sono chegar mais rápido."

"Sugiro que vá para seu quarto."

"Eu prefiro ler aqui" ela revelou. "O ar é mais quente."

John riu de novo. Dessa vez, ainda mais baixo.

"De fato, é" concordou.

"Desculpe, eu não sabia que estava aqui."

"Sei que não."

Ela mordeu o lábio e se perguntou por que ele estava olhando tanto para o fogo. Acaso estava com muito frio?

"O que achou do baile?", ele perguntou.

Ela se endireitou, a respiração normalizando.

"Foi ótimo" sorriu. "A marquesa Kendrick, sua irmã, é uma ótima companhia." E era mesmo. Um pouco alienada e extrovertida, mas muito agradável. Havia apresentado Melanie para diversas pessoas. Tantas que ela já não lembrava o nome de nenhuma.

Sorriu ao perceber isso. Precisaria se esforçar mais se quisesse mesmo fazer parte da sociedade.

"Está lembrando de Simon?", a voz do duque veio cheia de seriedade.

Ela balançou a cabeça.

"Como disse?" perguntou. Estava distraída.

"Você estava sorrindo. Lembrou-se de Ralston?".

"Oh, não" ela sorriu. "Estava apenas lembrando que…".

"Você o achou agradável?", John a interrompeu.

"Sim", Melanie admitiu. "Ele é um verdadeiro cavalheiro e nem mesmo riu de mim quando pisei em seu pé durante a dança, ao contrário, me confortou dizendo ser normal."

Ele assentiu.

"Considera-o um possível pretendente?".

"Não, de verdade" ela suspirou, então também olhou para a lareira, querendo ver o que de tão interessante havia ali. "Ele é muito perfeito para mim. Pelo menos, foi o que pareceu."

"Perfeito para você?".

"Sim. Me senti uma verdadeira estranha ao seu lado, como se eu não chegasse nunca à sua altura. Não é a sensação que quero ter com um esposo."

"Mas acabou de dizer que ele é uma boa companhia."

"Disse que é um cavalheiro" corrigiu ela. "E é mesmo, mas apenas como um amigo, talvez. Não o vi como um marido."

"Pareceu que estava bastante feliz em estar na companhia dele."

"Sim, eu estava. Mas não totalmente. Não é como se eu estivesse com você, milorde".

Ela censurou-se por admitir aquilo em voz alta, mas não adiantou de nada, porque o duque ouviu.

"Comigo?", ele a olhou então.

Melanie pensou em sair depressa, mas não fazia sentido, então maneou a cabeça com um sim.

"Eu me sinto…" pensou um pouco, "sinto leveza. Não preciso fingir saber algo que não sei e que não sou, porque você já sabe de onde eu vim. Estando com Simon eu percebi que ser da sociedade exige um quê de teatro também."

John riu e ela não percebeu em que momento havia se levantado, porque logo ele estava à sua frente, os cabelos castanhos se tornando escuros por causa da pouca luz. O cheiro masculino que emanava dele logo a atingiu e ela olhou para cima, encontrando o olhar brilhante.

"Você é perfeita assim como é", ele falou e ela prendeu a respiração quando sentiu seus dedos percorrerem sua face. Aqueles dedos grandes e cheios de calor, enviando mil ondas de sensações pelo corpo dela.

Era possível sentir-se tão vulnerável com apenas um toque daqueles? Era, sim. Porque era exatamente como ela estava.

"Ninguém pode dizer ao contrário" John continuou, um sussurro baixo, inclinando a cabeça em direção a ela e então desviou para o lado, até conseguir falar contra sua orelha. "E se disserem, não acredite, porque você é sim maravilhosa."

Ela exalou a respiração presa, que pareceu mais um pedido do que qualquer outra coisa. Um pedido pelo toque dele. Mais. Ela queria mais daqueles toques, com certeza.

Ele respirou contra seus cabelos, a respiração quente, e ela fechou os olhos, apoiando-se ainda mais na estante atrás de si.

Ele estava tão perto… Ela só precisava erguer a mão e iria tocá-lo. Só isso…

Então o duque se afastou, o suficiente para que ela sentisse frio de novo.

"Aqui está" ele falou, estendendo o livro que havia caído para ela. "Faça boa leitura e não demore a ir dormir."

Dizendo isso, ele lhe deu as costas e saiu pela porta, sem olhá-la mais.

Melanie suspirou e foi sentar-se na poltrona, que estava tão quente como seu dono.

Estava inquieta e assim ficou por vários minutos, olhando o fogo e perguntando-se o por que de não tê-lo tocado. Porque, se o tivesse feito, talvez não estivesse sentada ali, sozinha, mais uma vez… Como sempre.

Noites ProibidasOnde histórias criam vida. Descubra agora