Noites Proibidas

7 - A Pupila

"Uma pupila, não?" Hawk instigou. "Quem diria…".

"Tudo pode acontecer mesmo" Kendrick acompanhou o raciocínio do amigo. "Eu acho que não me impressiono mais com nada."

Duque Roussel respirou fundo e jogou as cartas na mesa. Já não suportava mais as piadinhas que os amigos estavam jogando em cima dele.

Levantou-se e foi até uma estante de bebida próxima, onde se serviu de algum líquido de cor escura e, com um só gole, sorveu tudo garganta a baixo.

Estava agoniado por ter que ouvir perguntas de todos os lados e, quando por fim decidiu ir até o clube de cavalheiros que frequentava, até mesmo nele teve que ouvir as mesmas coisas.

"Ignore-os, Roussel" Collin, o outro amigo que estava junto à mesa, pediu. "Eles só estão querendo encher sua cabeça."

"Apenas ficamos preocupados. Sabemos de muitos casos em que os guardiões acabam se apaixonando por suas pupilas" Hawk alfinetou.

"Mas nós sabemos que o nosso amigo apenas gosta de uns casos, não de mocinhas inocentes" Kendrick provocou junto.

Collin riu.

"Vamos lá, John, não deixe que eles te enlouqueçam" insistiu.

"Eu apenas estou tentando ajudá-la" resmungou, então soltou o copo sobre o móvel e caminhou para a porta, pegando seu casaco no percurso e saindo dali.

O melhor mesmo era se refugiar no conforto da própria casa, onde ninguém o perturbaria ou faria perguntas inconvenientes. Exceto porque a causa de tantas perguntas estava lá.

Há duas semanas, ele jamais imaginaria que sua vida tomaria um percurso tão diferente. Se tornar guardião de uma jovem era uma grande responsabilidade, ele constatou assim que anunciou o dote da garota.

Pretendentes de todos os lados começaram a enviar cartas, com pedidos para se encontrarem com a lady em questão. Mas, a verdade, John sabia, era só o dote que interessava para eles. Afinal, ele havia colocado cinquenta mil libras. E a senhorita Johnson ser uma jovem tão bonita, era um acréscimo.

Quando desceu da carruagem, rapidamente entrou em sua casa e livrou-se de seu casaco escuro e do chapéu, deixando-os ali em qualquer lugar. Precisava de água porque talvez o líquido que tivesse bebido estivesse muito forte e o deixara um pouco tonto.

Seguiu os corredores que o levavam até a cozinha e estranhou a iluminação de uma vela acesa.

"Nanna?" perguntou, ao ver a silhueta fina. Não podia ser Nanna, ela era mais robusta e menor.

"Oh!" um suspiro de surpresa, seguido do barulho de algo caindo. "Vossa Graça, não sabia que estava acordado. Desculpe."

"Ah, é você…" ele também suspirou.

"Sim, eu… Vim beber água. O senhor gostaria de algo?".

John se arrastou até um banco e sentou-se, com as pernas estiradas para frente, então assentiu.

"Água também, por favor."

Melanie assentiu e rapidamente foi em busca de água para o duque.

Ele estava preocupado com ela, para falar a verdade. Havia jogado muitas coisas em cima da jovem de última hora. Estava tendo aulas de costura, dança e etiquetas. Ela não reclamou de nada, isso ele percebeu, mas não devia estar tão bem pela forma em como sua vida mudou de uma hora para outra.

"Como está Christopher?", ele perguntou enquanto ela dava a volta na mesa para trazer-lhe a água.

O duque fez um esforço para não reparar na camisola fina de seda que ela estava usando. Ele realmente se esforçou. Devia ser parte das peças que a costureira havia feito para ela.

"Melhorando a cada dia." Seu rosto se iluminou com um sorriso.

O duque sorriu de volta e aceitou a água, bebendo de uma só vez.

"Fico feliz. E você, como se sente?".

"Bem" o olhou, meio analítica. "E o senhor, milorde?".

"Estou bem, também" ele riu.

"Tem certeza?".

"Sim, por que não teria?".

"Porque está sorrindo demais."

John gesticulou. Estava querendo que ela saísse de perto dele com aquela peça de roupa, principalmente quando podia ocorrer de não estar usando nenhuma outra por baixo; ou até mesmo de ele sair, mas estava sem forças.

"Esta camisola faz parte das roupas que encomendou na costureira?" perguntou, já não podendo se conter.

"Sim, essa foi uma das que chegou primeiro. Os vestidos devem chegar amanhã de manhã, para o baile à noite."

Ele ficou pensativo.

"É verdade. Amanhã é o seu primeiro baile. Como se sente?".

"Um pouco nervosa" admitiu, cruzando os braços, os seios ficando em evidência pelo movimento. "Mas penso em meu irmão, então fico melhor. Novamente, eu agradeço, Vossa Graça."

"Vejo que aprendeu algo nas aulas de comportamento" ele sorriu, levantando-se e ficando de frente para ela.

"Sim, eu não sabia que deveria chamá-lo dessa forma e me desculpo."

"Não ligo para isso" ele desdenhou. "Sabia que eu recebi muitas cartas de cavalheiros querendo estimar de sua companhia?".

"Estimar do meu dote, o senhor quer dizer" ela suspirou.

John não resistiu e ergueu a mão, tocando-lhe o queixo e levantando sua cabeça, para que ela o olhasse.

"Não diga isso" pediu. "Você é uma jovem maravilhosa e vão gostar de saber disso."

"Muito generoso de sua parte querer me animar, Vossa Graça, mas sabemos que isto não é importante."

"Claro que é" ele afirmou. Queria provar que era, mas não tinha como. Não ainda, pelo menos. Mas, quem sabe, quando ela se sentisse inclinada a algum dos pretendentes, visse isso. Certamente algum deles teria que perceber a coragem dela. Ela tinha lhe salvado a vida, afinal.

Melanie suspirou, sem qualquer convicção nele ou nela mesmo.

"Vamos lá, vamos dormir. Você tem um longo dia amanhã" ele disse, inclinando o rosto e depositando um beijo no rosto dela.

John recriminou-se imediatamente por isso. Ele nem soube porque havia feito isso, na verdade. Simplesmente lhe deu vontade e pareceu certo.

Mas não foi certo. Foi muito errado porque, quando aquele cheiro de sândalo e de algo doce lhe atingiu, irradiando da pele dela, ele gemeu.

Melanie deu um passo para trás, quase um pulo.

"Desculpe" ele falou, meio embolado. "Só quis… ser gentil. Sinto muito."

Ela fez uma reverência rápida e o deixou ali, sozinho e frustrado, enquanto mergulhava de volta no assento, com o coração acelerado.