6 - A Oferta

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Melanie estava tão satisfeita, que mal podia andar. Não sabia se o duque a havia achado uma esfomeada e, na verdade, pouco se importava. Estavam lhe dando um monte de comida de graça, era óbvio que ela tinha de aceitar.

Enfim chegaram a uma porta dupla de mogno, depois de percorrem um corredor e algumas outras portas. O homem tinha uma casa enorme de verdade.

"Chegamos" ele anunciou e soltou-lhe a mão para pode abrir a porta. Assim que o fez, gesticulou para dentro. "As damas primeiro."

Melanie sorriu e passou por ele, estarrecendo assim que percebeu que se encontravam em uma biblioteca enorme. Haviam mais de cinco prateleiras, todas grandes e preenchidas com livros de diversos tamanhos. Era mais do que encantador.

"O paraíso" John murmurou, muito próximo a ela, que recuou um passo e sorriu.

"De fato. O senhor deve passar bastante tempo aqui, eu suponho."

"Menos do que gostaria", admitiu e caminhou até uma poltrona. "Venha, sente-se aqui" apontou a da frente.

Ela foi, sem qualquer receio. Aquele homem não parecia lhe aparentar perigo, muito pelo contrário, ele estava lhe ajudando.

"Melanie Johnson" falou, pensativo, enquanto ela tentava não demonstrar o quanto o conforto da poltrona estava sendo esplendoroso para si. "O que a levou àquele estábulo?".

"Falta de moradia", suspirou. "Meus pais morreram e ficamos sem um lugar para morar, então tivemos de nos virar."

"Claro que sim... Você já teve a sua temporada?".

Ela sentiu as bochechas arderem de vergonha e então desviou a vista.

Não, ela não havia tido sua temporada porque, quando deveria estar tendo, estava tentando achar uma forma de sobreviver junto com o irmão. Agora, era claro, o duque devia estar achando-a uma pobre solteira, sem qualquer esperança de vida.

"Não tive a oportunidade", admitiu. "Também não acho que algum homem em perfeito juízo vá querer uma mulher que não tem um tostão. Mesmo que eu esteja em uma idade não tão descartável, se pudesse ter uma temporada, o máximo que ia conseguir era algum homem mais velho que quisesse reproduzir de imediato. Não acho tão vantajoso em um casamento, modéstia parte."

O duque ficou em silêncio, até ela ter que olhá-lo, então percebeu que ele a analisava, enquanto agora tinha as pernas cruzadas e um ar pensativo. Ele era um homem atraente, pensou.

"Se eu pudesse lhe oferecer uma temporada, garanto que não seria permitido os velhos raquíticos aproximarem-se de você" falou, e ela não pôde deixar de rir.

"Eu ficaria muito grata, mas nós dois sabemos que isso não pode acontecer."

"Por que não?" ele ergueu uma sobrancelha, demonstrando curiosidade e desafio.

"Porque eu não tenho um dote e qualquer lugar na sociedade. Eu ao menos já fui a um baile" confessou. "Quando era adolescente, consegui me esconder embaixo da mesa de onde estava sendo um, mas me tiraram antes que pudesse começar de fato", ela sorriu. "Não estou reclamando, até porque não tenho mesmo o intuito de persistir em Londres. Quando Christopher melhorar, talvez eu consiga partir para qualquer outro lugar e me ver em um recomeço. Seria maravilhoso de verdade."

"Seja minha pupila", ele falou.

Foi tão rápido e com tanta veemência, que ela não pôde evitar de rir.

"Como disse?".

"É perfeito", John concluiu. "Serei seu guardião e lhe darei um dote, um bem alto. Logo estará com pretendentes em filas para conquistá-la."

Melanie espantou-se.

"Que ideia… Isto é inadequado. Não posso aceitar isso."

"Por que não?", ele inclinou-se para frente. Parecia animado. E ela, desacreditada.

"Porque o senhor não tem motivos para ser meu guardião, primeiramente. E, em segundo, eu pretendia ao menos gostar da pessoa com que fosse me casar."

"Ora, senhorita Johnson, eu sou um duque. O meu título me permite muitas coisas. Eu posso sim ser o seu guardião e, quanto a gostar de com quem irá se casar, não é uma preocupação. Você pode ter muito tempo para conhecer o sortudo e criar afeto por ele."

Ela respirou fundo, algum lampejo dentro de si parecendo querer abraçar a ideia.

"Por que o senhor faria isso por mim?", perguntou.

"Porque você salvou a minha vida e, é claro, porque é uma jovem muito corajosa que precisa ser cuidada por um bom homem" ele sorriu. "Não acha que seu irmão gostaria de vê-la feliz? Pense em o quanto você poderia oferecer a ele se estivesse casada com alguém da sociedade. Um nobre."

Melanie desviou a vista, olhando as árvores pelas janelas de vidro, que balançavam ao lado de fora.

Seria maravilhoso. Ela poderia, enfim, imaginar algum futuro promissor ao irmão, em que ele também conseguiria uma boa esposa e teriam vários filhos, sendo felizes e esquecendo-se de todo o passado ruim.

"Seria bom", ela sussurrou.

"Seria mesmo" o duque ouviu mesmo assim e concordou. "Diga que sim e eu agora mesmo tomarei as devidas providências para que a senhorita esteja logo em seu primeiro baile."

De repente, algo parecido com pânico a invadiu e ela voltou o olhar para homem à sua frente.

"Eu não sei como agir" lembrou-se. "Não sei o que falar ou mesmo como me vestir. O que devo fazer?".

"Não se preocupe com isso. Eu estarei com você no início e, quando ver, já estará uma verdadeira amiga de bailes" ele a encorajou. Parecia mesmo ansioso com a própria ideia. "Pedirei que marquem um horário para você com a melhor costureira da cidade e logo estará cheia de vestidos tão bonitos quanto você."

"É uma ideia encantadora, mas não posso mesmo aceitar, milorde" recusou. Não era justo pegar tanto de um homem só porque ela deu um grito no meio de uma floresta e alguns homens saíram correndo de perto dele. Não parecia ser. "Prefiro somente um trabalho. Eu me sinto mais à vontade assim."

De repente ele segurou suas mãos e apertou-as nas próprias.

Ela o olhou, prendendo a respiração.

Há tanto tempo não tinha qualquer contato com alguém, que as mãos dele pareceram imediatamente calorosas, como quando ele deu um beijo em cima da dela, lá no estábulo.

"Senhorita Johnson, estou tentando fazer com que veja por um lado melhor. Eu estou oferecendo o que posso lhe dar. Para que escolher ser minha empregada se estou lhe dando a chance de ser mais?".

"Porque não é justo, ao meu ver."

"Pois é muito justo. É mesmo. Você só precisa dizer sim e em poucos dias estará indo ao seu primeiro baile."

Ela mordeu o lábio, respirando fundo.

"Pense no seu irmão…" Duque insistiu.

Christopher poderia realmente ter tudo que merece. Um futuro. Uma chance. Assim como essa que este homem está me dando. Sorte ou destino?

Melanie não esperou para saber, simplesmente voltou a olhá-lo e, muito relutantemente, respondeu:

"Sim, eu aceito sua oferta."

Noites ProibidasOnde histórias criam vida. Descubra agora