3 - O Pedido

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John não poderia simplesmente ir embora, então ele seguiu pela mata, atrás dos barulhos que a mulher fazia enquanto corria depressa, até que a alcançou naquele estábulo.

E, logo ali estava ele, se deparando agora com um corpo fraco e parecendo sem vida naquele chão frio. Era um menino que parecia estar muito mal e ele não pôde deixar de pensar em como estaria se sentindo se fosse Eloise ali.

Levantou a cabeça e viu, pela primeira vez, o rosto da mulher que lhe salvara. A verdade é que ela estava mais para uma jovem mulher. Uma bonita jovem mulher. Ultrajava um vestido amarelo todo amarrotado e velho, além de rasgado em alguns lugares. O cabelo estava preso, mas com vários fios soltos em desordem.

Parecendo dar-se conta de que ele observava seu traje, ela abaixou a cabeça.

"Você o tem alimentado?", John perguntou.

"Sim", ela tossiu, talvez para reforçar a firmeza da voz porque estava chorando há pouco. "Tenho dado frutas a ele."

"Algum tipo de remédio?".

"Não encontrei nenhum, infelizmente. Irei à cidade amanhã, para comprar. Ouvi falar de um médico da região que possivelmente possui algum."

"Já devia ter feito isso." John voltou a olhar o menino e tocou em sua testa. "Ele está ardendo em febre. Não pode ficar em um lugar assim, desprovido de qualquer calor. Onde está sua família?".

"Nós... Somos só nós."

Ele levantou-se. Estava confuso.

"Só vocês?".

"Sim, nossos pais morreram e não sabemos se tem algum parente. De verdade, acho que não há nenhum."

Ela suspirou e prendeu um dos fios soltos do cabelo atrás da orelha, então falou com a voz fraca:

"Posso ter ouvido errado por causa da pressa, mas o senhor apresentou-se como um duque."

John assentiu.

"Apesar de você não ter me tratado como se é devido", deu um sorriso, "sou sim, um duque.

Novamente ela suspirou.

"Não poderia o senhor me arrumar um trabalho em sua casa para que eu possa ter dinheiro para pagar um médico para meu irmão? Não precisa ser por muito tempo, só até que ele melhore."

O Duque Roussel juntou os lábios, enquanto tentava não se aproximar muito da moça que parecia destruída, e abraçá-la para lhe passar algum conforto; então voltou a olhar o pobre garoto no chão frio de madeira.

Decidiu então, por fim.

"Acho que é o mínimo que posso fazer pela senhorita, não?" sorriu. "No entanto, deixe que eu tome as despesas com o médico para tratar seu irmão e, sim, eu consigo um trabalho para você."

Como um raio, a jovem estava indo em sua direção de repente, o abraçando com toda a força de alguém que está muito grato por algo.

"Muito obrigada!", ela agradeceu, extasiada.

Ele não moveu os braços, somente esperou que ela se afastasse, com um sorriso enorme que tinha nos lábios.

"Muito obrigada mesmo", repetiu. "Eu serei muito grata ao senhor. Sua melhor empregada."

John balançou a cabeça, concordando.

"Terei que esperar amanhecer para poder voltar à cidade, mas lhe prometo que seu irmão terá todo o cuidado de que precisa."

"Obrigada." Ela levou as mãos ao rosto, sorrindo. "Christopher lhe será muito grato também. Logo quando melhorar vai querer arrumar o seu jardim. Ele adora jardinagem. Quer dizer, se o senhor tiver um."

"Pois acho que Christopher vai gostar sim do meu jardim". John sorriu pela empolgação dela. "E você, como se chama?".

"Sou Melanie", estendeu a mão. "Melanie Johnson."

"Muito prazer, senhorita Johnson", ele lhe segurou a mão estendida e se inclinou, dando um beijo em cima.

Ela deu um risinho gracioso, como o que dera há poucos minutos quando lhe salvara a vida.

"Se vai esperar até amanhecer, deixe-me que lhe arrume um lugar para descansar." Ela disse e apressou-se em ir até o lado extremo oposto do pequeno estábulo.

Logo voltou com um fecho de palha e, ficando de joelhos, desamarrou e começou a espalhar por um canto do chão. Tornou então a levantar e foi em uma busca de outra coisa, em seguida aparecendo com um saco cinza.

"Não é muita coisa", tentou sorrir. "Sinto muito muito, milorde, mas com certeza é melhor do que nada."

John estava um pouco estático com aquilo que ela arrumou e parecia ser uma cama aos olhos dela.

"E você, onde irá dormir?", ele perguntou.

Ela apontou para o irmão.

"Com Christopher."

"Mas não lhe cabe ali."

"Oh, com certeza cabe." Levantou-se e alisou o vestido. "Sinto também não poder lhe oferecer um chá, mas a água acabou logo antes de anoitecer e eu poder ir ao riacho buscar mais."

John balançou a cabeça.

Ela era só uma jovem menina, por que estava em situação daquelas?

"Melanie, certo?", ele perguntou, ao que ela assentiu. "Veja bem, irei lhe ajudar com seu irmão e lhe provendo um trabalho, mas prometa-me que quando chegarmos à minha casa, irá me contar sua história, está bem?".

Ela hesitou um pouco mas, ao olhar para o irmão, concordou entre um suspiro longo.

"Ótimo, ele respirou fundo, confuso em como tudo durante aquela noite tinha saído totalmente de seu controle. "Agora, se me permite, prefiro que durma ali onde arrumou para mim e eu ficarei acordado, vigiando. Nao confio muito que alguém não saiba que há alguém aqui."

"Não há". Melanie negou depressa. "O senhor bem deveria saber. A primeira estrada fica a muitos quilômetros."

Sim, era verdade, ele sabia. Por isso achou-se um tolo ao pensar que o cunhado queria tratar de negócios em um lugar tão escondido.

"Mesmo assim", rebateu. "Insisto que fique com a cama."

"Mas…".

"Sem mas, somente vá descansar. Imagino que já fez muito por um dia."

Melanie suspirou, mas acabou indo para a cama improvisada e deitou-se, desejando um "boa noite" sem qualquer convicção. Pelo menos, foi o que John achou.

Noites ProibidasOnde histórias criam vida. Descubra agora