Eu estava terminando de arrumar minhas malas quando Lídia bateu á porta do meu quarto.
-Pode entrar. -Fechei a última mala e me virei para falar com ela.
-Você vai levar mesmo o cachorro Clarissa? -Ela perguntou.
-Vou sim, você acha que vou deixar aqui para a Fabelli doar ele? -Perguntei de volta.
-Se quiser eu cuido dele. -Ela se ofereceu.
-Não, você já tem muitos afazeres, não acho certo se sobrecarregar com ele. -Respondi.
-Mas não vai me atrapalhar tanto, pelo contrário, terei um fiel escudeiro comigo todos os dias, e vou cuidar bastante dele para que Fabelli nem o toque. -Ela fala com bastante firmeza.
-Não sei não, eu invento e você paga o pato? -Comecei a pensar sobre o assunto.
-Clarissa, vai te dar mais trabalho ele lá do que ele aqui, pode o deixar aqui, eu prometo que cuidarei dele. -Ela olhou no fundo dos meus olhos.
-Ta, só porque eu confio muito em você. Mas antes, preciso me assegurar sobre pessoas que tem poder sobre você. -Saí do quarto, atravessei o corredor e bati na última porta.
-O que você ainda está fazendo aqui? -Fabelli perguntou assim que abriu a porta.
-Eu to indo para o Infernato como você quer, vou te deixar aqui, em paz por um tempo, e vou deixar 2 sereszinhos que eu gosto e me importo muito que são, Lídia e meu cachorrinho. Quando eu voltar, porque eu vou voltar, se algo tiver acontecido com um dos dois pode ter certeza que nunca mais você vai ver 1 real do meu pai, esse seu cabelo bonito, e esses apliques que você usa irão desaparecer num segundo e em baixo da ponte vai virar seu novo lar. -Olhei em seus olhos, achei bem ameaçador quando a Lídia me olhou nos olhos.
-Quer dizer que vai voltar do inferno para puxar meu pé? -Ela falou ironicamente.
-Literalmente. -Cruzei os braços.
-Mas tem coisas que eu não tenho culpa, por exemplo, Lídia perder o emprego por justa causa. -Ela sorrio de canto de boca.
-Eu vou desenhar para você, não importa o que aconteça, se Lídia for demitida, eu juro, eu prometo que você não vai ficar bem. -Me virei para voltar ao meu quarto.
-Nem se ela roubar? -Ela perguntou para confirmar.
-Nem se ela matar, não importa o que aconteça, eu prometo que você não vai sair bem. -Continuei andando, a Lídia é incapaz de fazer mal a uma mosca, mas a Fabelli é capaz de incriminar qualquer pessoa.
Fabelli apenas bateu a porta de seu quarto bem forte como resposta.
(.....)
Se havia algo que eu não estava era disposta a mais um novo dia. Acho que pela primeira vez entrei na sala, e me sentei. Minha vontade de assistir aula era nula, mas eu tinha que saber pelo menos o nome do assunto. Então baixei a cabeça e fiquei escutando o que o professor explicava.
Eu estava entendendo tudo, o assunto parecia apenas uma revisão para mim. Então, continuei de cabeça baixa prestando atenção no que o professor estava explicando.
Do nada a porta se abriu e o silêncio reinou na sala.
-Alunos, a diretora irá dar um aviso a vocês. -O professor falou.
-Desde cabeça baixa eu estava, continuei, iria ouvir ela de qualquer maneira.
O silêncio continuou por um tempo, e eu continuei na minha paz quieta na minha cadeira pensando na vida.
-Clarissa Hungria. - Meu nome falado em voz alta chamou minha atenção.
Levantei a cabeça para olhar o que estava acontecendo e toda a sala me olhava incluindo a diretora que estava de braços cruzados me encarando.
-Me chamou? -Perguntei.
-Isso aqui é lugar de dormir? -Ela perguntou.
-Você está falando no colégio ou na sala? -Perguntei.
-Não estou aqui para brincadeiras Clarissa. -Ela falou bem séria.
-Mas eu não estou brincando, você está? -Franzi a testa perguntando sinceramente.
-Tirou o dia para o sarcasmo não é mesmo? Mais uma gracinha e a gente vai conversar na minha sala. -Ela falou bem irritada, como se eu a desafiasse na frente da sala.
-Não tirei não, nem fui sarcástica. -Respondi.
-Olhe, se eu entrar aqui novamente e você estiver dormindo na sala, teremos problemas. -Ela cruzou os braços. -Entendeu? -Ela perguntou esperando minha confirmação.
-Entender eu entendi, mas o que acontece é que eu não estava dormindo, eu estava de cabeça baixa pois a aula do professor eu ouço, meus olhos não precisam necessariamente estarem fixados no professor. -Respondi.
-Não minta Clarissa, assuma que você estava dormindo. -Ela me fuzilou com os olhos.
-Eu não estava dormindo. -Persisti.
-É? E do que o professor estava falando? -Ela perguntou esperando que eu me calasse.
-O professor estava explicando sobre a filosofia de Hobbes e o estado de natureza do mesmo. -Respondi.
-É? E o que é o estado de natureza de Hobbes? -Ela ainda esperava que eu me calasse.
-Segundo Hobbes, o homem é o lobo do próprio homem, pois em seu estado de natureza os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de todos os meios para atingi-las, ou seja, os homens são maus por natureza. -Expliquei sucintamente o filósofo em que o professor falava a aula inteira. -Quer saber mais algum detalhe ou vai deixar o professor terminar a aula? -Perguntei a diretora para finalizar.
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Clarissa Hungria
Teen FictionClarissa uma garota de 16 anos que perdeu a mãe cedo e mora com seu pai e sua madrasta. Seu pai trabalha muito e normalmente passa o dia fora de casa, então a garota passa a maior parte do dia com a madrasta Fabelli que tenta a todo custo se livrar...