Lembranças

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Júlia:

Cidade de Vera Cruz no México.

Juan's Bar!

— Júlia! O cliente está esperando! — Juan grita de trás do balcão.

— Já vou Juan, não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo! — falei segurando uma bandeja com uma mão e um pano com a outra.

— Fale isso quando descontar do seu salário! — ele falou batendo no balcão fazendo os poucos clientes que tinha se assustarem.

— Como se essa miséria de dinheiro que você chama de salário fosse muito! — falei ainda mais alto indo servir os outros clientes.

O vi entrar na cozinha e respirei fundo servindo um casal que me olhavam assustados, apenas sorri para eles. Era sempre assim, Juan gritava de um lado e eu do outro já estava virando rotina, mas mesmo assim o meu coração acelerava toda a vez que gritava com ele afinal de contas Juan não é do tipo de homem que se pode gritar.

— Desculpe pela discussão — falei um pouco envergonhada e eles assentiram com um sorriso sem graça.

Fui até a cozinha entregar a bandeja e fui imprensada contra parede e bati com a cabeça. Senti alguém pressionar o meu pescoço e o ar já estava-me faltando.

— Juan! — falei com a voz embargada segurando a sua mão que apertava mais forte.

— A próxima vez que falar comigo daquela forma na frente dos clientes não será isso que ganhará — apertou, mas o meu pescoço — Você conhece muito bem o meu trabalho a noite.

— Juan por favor! — o senhor Pablo o cozinheiro falou vindo até ele — Sabe que se matá-la será uma menos.

— Você tem razão, mas essa vadia não me respeita! — ele gritou na minha cara, eu já estava sem forças e sentia que a qualquer momento ia desmaia.

— Calma Juan, logo ela vai trabalhar na noite e aí ela vai aprender a respeitar. — Pablo falou e foi a última coisa que ouvi antes de desmaia.

~~~~ ☆ ~~~~

Brooklyn, Nova York:

Acordei assustada com essa lembrança que eu tentava de todas as formas esquecer, olhei no relógio e agradeci a Deus por não está atrasada pra a minha entrevista de emprego.

A um mês atrás pedi demissão da loja de móveis onde trabalhava como rececionista por abuso de poder da parte do meu gerente e quando vi que as coisas iriam ficar complicadas se não arrumasse emprego coloquei currículos em tudo quanto era lugar incluindo uma empresa dona de várias joalharias chiques do mundo todo que precisava de uma secretária.

— Deby! — chamei passando pelo quarto dela.

Deby é minha melhor amiga, crescemos e fomos criadas juntas no mesmo lugar, mas quando Deby completou 16 anos resolveu sair da cidade de Vera Cruz para viver em Nova York.

— Deby! Você vai se atrasar pro trabalho! — falei passando novamente pelo quarto dela.

— Vai se ferrar! — ela falou sonolenta jogando o travesseiro em mim.

— Aí! Sua vaca! — falei saindo do quarto — Não chamo mais, e vai se ferrar! — gritei.

Arrumei a minha cama e fui tomar um banho, depois de ter feito as minhas higienes pessoais, tomei um banho longo. Coloquei uma saia (lápis) preta e uma blusa de botão fina rosa, um salto dez e amarrei o cabelo num coque solto coloquei tudo que precisava na bolsa e fui à cozinha pegar algo pra comer.

Fiz um sanduíche com catupiri e peguei um suco que tinha na geladeira, enquanto comia pensava em como ia apresentar-me na entrevista de emprego, tinha que ser formal, mas nada muito texto decorado tinha que ser descontraído mais nada muito sou da zueira.

— Porque não me acordou! — Deby gritou puxando o zíper de um vestido preto até os joelhos que ela usava como uniforme no trabalho.

— Eu chamei-te e você mandou eu ferrar-me. — falei calmamente a observando.

— Dane-se, deveria ter-me batido! — ela falou colocando suco no copo.

— Vou lembrar-me disso, na próxima vez! — falei e ri.

— Vai à entrevista? — ela perguntou o óbvio.

— Não! Vou levar o Tobb pra passear — falei rindo e ela mostrou a língua — Claro que vou! — falei e ela assentiu.

Fui ao banheiro e escovei os meus dentes, passei um batom nude da Deby que estava lá e sai, peguei a minha bolsa e despedi-me da Deby com um beijinho no rosto e fui as pressas já que teria que pegar o metrô.

Alguns minutos depois cheguei a frente de um prédio de mais ou menos uns trinta andares e respirei fundo, algumas pessoas entravam e saiam do prédio todas bem vestidas e com ar de soberba, olhei-me sentindo um peixe fora d'agua atravessei a rua, respirei fundo e entrei no prédio.

— É agora Júlia, respire fundo! — falei pra mim mesma enquanto esperava — Eu quero, eu posso, eu consigo! — repeti pra mim mesma várias vezes.

— Senhorita Júlia Hernandez Rios! — uma moça alta loira e simpática chamou-me.

— É agora Júlia! — levantei e fui até ela repetindo o meu mantra pra mim mesma.

EU POSSO EU QUERO EU CONSIGO!

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Meu Querido ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora