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... cisamos discutir certas coisas, mas não agora — Marc comentou baixinho, o olhar fixo em Nina junto à janela.
Vito riu de escárnio.
— Acha que ela entende alguma palavra dessa conversa? Não seja idiota, Marc. André disse que ela não passa de uma mulherzinha frívola e ignorante. Duvida? Não vá me dizer que ela já achou o caminho da sua cama!
Nina percebeu que Marc cerrava o queixo, o rubor tomando suas faces, mas ela não teve escolha senão fingir-se alheia ao que era dito quando ele a fitou rapidamente.
— Não se esqueça do que ela fez! — Vito continuou fervoroso.
— Não esqueci — Marc disse, pegando Geórgia no colo. — É hora de Geórgia dormir. Melhor você descansar até a hora do jantar. — Olhou novamente para Nina, agora falando em inglês. — Vamos, Nina. Precisamos colocar Geórgia para dormir e nos trocarmos para o jantar.
Nina sorriu educadamente para Vito ao estender a mão.
— Foi um prazer conhecê-lo, Signore Marcello. Pela segunda vez naquela noite, Vito Marcello a ignorou.
— Papai? — Marc disse, olhando zangado para o pai.
Vito resmungou qualquer coisa incompreensível e apertou brevemente a mão de Nina.
— Obrigado por trazer minha neta para me ver. Não tenho muito tempo. Ela é tudo que nos restou de André.
Nina piscou para conter as lágrimas.
— Sinto muito pelo o que sofreu.
Vito recuou com a cadeira, dispensando Nina de sua presença.
— Não sabe nada sobre meu sofrimento. Nada. Marc segurou Nina pelo cotovelo e a levou para fora, fechando a porta do salon ao sair.
— Perdoe a indelicadeza do meu pai — disse enquanto rumavam para a grande escadaria que conduzia ao andar superior. — Ele ainda está sofrendo. — Hesitou um pouco antes de acrescentar: — Nem é preciso dizer que André era o filho favorito.
Nina parou e o encarou.
— Está tudo bem, Marc. Eu compreendo. Foi um momento difícil para todos vocês.
Ele sorriu para ela, de modo triste, mas ainda era um sorriso.
— Às vezes me pergunto o que minha mãe pensaria de você.
— Sua mãe?
Ele apontou para uma pintura pendurada na parede lá em cima.
— Minha mãe.
Da escada, Nina admirou o retrato da bela mulher de cabelos escuros e pele de porcelana.
— Ela é muito bonita.
— Sim. ela era.
O tom da voz fez com que Nina se voltasse para ele.
— Meu pai nunca me perdoou por ter causado a morte dela.
Nina ficou atônita. Marc a encarava por cima da cabecinha de Geórgia, que se apoiara em seu colo, as mãozinhas segurando sua camisa.
— Íamos nos encontrar, mas eu estava atrasado. Liguei dizendo que fizesse alguma coisa para se distrair enquanto eu não chegava.
Nina sentiu o ar preso no peito. Pressentia o que estava por vir, a culpa que pesava em sua consciência.
— Ela estava do outro lado da rua quando me viu. Acenou e chamou por mim. Uma scooter esbarrou nela quando ela foi atravessar a rua. Ela não viu o outro carro. Nem eu. Só a vi sendo lançada no ar e caindo na minha direção feito uma boneca de trapos. — Marc se virou para o retrato e suspirou. — Se eu tivesse chegado uns segundos antes.
— Não! — Nina lhe agarrou o braço. — Não, não deve pensar assim!
Marc se desvencilhou dela, segurando a sobrinha com firmeza enquanto terminava de subir a escada.
— Não se pode mudar o passado, Nina. Você, mais do que ninguém, sabe disso. Todos fazem coisas das quais se arrependem mais tarde.
Nina queria ter uma resposta, mas o que ele dizia era verdadeiro. Suas próprias atitudes impulsivas já tinham lhe causado um arrependimento incalculável. Se tivesse contado naquele primeiro dia o que estava acontecendo, talvez não estivesse naquela situação. Ele era um homem sensato, com princípios morais. Se tivesse falado sobre seus temores quanto à segurança de Geórgia. Será que ele teria tirado Geórgia de sua vida sem pensar no impacto que isso causaria à vida da sobrinha?
— Marc?
Ele se virou, a sobrinha adormecida nos braços.
— Nina, esta é a última chance de meu pai ter um pouco de paz. Sei que é difícil para você.
— Não é difícil — ela disse, tocando-lhe o braço gentilmente. — Devo isso à memória de André. Numa outra vida, sob outras circunstâncias, talvez ele tivesse aceitado Geórgia como filha. Foi o momento errado. Você assumiu o papel de pai de Geórgia. Eu sou. a mãe. Cabe a nós fazer o melhor por ela.
— Está satisfeita com isso por enquanto? Nina olhou a menina aninhada na força protetora dos braços de Marc.
— Estou satisfeita. — Suspirou ao buscar pelos olhos dele. — Por enquanto.
Um pequeno silêncio os envolveu. Nina não conseguia tirar os olhos da dor refletida nos dele. Voltar para casa afetara Marc profundamente, a torrente de lembranças sem dúvida evocava a culpa que ele sentia pela morte da mãe. Não sofrerá a mesma angústia? Embora a mãe fosse responsável pela própria morte, Nina sentia que tinha falhado de alguma forma. Se a tivesse internado numa clínica, ou feito visitas mais freqüentes, talvez o resultado fosse diferente.
— Vamos. — A voz de Marc quebrou o silêncio. — Lúcia cuidará de Geórgia. Meu pai não gosta de ficar esperando.

CAPÍTULO DOZE

Depois de cuidar de Geórgia, Nina a deixou aos cuidados de Lúcia e foi para o quarto que Paloma lhe preparara.
Era luxuosamente mobiliado, a cama imensa dominando o quarto com pilhas de travesseiros e almofadas coloridas, o chão forrado por tapetes caríssimos. Havia um grande armário, uma penteadeira e duas portas: uma para o banheiro, outra para a suíte de Marc. Nina desviou os olhos daquela porta e foi até a janela, vendo o majestoso Vesúvio. Uma leve brisa fazia as cortinas esvoaçarem, carregando o aroma das flores de laranjeira para o quarto.
Ouviu uma batida na porta de ligação entre os dois quartos. A garganta ficou seca quando Marc apareceu no quarto. Ele estava vestido formalmente, parecendo mais alto e autoritário em seu smoking, ...

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