Retorno

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Lindas, a parte em itálico é um flashback.


Tudo o que precisava era de luz...

A carícia faminta, molhada e quente dos lábios que agora possuíam os seus, sugando a língua de sua boca e o ar dos pulmões, sem pudores, sem arrependimentos. Naquele momento sentiu como se algo implodisse dentro dela, expandindo-se vagaroso, morno e continuamente por cada fibra do seu ser, fazendo seu corpo inteiro vibrar e sua cabeça girar com a força avassaladoramente gentil que guiava aquela boca até a sua, aquelas mãos ansiosas que lhe apertavam os seios e quadris, as salivas e os suores se misturando no calor delicioso que agora emanava entre elas.

Suas mãos já não tremiam, seu toque firme quando subiu devagar pelas costas nuas, dedos seguindo a linha reta daqueles pequenos ossos que se curvavam quando o corpo torneado arqueava contra o seu, pressionando-a contra o colchão num ritmo instintivo, insaciável. Resolveu desenhar suas próprias linhas para sentir até onde elas a levariam, e então eram unhas que arrancavam grunhidos da pele bronzeada, boca que sugava suspiros da língua que acariciava a sua, dentes afiados que mordiam rosnados nos lábios molhados e ávidos... Soavam como música antiga em seus ouvidos, a mais afinada e erótica das melodias que seguia no compasso melancólico da chuva lá fora. Queria ouvi-los eternamente, queria sentir mais e mais daqueles sons que assombravam seus dias e noites, que povoavam até seus pensamentos mais inóspitos. Queria prová-los na sua pele, nos seus dedos, na sua língua, queria que seus sentidos fossem consumidos até que não restasse mais nada além de paraíso em seu corpo, de luz em sua mente... E tinha uma vida inteira pela frente pra se lembrar de não ter pressa... "Espera...", suspirou entre um sugar de lábios, puxando um pouco pelos cabelos ainda molhados até que suas bocas se afastaram. Sentiu uma respiração quente ofegando palavras em seu rosto, "Você não...", mas seus dedos tocaram-lhe os lábios, silenciando-os. "Só... me deixa beijar você... por um tempo?", sussurrou erraticamente, seu olhar semicerrado tentando capturar os contornos daquele rosto que pairava sobre o seu na meia luz do quarto. Por longos segundos ela não fizera um som, e Ariana ouviu nada além do ritmo daquela respiração soprando contra seus lábios, pensou em nada além daqueles dedos que agora tocavam seu rosto e cabelos em reverência, deleitou-se em nada além daquela umidade quente e pulsante que se insinuava entre suas pernas. Alguns segundos mais e então sentiu uma mão que deslizou do seu pescoço para os cabelos úmidos na sua nuca, puxando-a com ela até que ambas estavam sentadas no meio da cama, pernas entrelaçados e corpos brilhando suavemente na pouca luz, beijados pelo suor cálido e pelo desejo ardente que as consumiam. Ouviu-a inspirar profundamente, como se buscasse a calma necessária para não devorá-la ali mesmo, até que suas mãos tocaram-lhe os lados do rosto borrado. E quando seus lábios se uniram dessa vez, Ari enfim se deixou tomar pela epifania daquele momento...

Encontrara a luz certa. Sua luz... Ela que era ardente em suas veias agora, boca que não era tão suave com seus lábios, e nem tão ásperos foram os dentes na sua pele, mas sempre atenta ao toque, e doce, ah, tão doce na sua língua... Ela que evocou tantas outras sensações, cores, gostos, visões que aos poucos foram tomando formas entre as carícias das línguas, descortinando-se em cenários entre os toques das mãos, brilhando nos vãos escuros da sua mente e entre os corpos que ondulavam sempre mais perto, gravitando um para o outro. Foi então que lá, naquele espelho quebrado dentro dela, um rosto perfeito, de contornos bronzeados pela luz natural, se refletiu mais claro, mais íntimo, tão dela... Ela... Ela era essa luz se tornando pequenas faíscas, pontos luminosos que aos poucos foram acendendo atrás de suas pálpebras cansadas, trazendo o leve e salgado formigamento de uma memória vívida que então rolou por seu rosto, desenhando uma linha morna, feliz, clara... "Camila...", sussurrou e aqueles lábios corresponderam, se submeteram, rendidos. Camila como a lembrança do afeto deve ser. Como sempre foi e seria.

PerchanceWhere stories live. Discover now