Caminhei por todo o cemitério sem sentido, eu não sabia o que faria agora. Eu voltaria para casa e ficaria lá sozinha até esperar os feriados e as férias para ver meus netos.
Ergo a sombrinha para me cobrir do sol e vejo ao longe um senhor de cabelo branco em pé em frente ao túmulo, senti pena dele ao o ver chorando e fui até lá.
- Olá. Bom dia. – Eu digo me aproximando e ele não me olha. Ele estava todo arrumado, todo social com uma camisa branca de botão e uma calça preta. Seus cabelos brancos estavam bem cuidados. Sua pele estava limpa e ele estava perfumado. Não costumo a reparar as pessoas dessa forma, mas naquele momento eu queria compartilhar aquele momento.
Olho para o tumulo pelo qual ele estava em frente e vejo o nome Mariana.
- Era sua esposa? – Eu pergunto curiosa.
- Sim. – Ele diz com a voz já cansada. – Minha esposa morreu de infarto já faz dez anos. – Ele diz enquanto limpa discretamente os olhos.
- Eu sinto muito. – Eu digo tristemente.
- E a senhora veio visitar algum parente? – Ele pergunta por educação me olhando pela primeira vez. Meu coração acelera sem motivo algum.
- Vim visitar o tumulo dos meus pais que morreram há muitos anos atrás. – Eu digo olhando-o com atenção. – Eu moro bem longe daqui e fazia muito tempo que não vinha nesse vilarejo. – Eu digo devagar.
- Aqui não mudou muito. – Ele diz sorrindo.
- Eu já achei que mudou. – Eu sorrio de volta. – Quando eu fugi desse vilarejo as casas não eram tão modernas, não tinham crianças com tanta tecnologia nas mãos, não havia tantos carros... – Eu suspiro. – Hoje em dia as pessoas andam tão ocupadas e estressadas. – Eu digo rindo e ele sorri.
- Como você se chama senhora? – Ele diz curioso.
- Isabela e você? – Eu digo com um sorriso cansado.
Ele franze suas sobrancelhas e me olha com mais atenção ainda dos pés a cabeça, fico visivelmente constrangida.
- Guilherme. – Ele diz calmo com o rosto emocionado.
Meu coração bateu tão forte como nunca antes. Segurei o ferro da sombrinha com força e nosso olhar se conectou e eu abafei um grito de surpresa.
- Você... Você é o? – Eu gaguejo enquanto o vejo melhor e percebo que além daqueles cabelos brancos e algumas rugas, eu posso vê-lo de verdade. É ele! O meu Guilherme!
- Sim Isabela. – Ele diz se aproximando e eu dou dois passos para trás.
- Você morreu! – Eu digo um pouco alto e algumas pessoas que passaram por nós me olham e vão embora balançando a cabeça.
- Eles me pouparam a vida. – Ele diz baixo e algumas lágrimas caem pelo meu rosto. – Eu te procurei por tanto tempo. – Ele diz com um olhar tão triste, mas mesmo assim era penetrante.
Eu tenho certeza agora. É ele, o amor da minha vida novamente na minha frente. Largo a sombrinha no chão e o abraço com força. Ele me abraça com a mesma intensidade e eu não consigo conter as minhas lágrimas de alegria.
- Eu senti tanto a sua falta Guilherme. – Eu digo um pouco rouca. – Eu pensei que você estivesse... – Eu não tenho chances de dizer nada porque ele me beija.
Foi um beijo gentil, longe daquele que trocávamos quando mais jovem, mas o meu corpo respondeu da mesma forma. Eu senti lágrimas dos olhos dele caindo no meu rosto. Valeu a pena viver para sentir isso mais uma vez.
- Eu não acredito que é você. – Ele diz segurando meu rosto em suas mãos. – Você mudou tanto Isabela. – Ele diz suspirando e eu sorrio enquanto vejo seus olhos brilhando. – Mas continua linda, perfeita, minha Isabela você está de volta. – Ele fala alto sorrindo. – Eu não sei se rio se choro. – Ele diz me abraçando outra vez. – Não deixarei você fugir nunca mais. – Ele diz me fazendo rir com vontade.
- Eu te amo Guilherme. – Eu digo quando estamos em frente ao outro. – Como todas as vezes que amei e não tive a coragem de dizer. Eu nunca esqueci você. – Eu digo chorosa.
- Eu também amo você Isabela, com toda a minha vida. – Ele diz segurando a minha mão e nunca mais a soltou.
Poderia contar os detalhes do que aconteceu depois, mas foram tantos momentos maravilhosos que se contasse teria que ter escrito outro livro. Mas falarei brevemente.
Conheci os quatro filhos que o Guilherme teve com a Mariana, sua ex-esposa. Eles tiveram o Hugo, Eloisa, Monica e a Isadora. Quando souberam da nossa historia ficaram fascinados e gostaram de mim. Como o Guilherme também morava sozinho nós fomos morar na capital depois de um ano. Casei na Igreja com o Guilherme quando tinha cinquenta e dois anos.
Nossos filhos apoiaram nosso amor e eu nunca estive tão feliz. Todo o dia acordava e dormia ao lado do grande amor da minha vida. A vida nos deu outra oportunidade de sermos felizes.
Na nossa mocidade partilhamos do amanhecer e na nossa velhice admirávamos na varanda de minha casa o por do sol. Todas as tardes sentávamos um perto do outro e de mãos dadas olhávamos o dia indo embora e dávamos um bem-vindo para a noite. Vivemos juntos por doze anos. Foram doze anos de muita felicidade.
Como nada dura para sempre depois de um ano a morte chegaria até nós, mas infelizmente chegou a hora dele. Ele não sentiu dor, deu tempo de eu me despedir dele com todas as palavras de amor que dizia em nosso casamento, os filhos dele também tiveram a oportunidade, meus filhos gostavam muito dele também e isso foi algo doloroso para todos. O dizer Adeus.
- Eu te amo para sempre e será para sempre esse amor que sinto por você. – Eu digo quando beijo sua testa gelada no caixão. O velório estava lotado de pessoas que eu amava.
Todas as pessoas ficam emocionadas e bateram palmas para homenagear o grande homem que o Guilherme foi.
Capítulo final
Ando devagar até a sacada por causa da idade e das dores que sinto em todo o meu corpo desde a minha última cirurgia, quando se tem setenta anos nada é como era cinquenta anos atrás. Sento em minha poltrona antiga e observo o céu em um misto de cores rosa, azul, amarelo e branco. Olho com atenção o Sol indo embora através das nuvens e meu peito se enche de uma dor familiar, a dor da saudade. Sozinha eu observo a noite me desejando uma boa noite e eu agradeço a Deus por ter sido tão bom para mim.
Tive uma vida longa cheia de emoções, vivi dois grandes amores. Meu primeiro marido era um homem maravilhoso que também sinto falta, mas foi no meu segundo casamento que vivi toda a paixão da minha juventude. Nosso amor foi maior do que tudo, nem o tempo, nem a distancia, nem as pessoas, nem as dificuldades ofuscaram o sentimento que tínhamos um pelo outro. Era realmente um amor de verdade que surgiu rapidamente, que foi intenso e duradouro. Sinto-me feliz por chegar ao final de minha vida e saber que tive a oportunidade de ser feliz mais uma vez.
Agora percebo que chegou a minha vez de dizer Adeus e se posso te contar um segredo que descobri ao longo da minha vida seria: Deixe tudo nas mãos de Deus porque Ele cuidará de você e do seu coração. Seja firme e tenha esperança que o grande amor da sua vida um dia voltará para você.
Fim
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SERÁ SEMPRE VOCÊ
ChickLitQuando Isabela completou vinte anos foi forçada a ficar noiva de um homem que nunca amou. Não aceitando essa imposição dos pais ela acabou fugindo para a floresta que seria um atalho para o vilarejo mais próximo. Na fuga ela conhece Guilherme, um h...