Capítulo nove

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Quando acordo sinto uma dor enorme na minha cabeça, mas preferiria mil vezes senti-la do que ter noção do que tinha acontecido e saber o que aconteceria depois comigo. Guilherme!

Procuro-o em vão, pois estou no meu antigo quarto de hotel. Com dificuldade vou até a porta e a vejo trancada. Caio no chão despedaçado e choro com toda a tristeza que sinto.

A porta se abre e um medo me consome. Humberto entra no quarto com o olhar do próprio demônio.

- Então era aqui nesse quarto que você estava de lua de mel minha noiva?- Ele diz com um sorriso amarelado. Aquele homem me dava ânsia.

- O que você fez com ele? – Eu pergunto aflita.

- Mandei seus irmãos darem um jeito no corpo do seu amante. – Ele diz passando por mim e indo até a janela. – Daqui a pouco eu darei um jeito em você. – Ele diz ainda virado de costas para mim.

Coloco as duas mãos no rosto ainda sentada no chão eu começo a chorar. Uma dor inexplicável. Não podiam ter feito isso. Não, não podiam! Eu grito na minha mente.

Olho para penteadeira e vejo a tesoura, pego-a escondida e enquanto vejo Humberto de costas eu me aproximo devagar sem que ele perceba e a coloco contra seu pescoço.

- Você não deveria ter feito isso. – Eu digo rápido enquanto aperto a ponta rápida contra seu pescoço e ele tenta me segurar mais é tarde demais. Ele cai de joelhos no chão e eu grito ao ver o que tinha feito.

Meus irmãos e cunhado aparecem no quarto e me olham com o olhar muito assustado ao ver que matei Humberto.

- Se... Se aproximarem de mim eu vou me defender! – Eu grito enquanto aponto a tesoura afiada na direção deles.

Os três levantam as mãos para cima completamente em choque com aquela cena.

- Isabela. – José é o primeiro a falar. Sua voz parecia fraca. – Larga isso pelo amor de Deus! – Ele diz nervoso.

- Eu vou te mostrar como uma mulher deve se comportar! – Carlos vem apressado na minha direção, mas meu irmão Marcos o segura pelo braço.

- Já chega disso! – Marcos grita para Carlos. – Minha irmã não vai apanhar de você e de ninguém. Olha para ela! – Ele grita olhando para mim. – Ela vai sofrer para sempre com a culpa da morte de dois homens. – Ele diz aquelas palavras fazendo-me sentir uma mulher demoníaca.

- Você vai para a cadeia sua desgraçada! – Carlos grita entanto vir até mim, mas dessa vez é José que o impede.

- Vai embora! – José grita para mim. – Some de nossas vidas Isabela! – Ele diz me olhando com um olhar de desprezo. – Você é uma ingrata! Uma mulher fácil! – Ele diz me olhando sério. – Quero que você sofra todo dia por causa dos seus atos. Nunca mais quero ver sua cara! – Ele grita para mim. – Some daqui! – Ele diz enquanto meus dois irmãos seguram o Carlos que era o melhor amigo de Humberto. Seus olhos estavam cheios de ódio, ele iria me matar se continuasse ali.

Ainda apontando a tesoura grande cheia de sangue contra eles eu saio do quarto e corro até a saída do hotel. As pessoas me olham com medo na rua e eu corro para a estrada.

Sinto-me um lixo de pessoa, não sei para onde ir e o que vou fazer. Choro muito por todo o percurso que faço a pé e logo caio no meio da estrada soluçando muito. Passam por mim muitos caminhões e a poeira me sufoca. Com a mão na boca eu tento não passar mal cheirando aquela poeira seca. Depois de criar forças para caminhar a chuva cai forte contra o solo. Continuo andando devagar na estrada sem forças, meu coração está completamente despedaçado. Jogo a tesoura no chão e tento correr, mas tropeço e caio novamente no chão.

Ouço uma buzina de caminhão atrás de mim, mas não sinto forças para levantar. Uma mulher de uns trinta e cinco anos segura no meu braço e diz:

- Vem, vou te ajudar. – Ela diz me puxando para dentro do caminhão e a partir daí minha vida se transformou completamente.

Era uma cidade grande na qual ela me levou, ela me hospedou em sua casa e foi como um anjo para mim. Ela se chamava Julieta, uma mulher separada que levava a vida como transportadora de legumes para a cidade grande. Ela também me apresentou o caminho da verdade, eu conheci a Palavra de Deus e tudo mudou na minha vida. Nos primeiros anos eu me sentia culpada e fiquei em depressão, mas depois de um tempo eu descobri que Deus havia me perdoado. Eu era uma nova pessoa, uma nova Isabela. Consegui ter contato com a minha irmã Letícia depois de três anos através da ajuda da Julieta. Minha irmã disse que havia se separado de Carlos e tinha conseguido encontrar com David e eles já tinham uma filha.

Aos meus vinte e oito anos eu conheci o pai dos meus filhos, o Samuel. Ele era um bom homem, era muito dedicado na Igreja e me ajudou bastante a superar os meus medos e traumas. Tivemos dois filhos: Ana Rita e o Gustavo.

Tive um casamento de vinte e dois anos muito agradável ao lado do meu esposo, ele era respeitoso e cuidava de mim, me ofereceu uma vida muito boa na cidade, ele era empresário e muito trabalhador. Mas infelizmente ele ficou doente e morreu aos sessenta anos.

Meus filhos casaram, tiveram filhos e seguiram suas vidas. Anos atrás tive a noticia da morte de meus pais e nunca tive coragem para voltar ao meu vilarejo. Agora aos cinquenta anos, viúva, sozinha dentro de uma linda casa eu sinto que preciso ir lá mais uma vez antes de morrer. Foi uma luta para convencer os meus filhos que queria ir sozinha, mas no final consegui. Andei de avião pela primeira vez e nervosa eu olhava toda a natureza embaixo de mim e lembrava o Guilherme.

Eu nunca o esqueci. Ele foi o homem que eu amei com todas as minhas forças, mesmo por pouco tempo que o conhecia vivi uma paixão que até hoje eu sentia saudade. Amava o Samuel, claro. Mas o Guilherme continuava nos meus pensamentos em muitos momentos. Sinto muita falta dele.

Foi como um filme na minha cabeça quando vi o casarão na minha frente, fiquei muito emocionada ao ver meus irmãos já idosos chorando a me ver. Os abracei e pedi perdão por tudo e eles também. Logo apareceram minhas irmãs e ficamos todos nós abraçados chorando por tudo que passamos.

Tomei um café na cozinha da casa e contei sobre minha vida e como ela tinha mudado, eles contaram as deles, mas disseram que nunca saíram da casa porque sabiam que um dia eu voltaria. Foi um momento muito especial na minha vida.

No dia seguinte de manhã eu fui até o cemitério. Estava angustiada por dentro por não ter tido a oportunidade de me despedir dos meus pais, mas eles eram tão frios conosco que nem um abraço eles dariam, mas eram meus pais. Vi a sepultura dos dois e chorei ao ver os nomes deles.

Fiquei ali por muito tempo emocionado e me despedi deles pedindo perdão.

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