This clock never seemed so alive

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Julian não iria admitir, mas estava feliz por sair da sua zona de conforto. Todo mundo sempre dizia que ele era o certinho, quase uma criança e nunca tinha feito nada errado. É claro que ele adorava ser assim. Fora isso que o fizera conquistar o seu espaço na seleção principal da Alemanha. Sua dedicação e vontade de sempre querer melhorar.

Passara boa parte do ano escutando que ele era novo demais. Que ele não seria maduro o suficiente para dar conta dos seus desafios. E fora justamente quando Cathrin se mudou, que ele foi para o Brasil disputar as Olimpíadas, exatamente no mesmo dia que ela fora para Londres.

Ele se lembrava da despedida no aeroporto como se tivesse sido no dia anterior. Ela só lhe contara que estava com uma passagem só de ida comprada quando ele entrou na sala de embarque.

- Ju, eu não vou estar aqui quando você voltar.

- O que você está falando Cath? - A garota levantou uma passagem junto com o passaporte.

- Estou indo para Londres. Fui aceita a faculdade de artes.

- Cath, isso é fantástico. - Ele a abraçou comemorando. Sabia que não era todo dia que se passava em uma universidade dessas. - Mas você deveria ter me falado antes.

- Se eu tivesse te falado antes, você não teria dedicado aos seus treinos. Agora vai lá e conquista essa medalha para a gente.

Ele a beijou no rosto antes de entrar na sala de embarque. Ele não trouxe a medalha dourada, mas tinha trazido uma medalha. Um dolorido segundo lugar, mas que para Cath, significou que ele havia cumprido sua promessa. Havia voltado com uma medalha, independente da cor. E era tudo que ela havia pedido.

As ruas de Londres estavam mais lotadas do que em uma noite comum. Era ano novo e todo mundo queria comemorar. Famílias estavam em restaurantes tradicionais, com uma geração correndo de um lado para o outro e a outra fazendo força para não dormir sentado nas cadeiras de madeira.

Do outro lado da rua haviam filas e mais filas nas portas das boates. Jovens tentando aproveitar os últimos minutos daquele ano. Alguns simplesmente querendo deixar o passado para trás e outros sonhando com um futuro.

Julian Brandt entrou em uma das filas empurrado por Cathrin Feller. Ele não sabia como se sentir. A curiosidade com o ano que estava por vir era enorme. Estavam no meio do campeonato e o Bayer Leverkusen ainda tinha uma longa trajetória pela frente. Bundesliga, Champions League.

Era agora que as coisas ficavam tensas quando se tratava de futebol e ele sabia que seu desempenho era importante. Em um jogo que ia mal era duramente criticado pela grande mídia e a torcida. Falavam que era um garoto inexperiente que não sabia o que estava fazendo. Mas naqueles dias nos quais ele marcava e detinha uma boa presença em campo, era ovacionado pela torcida.

E ele ainda tinha a meta de conquistar o maior número de assistências da Bundesliga.

Uma coisa que ele nunca iria entender em uma torcida de futebol: hora te amava e hora te odiava. Nunca entendia que você era humano, tinha dia bons e ruins como qualquer outra pessoa.

Ele abaixou a cabeça e encarou o tênis surrado que usava na noite. Se sentia desconfortável. Não era o vento gelado que deixava seus cabelos arrepiados, era algo além. Algo que ele não sabia dizer.

Era algo maior do que a expectativa para o ano que iria começar. Ele se sentia sozinho, mesmo estado em uma multidão. Olhou para o céu e viu nuvens se formando. Provavelmente logo começaria a chover e eles iriam se encharcar naquela fila infinita para uma boate que ele não queria entrar.

- Vai chover.

- E daí? Você é de açúcar?

- Não, mas não estou afim de ficar encharcado. Estou indo embora Cath.

Ele saiu andando ainda olhando para baixo. Cath xingou um palavrão e foi atrás dele.

- Julian, espera aí. Não é assim que funciona.

- Eu só quero ficar em paz. Não sei porque, mas não estou em clima para festas.

- Este é seu problema! - A garota colocou as mãos na cintura e olhou para ele, que apenas retribuiu o olhar apesar de estar incomodado com a intensidade que ele tinha. - Você sempre está querendo ficar em paz. Nunca está afim de fazer nada fora da sua zona de conforto.

- Cathrin, eu faço várias coisas fora da minha zona de conforto. Mas hoje, em especial, não estou afim de entrar em um lugar escuro cheio de gente que eu não conheço e sair às quatro da madrugada surdo de um ouvido.

- A é? Então me dá exemplo de uma coisa que você tenha feito nos últimos meses saindo da sua zona de conforto?

Ele franziu a sobrancelha. Ela tinha mesmo tido a cara de pau de fazer essa pergunta?

Ele poderia citar vários jogos em competições que tinha estreado. Ou talvez naquela própria viagem a qual ele havia saído de seu país completamente sozinho apenas para ver a amiga. Julian não lidava muito bem com momentos em que tinha que ficar sozinho, por mais que morasse sozinho e preferisse ficar no seu canto.

Mas ele ficou olhando para ela. Em algum momento sentiu borboletas no estômago e se odiou por isso. Abriu a boca para falar algo mas não saiu nenhum som.

Cathrin olhou para o lado e mordeu o lábio. Claramente incomodada com a falta de palavras dele e reafirmando tudo que ela havia dito. Logo mais o ano começaria e eles virariam ali, no meio da rua, sem nenhuma comemoração especial. Apenas seria meia noite e 2016 ficaria para trás.

Julian Brandt respirou fundo. Havia muito tempo que ele queria fazer isso fora da meia noite de um ano para o outro, e se isso não provasse a Cathrin que ele queria sair da sua zona de conforto, não sabia o que mais provaria.

Rapidamente andou até a garota e segurou seu rosto entre as próprias mãos. Ela entreabriu os lábios surpresa com a atitude do garoto. Julian chocou seus lábios nos de Cathrin.

Aquele era um beijo diferente do tradicional. Primeiro porque não havia sido a meia noite. Segundo, porque ele sentiu algo que não sentia antes: borboletas no estômago que não pareciam querer ir embora tão cedo.

Ela o puxou para mais perto com uma mão em sua cintura e a outra em seu pescoço. Sentia o toque dele de uma forma aveludada, carinhosa. Não queria que aquele beijo terminasse pois tinha medo das consequências que ele traria.

Em algum momento eles precisaram de ar. Brandt se afastou aos poucos, deixando mais perguntas do que respostas entre eles.

Nenhum dos dois soube o que falar. Ainda não era meia noite. Aquilo não era programado. Ela havia perdido todo e qualquer argumento sobre a sua zona de conforto e ele só queria entender o porque havia feito aquilo.

Sem falar nenhuma palavra, ele foi se afastando aos poucos, indo em direção a rua que o levaria para o hotel. E mesmo sem tirar os olhos dos de Cathrin, sabia que algo tinha mudado. Não tinha como tudo continuar igual.

Ela se virou primeiro, voltando para a fila na qual ele a tinha abandonado. Julian não queria admitir mas se sentia culpado. Quebraram uma tradição que já durava oito anos. E não havia nada que pudesse fazer para corrigir isso.

xoxo

Stay | Julian BrandtOnde histórias criam vida. Descubra agora