O aeroporto de Bremen estava vazio. A família Brandt esperava o primogênito com uma faixa de boas vindas e feliz ano novo. Julian nunca entendeu essa mania de fazer tanta festa.
Jannis o ajudou com a pequena bagagem e todos se espremeram no carro em direção à casa. No rádio tocava uma música do Linkin Park que fez Julian lembrar de Cathrin mais uma vez. Durante o voo a única coisa que ele conseguira pensar fora ela. Se durante todos aqueles anos dos quais eles só se beijavam no ano novo, não tinha uma desculpa por trás, um medo de admitir qualquer coisa.
Sua família queria saber como tinha sido Londres. Ele se limitou a contar os passeios que tinha feito sozinho: a ida ao Big Ben, pequeno passeio na London Eye, Palácio de Buckingham e o Museu de Londres. Foram apenas cinco dias que ele estivera na capital inglesa, mas o suficiente para bagunçar toda a sua vida.
- Jule, quando você precisa voltar para Leverkusen? - Jannis foi o primeiro a levantar a dúvida. Eles sempre gostavam quando Julian estava em casa. As coisas pareciam fluir melhor, mas entendiam suas ausências. Ele estava indo atrás do seu sonho. Ou melhor, vivendo o sonho.
- Na semana que vem.
- Então teremos tempo de rodar aqueles vídeos.
- Estava contando com isso.
Os dois mais velhos da família Brandt se abraçaram. Julian estava feliz de estar em casa. Ali era o lugar que ele podia ser ele mesmo que não iriam julgá-lo. Sua família o entendia e Jannis era o melhor amigo que poderia ter, mesmo sendo alguns anos mais novo.
Julian Brandt gostava de ter o seu próprio espaço. Seu quarto era arrumado de uma forma metódica onde os anos passavam mas a gaveta de cuecas ainda era a mesma, seus livros da escola estavam na mesma sequência na prateleira e ele ainda tinha aqueles CDs com as bandas que faziam sucesso em 2004. Alguns deles que Cathrin havia deixado ali há alguns anos atrás.
A roupa de cama também era a mesma. Ele não se envergonhava de chegar no quarto e sua colcha com desenhos do espaço ainda existir. Não era como se ele fosse trazer algum dos seus colegas de time para Bremen. Muito menos alguma garota.
Naquele momento a única garota que ele levaria para casa, estava em Londres. E era justamente a mesma que tinha lhe dado de presente alguns dos bonecos de super heróis que ficava na prateleira em cima da cama. Era a mesma que poucas vezes entrara em casa, porque sua mãe nunca gostara dela, nem quando eles eram crianças e Cathrin ainda não conhecia delineador.
Ele se jogou na cama só querendo descansar. À noite sua mãe faria um jantar e ele não poderia sair da mesa enquanto todos não tivessem acabado e o sono começava a bater depois de uma noite mal dormida.
A noite de ano novo.
A noite que deveria ter sido especial e a verdade tinha se tornado uma bagunça.
Brandt pegou o ipad dele na mochila preta de tachinhas, também presente de Cath, e abriu a netflix. Talvez começar a assistir Strangers Things fosse uma ideia, eram apenas 8 episódios e dava para terminar antes de voltar a Leverkusen.
Em algum momento entre o episódio 2 e 3, ele adormeceu.
...
Ao ver Julian se afastar no taxi, Cathrin deixou que as lágrimas caíssem. Ela sempre foi contra demonstrar emoções e odiava chorar. Acreditava que precisava ser forte para enfrentar o mundo e sentimentos a fazia ser fraca.
Mas naquele momento ela não teve nenhum controle. As pessoas ao redor a olhava com cara estranha, uma menina com a maquiagem toda borrada, as roupas escuras da noite anterior. Ela estava um caco e não sabia muito bem o que fazer.
Cath voltou para casa andando. Não fazia ideia de onde estava seu celular e sabia que provavelmente levaria uma bronca da mãe quando contasse que perdera o aparelho. Era o terceiro desde que se mudara para Londres em agosto.
Seu pequeno loft estava gelado. O aquecedor deveria estar estragado de novo. A louça suja na pia mostrava seu total descaso por arrumações. Sua cama ainda estava toda abarrotada com os lençóis da última noite que havia dormido em casa, e ela nem lembrava quando fora.
Geralmente ela aproveitava o período de férias para voltar para casa na Alemanha, mas naquele ano ela só queria distância da família. Estava tão acostumada a ficar sozinha que quando voltava só sabia ficar irritada e brigar com todos.
Com todo mundo menos Julian Brandt. Ele era a único que não a deixava irritada, pelo contrário, ele a entendia. Mas ela não poderia permitir que ele controlasse sua vida, mesmo que fosse ela quem projetasse essa imagem nele.
Pegou seu ipod guardado na gaveta do móvel de cabeceira e o conectou no amplificador. "Star High" do Our Last Night começou a tocar no volume máximo. Era incrível como aquela música se encaixava na sua vida naquele momento.
Cathrin começou a cantar junto com a banda enquanto abria uma garrafa de cerveja. Sua geladeira tinha apenas cervejas e pizza congelada. Seu estilo de vida londrino era completamente diferente do que ela tinha imaginado. Aos poucos ela estava se tornando apenas uma imagem do que fora um dia. E ninguém saberia disso.
- Trying to forget you babe I fall back down Gotta stay high all my life To forget I'm missing you.
xoxo
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Stay | Julian Brandt
Short StoryA vida é compostas por tradições. Algumas são herdadas dos nossos pais, outras, são criadas por nós mesmos. Essas tradições tendem a manter a vida em equilíbrio. Mesmo com tantas mudanças, essas tradições são nosso porto seguro. Mas o que acontece s...