Era uma noite fria. Londres não decepcionava quando se tratava de inverno. Julian Brandt fugiu para aquela cidade que tanto o renovava. De vez em quando ele gostava de fazer viagens sozinho. Talvez por sempre estar na companhia dos seus colegas de time ou seus irmãos, esses escapes solitários o ajudava a pensar. Geralmente seu destino era Espanha ou Suíça, mas Londres era algo especial para ele.
Agora ele tinha 20 anos. Sorriu ao lembrar desse fato. Para alguns isso não tinha relevância, para ele era como se alguém tivesse dando um banho de água fria. Não poderia mais agir como um garoto. Agora era adulto.
Cômico pensar nisso. Adulto. Ele mal conseguia cuidar de si mesmo. Havia aprendido muito com o futebol, mas ainda se sentia uma criança perto de outros jogadores. Há alguns meses havia feito a sua estreia pela seleção principal da Alemanha, havia ganhado uma medalha de prata para seu país nas Olimpíadas Rio 2016, mas isso não significava que ele se sentia mais maduro.
Havia sido um bom ano. Ano novo fazia isso com ele. Uma pequena retrospectiva mental de tudo que tinha acontecido até ali enquanto andava na fria capital inglesa. Ia para o seu pub favorito. Iria ter um show cover de uma das suas bandas favoritas. Música, cerveja e frio. Melhor combinação para uma mente perturbada.
Abriu a porta do estabelecimento e sentiu o ambiente quente que contrastava com a temperatura da rua. O som já lhe agradava. A banda ainda não tinha começado a tocar, mas era possível escutar All Time Low saindo das caixas de som. Se dirigiu ao balcão e pediu sua tradicional cerveja. Aquela noite era dele e de ninguém mais.
Logo uma garota de cabelos loiros sentou ao seu lado. Ela não media mais do que 1,60. Cathrin Feller sua amiga de infância. Aquela que havia compartilhado todos os seus sonhos. Aquela que havia estado ao seu lado até o último verão, quando ela resolveu trocar as ruas de Bremen pela congelante capital inglesa. E também o motivo pelo qual Brandt tinha aprendido a amar Londres.
A garota vestia uma meia calça preta, uma saia rodada e uma blusa preta na qual ele tinha certeza que ela sentiria frio se saíssem daquele lugar. Mas ele conhecia Cathrin, ela nunca tinha se importado com o frio.
- Você precisa começar a sair da sua zona de conforto Julian.
- Olá para você também Cathrin. E de onde está vindo esse comentário?
- Você está em Londres, mas se recusa a conhecer outros lugares.
Ele arqueou uma sobrancelha concordando. Sempre visitava a cidade. Os avós de Cathrin moravam em Wembley, então ele estava acostumado a visitar a Inglaterra com a amiga. Aquela era a sua primeira viagem sozinho ao país, e, mesmo que tivesse voado sozinho da alemanha, Cath não o deixaria só.
Desde que Cathrin havia se mudado eles não tinham se visto. Ele não tinha tido folga dos jogos e ela tinha a sua faculdade de artes. Mas era tradição dos dois passarem o ano novo juntos. O primeiro beijo do ano sempre tinha que ser um do outro, só assim para terem sorte. Era uma tradição boba que eles tinham desde que tinham feito doze anos. Jamais se beijaram fora da noite de ano novo.
Isso já tinha dado alguns problemas quando da vez em que Julian estava namorado e a garota viu os dois se beijando em uma festa na casa de Cathrin. Eles tentaram explicar para a menina que era apenas uma tradição, mas a verdade era que ele ficou aliviado por acabar com o relacionamento ali. Hoje, ele nem sequer lembrava o nome da menina.
- Panda, o que você acha de encerrarmos o ano de uma forma diferente? - Ele olhou para a amiga sem entender o que ela queria dizer. E sempre que ela usava seu apelido, ele já poderia esperar treta. - Vamos passar a noite entrando nas principais festas de Londres, beijando o maior número de estranhos possíveis.
- Cath, não sei se eu to muito afim não. - Ele encarou a bebida e sacudiu a cabeça. Seu plano era passar a noite naquele pub, escutando as músicas e trocando umas ideias com a amiga.
- Fala sério! Justo neste ano você não quer celebrar? Olha, se você não está animado com o fato de que você está jogando pela seleção principal da Alemanha, eu estou. Fora que também tenho meus motivos para celebrar.
Ele finalmente olhou para ela. Seu olhar pedindo que ela explicasse melhor. Julian Brandt sempre foi de economizar palavras. Preferia ficar calado sempre que podia. Cathrin Feller conhecia o amigo melhor do que ninguém, e sabia interpretar todas as suas expressões faciais.
- Eu consegui um emprego no Britsh Museum.
Julian quase engasgou com a cerveja que levava aos lábios.
- O que? Mas porra, isso é muito foda! Parabéns pirralha. - Abraçou a amiga que tratou de brigar com ele.
- Vai se foder! Só porque sou cinco meses mais nova que você, eu sou pirralha? Se enxerga garoto.
Brandt riu. Como ele sentia saudades da melhor amiga.
- Tá bom. Podemos ir. Mas, não posso beber demais. Meu voo de volta é bem cedo amanhã.
- Por que você marca um voo de madrugada pós festa?
- Meu irmão quer aproveitar os últimos dias de recesso no projeto dele.
- Se o projeto é dele, porque precisa de você?
Ele deu de ombros.
- É alguma coisa para o canal do youtube. Sempre que eu participo dos vídeos eles ganham mais views. Jannis está apenas no início desse projeto, é fundamental essa propaganda extra.
Cathrin se deu por satisfeita. Pagou a conta e puxou Julian pela mão em direção a fria noite de ano novo londrina.
xoxo
VOCÊ ESTÁ LENDO
Stay | Julian Brandt
Historia CortaA vida é compostas por tradições. Algumas são herdadas dos nossos pais, outras, são criadas por nós mesmos. Essas tradições tendem a manter a vida em equilíbrio. Mesmo com tantas mudanças, essas tradições são nosso porto seguro. Mas o que acontece s...