Don't want to close my eyes I don't want to fall asleep

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Cathrin não tinha pensado muito ao pegar o avião para a Espanha. Eles ficaram três meses sem conversar e isso havia sido um recorde, a última vez havia sido quando Cath foi para Disney com sua família passar quinze dias e ela não teve como levar o celular. Na época não existiam smartphones e Julian teve que se contentar em esperar a amiga voltar.

Mas naquela época tinha sido por um bom motivo. Agora as coisas eram diferentes. Eles não eram mais crianças e as coisas não eram tão simples. Julian ficou sem reação ao ver Cathrin na arquibancada. Ele lembrava quando tinha dado aquela camisa para ela, ainda no seu primeiro ano do time. Cath havia dito que jamais usaria aquela blusa, estragaria todos os looks que ela poderia imaginar, no entanto, naquele momento, ela nunca pareceu tão linda aos olhos de Jule.

Eles ainda estavam separados pelas grades, mas ele ficou parado no corredor sem saber o que fazer. Queria ir até ela, mas e ai? O que dizer? O que fazer? Ele não fazia ideia do que se passava na cabeça de Cath mas a presença dela ali deveria ser um bom sinal.

- Brandt, você vai ficar parado aí? - Marlon Frey, um dos seus colegas de time, tentava passar no corredor onde Jule bloqueava a passagem.

- Desculpa. - Julian chegou para o lado e, ao voltar o olhar para a arquibancada, Cath não estava mais ali. Será que ele estava ficando louco e tinha alucinado com a imagem da garota?

Ele sacudiu a cabeça e seguiu até o vestiário. Nunca demorou tanto em um banho. Não sabia o que era pior: ter perdido o jogo ou estar imaginando Cathrin Feller na arquibancada.

Claro que não seria ela. Cath jamais usaria aquela camiseta.

Julian sentiu seu nariz formigar, indícios de que queria começar a chorar. Mas ele engoliu o choro porque não queria dar explicações, já bastava o nariz que com certeza estaria vermelho.

Ele saiu do banho enrolado na toalha e se trocou sem olhar para o lado. Estava dentro da sua bolha e qualquer um que olhasse para ele teria certeza que era melhor deixá-lo quieto.

Era hora de voltar para o hotel onde ficariam até a hora do voo na manhã seguinte. Julian colocou os fones de ouvido e, cabisbaixo, entrou no ônibus. Ele não sabia se tinha dormido ou se o trânsito depois do jogo estava melhor, mas parecia que o trajeto de volta tinha sido mais rápido do que o de ida.

Julian Brandt gostava da Espanha, mas ele odiava Madrid. Não sabia explicar porque tomara antipatia com aquela cidade, mas ela estava longe de estar na lista de favoritas dele.

O clima no ônibus era pesado. Todo mundo estava cansado e decepcionado. Sabiam que era um jogo difícil mas ainda assim tinham entrado buscando uma classificação. Brandt às vezes se frustrava com essa rotina do Bayer Leverkusen. Às vezes ele pensava que queria mais. Mas ele também sabia que títulos não era tudo quando se tratava de futebol.

O técnico avisou que sairiam às 7 na manhã seguinte e liberou para que todos fossem para os quartos. Julian colocou a mochila nos ombros e desceu do ônibus. Ele já ia passar direto pela recepção quando percebeu que não era uma miragem. Ele ainda não estava ficando louco.

Cathrin Feller estava parada na porta do hotel onde provavelmente tinha sido barrada por algum segurança por não ter credencial. Julian se aproximou dela e os dois ficaram se olhando por um bom tempo, sem dizer uma palavra.

Ele queria dizer que tinha sentido a falta dela. Ela queria dizer que tinha sido idiota. Nenhum dos dois queria admitir o que de fato sentiam.

Ficaram naquele jogo sem saber quem começaria a falar até que ela resolveu começar.

- Eu fui atrás de você em Londres.

- Eu sei.

- Eu não deveria ter demorado tanto.

- Eu sei.

- Você não vai falar mais do que "eu sei"?

Julian sorriu com a indagação tão típica de Cath.

- O que você quer que eu fale?

- Qualquer coisa! - Ela deu de ombros e ele mordeu o lábio. Iria continuar mais um pouco com aquele jogo.

- Qualquer coisa.

- JULIAN!

- Cathrin.

Os dois começaram a gargalhar como se fossem duas crianças brincando no parque de diversões.

- Você é um idiota sabia? - Ela disse ainda rindo enquanto deu um soco de leve no braço dele.

- Eu sei.

- Para! - Mais uma crise de riso vindo dos dois.

Eles sabiam que tinham muitas coisas importantes para conversar mas, naquele momento, eles poderiam usar uma trégua. Poderiam aproveitar um pouco de paz enquanto matavam a saudade de meses sem se falar.

- Você quer subir? - Ele apontou para a entrada do hotel.

- Você não vai se meter em nenhuma encrenca por isso?

- Nah, to no quarto sozinho. Acho que ninguém queria aturar o meu mal humor.

Julian abraçou Cathrin pelos ombros e ela passou o braço pela cintura dele. Abraçados, subiram os elevadores até o quarto de Julian no décimo andar. 

Stay | Julian BrandtOnde histórias criam vida. Descubra agora