Brandt acordou às 3 da manhã e perdeu o sono. Ele odiava quando isso acontecia porque significava um treino ruim no dia seguinte. Julian gostava de dar o máximo de si em tudo que fazia e, se algo o impedisse disso, ele ficava bem chateado.
Seu celular vibrou com uma mensagem. O barulho parecia muito maior do que de fato era no silêncio do seu apartamento. Mas o susto ao ler o nome de quem mandava mensagem àquela hora foi maior do que a raiva de ter sido acordado de madrugada.
Cath: Você está aí?
Fazia meses que Jule não tinha notícias de Cathrin. Ele imaginou que depois daquele beijo, ela nunca mais fosse querer falar com ele. Não entendia como aquilo poderia ser diferente dos beijos na virada do ano. Ou melhor, fingia que não entendia.
Julian Brandt sabia muito bem o que aquilo significava para ele e Cathrin. Os dois haviam quebrado uma tradição que havia sido criada justamente para impedi-los de estragar a amizade.
Mas no fundo os dois estavam apenas enganando a si mesmos. Julian Brandt gostava de Cathrin Feller desde que era criança. Ele a conhecia melhor do que ninguém, e, se tinha uma coisa que ele tinha certeza, era que Cathrin nunca tinha sido apenas uma amiga.
Brandt sentira ciúmes de todos os namorados que a menina tinha tido. Ele nunca achava que alguém seria o suficiente para ela mas também se culpava por nunca ter feito nada para mostrá-la do contrário.
Eles eram amigos.
Ou pelo menos era a mentira que contavam repetidas vezes para si mesmos.
Jule: Infelizmente estou.
Cath: Meu Deus, eu não te acordei né?
Cath: me desculpa. Esqueci completamente do horário.
Jule: hahaha
Jule: tudo bem. Meu celular está no não perturbe. Nem sei porque acordei.
Cathrin sentiu que tinha algo errado. Não só em toda aquela situação, mas algo errado com ele. Julian nunca era seco para respondê-la e ele raramente perdia o sono.
Cath: Está tudo bem?
Jule: Está sim. Muito coisa na cabeça apenas.
E ali estava. O código dele para eu não quero falar sobre isso. E ela odiava saber que o motivo do qual ele não queria conversar era ela. Cathrin Feller havia dado um gelo de dois meses em Julian Brandt. Agora era a vez dele de retribuir.
Mas diferente dela, o gelo dele não era simplesmente sumir, ele a deixava de fora das coisas que faziam questão de compartilharem um com o outro.
Cath: Espero que as coisas se resolvam.
Jule: Elas vão sim.
Jule: Cath, o sono chegou. Amanhã acordo cedo. Fica bem tá?
Cath: Você também.
Ela queria fazer mais sobre tudo isso que estava acontecendo, mas não tinha ideia de por onde começar. Se levantou olhando o relógio: era 2:20. Resolveu fazer um chá e fingir para si mesma que estava tudo bem.
Londres nunca tinha tido uma madrugada tão gelada. Ou talvez, fosse apenas como Cathrin se sentia.
...
15 de Março. Julian Brandt ainda não estava conversando com Cathrin Feller. Ela sempre mandava alguma mensagem querendo notícias dele, mas ele sempre era superficial. Ele tinha mais coisas com o que se preocupar do que com a amiga.
Naquele dia ele estava na Espanha. O jogo de volta da Champions League. Precisavam ganhar com uma diferença de dois gols contra o Atlético de Madrid. E, apesar de todas as estatísticas, Julian estava confiante.
Ele entrou em campo como titular. Como sempre, segurando a manga da camisa de manga comprida. Era uma coisa singela que ele sempre fazia quando estava nervoso. Uma mania infantil mas que ele não conseguia desapegar.
Quando ele era criança, ele tinha diversos ataques de raiva. Tinha vontade de socar paredes, mesas e inclusive chutar bolas de futebol contra janelas de vidro. Seus pais, preocupados com a atitude agressiva, o levou em um psicólogo que o orientou a sempre jogar sentimentos negativos nas palmas das mãos. Desde então, ele havia melhorado, mas os ataques de raiva passaram a ser pequenas crises de ansiedade, e da mesma forma que havia feito quando pequeno, também colocava esses sentimentos nas mãos.
O hino da Champions sempre o deixava animado. Era uma das suas músicas preferidas, se é que poderia chamar aquilo de música, e ele estava feliz de poder jogar a competição naquele ano. Observou o estádio lotado. Todos aqueles torcedores do seu rival. Julian Brandt estava com medo. Medo de uma derrota. Medo de decepcionar.
Ele odiava quando perdia um jogo, sempre se perguntando o que poderia ter feito diferente. Mas com o tempo estava aprendendo a ter mais paciência. Não era todo dia que se ganhava, mas tinha dias que isso acontecia. E ele só poderia aproveitar cada um desse segundos de vitória.
Mas naquela noite em março, era um dia dos quais o resultado não seria positivo para o Bayer Leverkusen. Julian Brandt fora substituído no segundo tempo, e assistiu do banco o time empatar o jogo contra o Atlético de Madrid.
O resultado isolado do jogo poderia até ser favorável: Eles haviam segurado um time grande dentro da própria casa. Mas, como era o jogo de volta, significava que o Leverkusen tinha sido eliminado da Champions League.
Saiu cabisbaixo do campo em direção ao vestiário, mas antes de entrar, escutou seu nome sendo chamado. Era Cathrin vestida com uma camisa do Leverkusen e um sorriso triste no rosto.
Era a primeira vez que eles se viam em três meses.
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Stay | Julian Brandt
Historia CortaA vida é compostas por tradições. Algumas são herdadas dos nossos pais, outras, são criadas por nós mesmos. Essas tradições tendem a manter a vida em equilíbrio. Mesmo com tantas mudanças, essas tradições são nosso porto seguro. Mas o que acontece s...