XII

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Molly já estava acordada quando cheguei no quarto, arrumada para sair. Por mais que nosso vôo fosse apenas às três da tarde, ela já parecia ter deixado tudo pronto.

Assim que entrei no quarto ela me olhou como se me perguntasse onde eu havia ido e eu apenas dei de ombros, não querendo revelar que quase tive de implorar pela vida dela a Azriel e que havia um vampiro perigoso atrás dela por algum motivo que eu não conseguia entender.

Ela não parecia querer questionar a falta de informação e apenas sentou em sua cama, me encarando inocentemente.

"Temos nove horas antes do vôo... Bem, oito, já que temos que chegar uma hora antes para despachar as malas e fazer o check-in... O que vamos fazer?"

Olhei para ela, me perguntando a mesma coisa, e logo tive uma ideia. O estresse de ter que me encontrar com Azriel havia me feito esquecer que Ezekiel morava em Londres. Eu não havia avisado a ele de minha vinda, mas era provável que algum dos vampiros de Azriel já tivesse espalhado a notícia de que eu estava nas redondezas.

Fui até minha mala e peguei meu celular, mandando uma mensagem para Ezekiel e perguntando se ele estava ocupado. Não demorou muito para que ele respondesse e confirmasse que estava livre naquele dia.

Dei um sorriso, sentindo que talvez agora eu teria alguma paz por estar com um amigo. Sorri para Molly, vendo-a ficar confusa, e peguei as chaves do quarto junto com um casaco para cobrir meus braços nus.

"Primeiramente, você precisa de um café da manhã. Vamos para Londres e logo em seguida nos encontraremos com Ezekiel." o nome dele fez seu rosto se iluminar e um sorriso aparecer em seus lábios "Voltamos para pegar as malas depois do almoço."

"Ezekiel está aqui?"

"Ele mora aqui. Infelizmente eu havia esquecido disso..." falei e fiz uma careta "Foram alguns os três dias mais longos da minha vida, não tive cabeça para me lembrar."

Molly assentiu, calçando os sapatos e me seguindo até a porta. Descemos as escadas do hotel e saímos conversando animadas. Assim que passamos pelas portas, pude ver algumas pessoas em volta de algo no estacionamento. Arregalei os olhos, lembrando da briga com Enoch - e dos estragos que ela havia causado - e me mantive caminhando, puxando Molly levemente para que ela não suspeitasse de nada.

Não demorou para que um táxi passasse e subissemos nele para irmos até Londres. Apesar do tempo fechado, talvez aquele fosse um dia calmo. Precisava de calma desde que Renée havia morrido, mas as circunstâncias não permitiram.

Quem sabe aquele não seria apenas um dia londrino normal? Era tudo que eu queria.

Molly comia seu café da manhã calmamente enquanto eu apenas olhava em volta para as ruas e casas que nos cercavam. Eu conhecia aquele lugar, não era longe do que um dia foi minha casa em Londres. Se eu me esforçasse o suficiente eu ainda podia sentir o cheiro forte e fedorento das ruas e ouvir o barulho dos cascos dos cavalos nas estradas de terra, que agora eram substituídos por barulhos de motores e pessoas com saltos andandos nas calçadas de concreto.

Parte de mim gostava de pensar que aquilo tudo era apenas um sonho, que eu estava com uma forte febre e dormia em minha cama com um pano molhado sobre minha cabeça, e tudo o que eu via eram devaneios de uma mente doente. Gostava de pensar que iria acordar a qualquer momento, assustada, vendo minha mãe cuidando de mim e me dizendo que havia sido apenas um pesadelo. Eu contaria a ela sobre as carruagens de metal que andavam sem cavalos, sobre os curiosos aparelhos que eram usados para falar com as pessoas que estavam em outros lugares do mundo, e inclusive sobre as deliciosas comidas de meu sonho. Ela sorriria para mim, gentilmente como sempre, e diria como eu era especial por ter uma mente tão fértil, mas que aquilo eram bobagens e que eu deveria estar mais preocupada em achar um bom partido do que em comidas fantasiosas.

Races - Livro 1: Vampiros (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora