Capítulo 4 - Esperança

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Agatherine Wytha se orgulhava muito de aprender rapidamente as coisas. Ela conhecia bem mais do que todos ao seu redor apenas por perceber o ambiente, às vezes por escutar ou ver algo. Ela também se orgulhava muito de ser mais forte do que pensavam, de conseguir erguer sacos de farinha por sobre o ombro e ajudar o pai a descarregar a carroça. Também tinha muito orgulho em saber ler e escrever. Precariamente, mas ainda podia acompanhar os letreiros da cidade. No entanto, ela nunca se orgulhara de algo que não conseguia fazer, ou que sabia que não tinha sido sua culpa. Por isso, quando os olhos inquisidores de Mestre Zofie pararam sobre ela, Agathe encolheu-se e se intimidou.

- Alguém abriu a porta por fora, não fui eu. - disse, o que para ela era a absoluta verdade.

Zofie cruzou os braços, ainda não convencida da explicação. Ela parecia farejar algo no ar, algo que nem mesmo Agathe saberia o que era. E Agathe sempre tinha uma sugestão para tudo.

- Na verdade - Nichael se adiantou em seu lugar - Eu estava vendo do lado de fora. E não havia ninguém abrindo a porta. Asseguro que estavam todos longes, mas ávidos para saber o que acontecia no gabinete do Diretor.

A moura estalou a língua.

- Agora me diga a verdade - Zofie grunhiu por sobre a mesa e se inclinou, apontando um dedo cruelmente dourado para ela. - Eu odeio mentirosos.

- Não estou mentindo! - a menina se exasperou, voltando-se para o pai em busca de apoio - Diga a eles que não sei nada sobre isso!

O velho ruivo pigarreou, confuso e sem articular palavras, ele olhava para todos na sala, ainda não compreendendo o que fazia ali ou o que Zofie e Nichael estavam falando para atormentar sua filha. Só poderia ser algo ruim.

Defensivamente, ele passou um braço por sobre o pescoço da garota e a puxou para si. Era um pai, sim senhor, e agiria como tal.

- Acalme-se, por favor - Nichael se aproximou de ambos e se ajoelhou em frente aos orientais. Ele era um rapaz alto, tipicamente solar, mesmo com apenas quinze anos já passara aquele oriental e Zofie. Agathe era apenas uma criança perto dele. - Não estamos culpando-a de nada, menininha. Só estamos curiosos, todos nesta Academia são muito curiosos.

- Eu estou dizendo! - ela choramingou para ele, os olhos marejados novamente. - Não sei de nada disso. Só queria fugir.

Nichael se levantou e encarou pacientemente a irmã. Zofie era bruta demais para arrancar informações de pessoas tão simples e confusas, eles não conseguiriam cativar a garota e seu pai se os tratassem como mentirosos quando juravam dizer a verdade. Não havia crime nenhum em usar o poder do éter sem conhecimento. Na verdade, se fosse um crime, Zofie estaria condenada a prisão perpétua.

- Eu acredito que ela esteja dizendo a verdade. - disse, calmamente. - Não me parece que alguém tenha ensinado a ela sobre isso, ou sobre qualquer coisa de Linguagem. Ela é como você, Zofie.

Mas a irmã era orgulhosa e arrogante demais para aceitar facilmente aquela hipótese. Ter alguém tão intuitivo e poderoso quanto ela, em uma idade mais tenra e com aparentemente mais apetite por conhecimento? Talvez não devessem permitir que ela desenvolvesse a habilidade.

No entanto, isso significaria permitir que continuasse a usar seus sentimentos para provocar efeitos no mundo real.

Seria imperdoável se permitissem.

- Diga-me seu nome, menina. - ela exigiu, sem acrescentar um "por favor" no final da frase. Se a ruiva havia notado, não transpareceu.

- Agatherine Wytha, senhora.

Línguas de Fogo - Crônicas de ÉterOnde histórias criam vida. Descubra agora